O modelo diplomático de Trump

A diplomacia convencional trabalha para construir relações estáveis e previsíveis e evita surpresas e ameaças. O modelo de Trump vira estas convenções do avesso: introduz choque, incerteza e ameaças – militares e económicas.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desenvolveu um modelo claro para o exercício da diplomacia. Começa por fazer exigências a outras nações e depois apela a negociações. Se as negociações não se realizarem ou não produzirem algum tipo de acordo, o Presidente toma medidas punitivas. Ao mesmo tempo, emite ameaças destinadas a intensificar o processo ou encoraja a ação, elogiando o seu antagonista.

Este modelo foi plenamente demonstrado durante o recente episódio com o Irão. Trump exigiu que o Irão abandonasse o seu programa de armas nucleares, ameaçando com consequências se não o fizesse. Em seguida, encetou negociações indiretas com o Irão, referindo publicamente que as negociações eram promissoras. A certa altura, fixou uma data para a conclusão das negociações e, quando essa data passou, empreendeu uma ação militar dramática.

Está em curso um processo semelhante no que se refere à NATO. Começou por dizer que a NATO não estava a cumprir as suas obrigações militares e que este fracasso transferia o principal fardo para os Estados Unidos. Deixou claro que esta situação não podia continuar, dando a entender que os EUA poderiam retirar-se da aliança se a Europa não pagasse a sua parte no futuro. Realizaram-se negociações exaustivas, pontuadas por avisos periódicos de Trump. Na reunião da NATO da semana passada, os países europeus concordaram em aumentar a sua despesa com a defesa para 5% do Produto Interno Bruto. Trump elogiou os seus parceiros de negociação e deixou claro que os EUA continuam empenhados na NATO.

Em ambos os casos, houve uma exigência radical seguida de um período de negociação e de sinais de vontade de tomar medidas drásticas se as conversações falhassem, ou de reconciliação se as conversações fossem bem sucedidas. No Irão, este processo resultou em ataques aéreos. Com a NATO, resultou em acomodação.

Um padrão semelhante desenvolveu-se nos esforços de Trump para reformular o sistema de comércio global. Primeiro veio o choque de impor tarifas dramaticamente mais elevadas a nível mundial. Depois, mostrou abertura para encetar negociações com cada nação individualmente.

Depois há o caso da Rússia e da Ucrânia. O processo de negociação começou com mais um choque – desta vez para a Ucrânia, quando Washington disse que estava preparado para reduzir, ou mesmo abandonar, o seu apoio a Kiev. Trump procurou então abrir negociações com a Rússia com um desejo impressionante de um acordo à custa da Ucrânia. O objetivo do choque era aliviar as ansiedades da Rússia sobre o seu desempenho na Ucrânia e indicar que os Estados Unidos não iriam tirar partido dessas ansiedades. Na verdade, Washington queria que Moscovo soubesse que estava preparado para oferecer benefícios económicos à Rússia. Trump exigiu conversações para acabar com a guerra. O Presidente russo, Vladimir Putin, aprendeu três coisas com esta primeira investida: que os EUA eram indiferentes ao futuro da Ucrânia, que o fracasso militar de Putin na Ucrânia era inaceitável e que a indiferença de Trump em relação ao futuro da Ucrânia (e a sua hostilidade em relação à NATO) dava a Putin tempo para melhorar a sua posição na Ucrânia. Por outras palavras, Putin não podia permitir que a guerra terminasse com base nos seus escassos sucessos. Considerou a posição dos EUA em relação à NATO (e a ânsia de Trump em chegar a um acordo) como uma oportunidade.

É importante notar que os esforços para acabar com a guerra na Ucrânia se conjugam com as mudanças que estão a ocorrer na NATO. Uma das dimensões da reconciliação de Trump com a aliança é o medo – o medo de Moscovo de que a NATO possa agir contra a Rússia e o medo entre os membros da NATO da agressão russa. Neste sentido, a reconciliação de Trump com a NATO poderia facilmente alterar a dinâmica da guerra na Ucrânia, colocando a Rússia numa posição em que poderia enfrentar uma intervenção unida da NATO ou uma ajuda maciça e coordenada ao seu adversário. A recusa de Putin em negociar o fim da guerra (em parte devido à fragmentação da NATO) foi substituída pela necessidade de considerar o que a NATO, incluindo agora os EUA, irá fazer. Com a recente festa de amor da NATO, Putin pode ser forçado a entrar nas negociações que Trump queria.

Estes são apenas alguns casos, mas são importantes. A diplomacia convencional trabalha para construir relações estáveis e previsíveis entre as nações e evita surpresas e ameaças, considerando-as perturbadoras. O modelo de diplomacia de Trump vira estas convenções do avesso, introduzindo o choque e a incerteza como base da diplomacia e inclui ameaças explícitas e implícitas, tanto militares como económicas, como fundamento da diplomacia. O caso da Rússia e da Ucrânia é ainda incerto e a dimensão económica está ainda na sua fase inicial. Mas pode dizer-se que está a emergir um modelo da abordagem de Trump à diplomacia.

Analista geopolítico e estratega de assuntos internacionais. Chairman da Geopolitical Futures

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Tradução: Gonçalo Nabeiro