IGAS aponta falhas e demora do cuidador no caso da morte de idosa durante apagão

“O retardamento na chamada do 112 e as fragilidades do sistema de comunicações de emergência, poderão ter comprometido a possibilidade de uma intervenção médica mais eficaz”, lê-se no documento da IGAS.


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A morte em casa, durante o apagão em abril, de uma idosa terá resultado da demora do cuidador em responder aos alarmes do equipamento, à ativação tardia do socorro e a falhas sistémicas de comunicação, concluiu a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).

A investigação da IGAS analisou o caso de Maria Amália Freitas, de 78 anos, que morreu durante a falha de energia ocorrida em 28 de abril, para apurar se a atuação do INEM tinha sido feita “com prontidão ou num tempo considerado aceitável”.

“A análise global dos factos evidencia que, embora os meios de emergência médica tenham atuado com profissionalismo e dentro dos parâmetros operacionais disponíveis, o intervalo de tempo na ativação do sistema de socorro e na resposta por parte do cuidador perante os alarmes do equipamento, associado às falhas sistémicas de comunicação, terá contribuído para o resultado final”, lê-se no documento da IGAS, citado pela agência Lusa.

O cuidador viria a revelar que a mãe terá morrido cerca de 10 minutos depois de ter ligado para o 112, ainda antes de os bombeiros chegarem ao local, sendo que terá dito antes que quando pediu socorro o ventilador registava metade da carga, informação que seria desmentida pelos dados do equipamento disponibilizados pela empresa fornecedora.

Após analisar todos os registos e esclarecimentos disponibilizados pelo INEM, a IGAS verificou que, apesar de todos os constrangimentos excecionais verificados no dia do apagão, “foram seguidos os procedimentos habituais, os quais se afiguram corretos e eficazes na atuação do INEM” relativamente à prontidão no atendimento da utente, ao atendimento da chamada do cuidador e no acionamento de meios de socorro.

“A conjugação de uma situação clínica de extrema dependência ventilatória, a ausência de redundância energética mais robusta neste quadro de excecionalidade de quebra de energia em termos de duração e de abrangência territorial, o retardamento na chamada do 112 e as fragilidades do sistema de comunicações de emergência, poderão ter comprometido a possibilidade de uma intervenção médica mais eficaz”, lê-se no documento da IGAS.

Por outro lado, sublinha que “a salvaguarda da vida de doentes ventilados no domicílio não pode assentar apenas na adequação técnica do equipamento, dependendo também da robustez dos sistemas de vigilância, da preparação dos cuidadores e da prontidão das comunicações de emergência”.

Neste sentido, a IGAS faz duas recomendações, que visam corrigir os fatores identificados como críticos no relatório.

Ao INEM, propõe a introdução de critérios reforçados na triagem do CODU, para priorizar rapidamente situações de risco vital associadas à interrupção de energia em dispositivos de suporte ventilatório, bem como o reforço da interoperabilidade das comunicações operacionais.

À DGS, recomenda-se a elaboração ou revisão de uma Norma de Orientação Técnica específica para ventilação domiciliária, que incorpore critérios mínimos de segurança energética, planos de contingência individuais, obrigações das empresas fornecedoras, educação dos cuidadores e registo clínico do risco vital.


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