Como surgiu a ideia de fazer esta ‘empresa’?
Durante muitos anos, na Costa da Caparica, ouviu-se falar de mortes por afogamento. Dediquei-me algum tempo a tentar perceber o que se passava e percebi que havia uma metodologia de trabalho muito anárquica, ou seja, os nadadores salvadores trabalhavam para os concessionários, e, por consequência, cada um trabalhava à sua maneira, não havia aqui uma voz de ordem, nem uma voz de coordenação. Não trabalhavam de forma integrada. Essa anarquia que existia era um dos fatores contribuía para existirem sempre pelo menos uma morte por afogamento durante a época balnear. Nessa altura criei a associação, em 2009, e desde então até agora tem sido ela que tem estado a coordenar efetivamente os planos integrados. São modelos de segurança, aprovados pela Autoridade Marítima, como sendo o modelo ideal e que garante a segurança das pessoas. Somos os responsáveis pela contratação dos nadadores salvadores e pela coordenação. Coordenamos o seu modus operandis, fazemos aqui a colocação dos meios adicionais, nomeadamente carrinhas – temos a única carrinha neste país que é como se fosse uma autêntica unidade de cuidados intensivos na praia. É uma carrinha que numa situação de paragem cardiorrespiratória tem a mesma função que uma viatura médica de emergência e reanimação. Na Costa da Caparica é necessário que haja esta valência. Estão 130.000 pessoas durante a semana. São 300.000 pessoas ao fim de semana, é uma praia que é visitada por cerca de 8 milhões de pessoas durante a época balnear. Há necessidade de uma resposta extremamente diferenciada. Depois de nós termos criado a associação, ao final do terceiro ano, e já não acontecia há 33 anos na Costa da Caparica, foi o primeiro Verão que não houve mortes por afogamento. Não há uma morte por afogamento na Costa da Caparica desde 2013/2014.
Com a redução de nadadores salvadores por praia não há mais perigos para os utentes?
Pela lei geral, a maioria dos concessionários que tem 200 metros de frente de praia tinha de ter, no mínimo, quatro nadadores salvadores. Com o trabalho integrado há uma redução, autorizada pelo capitão do Porto de Lisboa, com o aval do Instituto Socorros a Náufragos. Como as praias estão todas seguidas, conseguimos que uns nadadores salvadores auxiliem os outros em caso de necessidade, pois têm meios para isso. Caso contrário seria impossível ter os nadadores salvadores pedidos pela lei geral. Mesmo assim é um efetivo que nos obriga a ir buscar fora do país. Porquê? Porque não há nadadores salvadores em Portugal. Fomos nós que iniciámos este projeto de ir contratar nadadores salvadores tanto ao Brasil como à Argentina, neste caso desde há 2 anos.
Como é que eles podem trabalhar em Portugal?
Pedem um visto de trabalho no país deles. Quem faz os contratos são as associações que estão devidamente certificadas pelo Instituo de Socorros a Náufragos, fazem os contratos com os respetivos nadadores salvadores. Eles fazem o pedido de visto nos seus países e por volta de março, abril começam a sair as autorizações dos vistos e eles vêm nessa altura para Portugal. Estão cá durante dez, 15 dias, que é o tempo que temos para lhes dar um upgrade da formação. Eles já são nadadores salvadores, são guarda vidas nos seus países. Eles simplesmente vêm para Portugal e depois têm que fazer uma prova de aptidão. Nós preparamo-los para essas provas.
É o ISN que faz o exame?
Exatamente, mas somos nós, associações e respetivas escolas, que fazemos a preparação.
Vocês ‘servem’ o pacote completo. Vão buscá-los, instalam-nos, mas cobram pela estadia deles.
Cada nadador salvador paga a sua estadia. Vou-lhe dar o exemplo de Troia. Tenho nadadores salvadores em Troia. Tenho nadadores salvadores no Algarve. Troia, por exemplo, dá-me alojamento, por isso eles não pagam nada. Na Costa da Caparica nós não temos alojamento, e vamos conversando com os funcionários, arranjamos alojamento e eles pagam na média de 200 euros por mês. Eles vivem em modelos de camarata.
Alguns deles ficam cá o ano todo a trabalhar em piscinas…
Sim. Esses nadadores salvadores que ficam cá o ano inteiro, iniciam o seu processo de pedido de residência. Dão entrada com o processo, uma das condições que a AIMA tem exigido é que eles estejam coletados, ou seja, com atividade aberta e que, no mínimo, já tenham passado três recibos verdes. Neste momento, posso dizer que 40 nadadores salvadores nossos já foram chamados para a AIMA e já estão a aguardar a atribuição do visto.
Quanto ganha em média, um nadador salvador?
1.500 euros, em média.