O meu objetivo é compreender Donald Trump, o homem, o fenómeno político e o escândalo que com o poder que tem trouxe à cultura dominante na política.
Anatemizar e insultar Trump, dizer que se gosta dele ou se detesta, não ajuda a compreender nem o homem nem o fenómeno.
Donald Trump é simples, se quiserem primário, e, todavia, são muitos os que não conseguem compreender o seu comportamento, saberem o que esperar de alguém assim.
Num mundo em que a realidade dos políticos é apresentada e promovida como complexa, essa simplicidade, essa espontaneidade, confundem e desafiam todos aqueles que se pretendem subtis, sofisticados ou especialistas, e vivem disso. A simplicidade, a espontaneidade são, afinal, a chave para compreender esse líder ‘fora da caixa’, e também são, antes de qualquer outra razão, o que explica o seu êxito eleitoral… e negocial.
Trump detesta a União Europeia e a razão é a corte faustosa e ociosa de Bruxelas, gente inútil e perniciosa, que levou e está a levar a Europa para a decadência e a irrelevância. E nós pagamos (a limpeza que Musk ali faria…). Pagamos a inoperância, a ignorância, a mediocridade de von der Leyen e dos serviçais que arrematou (Costa conhecemos bem e é um indicador).
Donald Trump não deve nada nem precisa de nada da política e por isso a canalha que vive dela, que se alimenta da sua complicação, irrita-o.
O boné (por acaso fabricado na China), que passeia provocadoramente nos salões mais sofisticados da política e dos políticos, é um símbolo expressivo de Trump e da visão que tem daquilo tudo.
A Donald Trump não custa fazer-se entender, nem complica com pormenores e subtilezas o que verdadeiramente interessa e está em causa. Num universo habituado a uma linguagem quase sempre abstrusa e, ele é e gosta de ser como o elefante numa loja de porcelanas.
Podem zombar dele e tomá-lo por um simplório ignorante – o que ele já provou não ser. No seu percurso faz desvios, mas não deixa por isso de ser claro. Tal como explicou num livro seu de 1987: « O meu estilo de negociação é muito simples e direto!».
Donald Trump é um homem de negócios e levou essa mentalidade para a política, Tem poucas convicções, mas as que tem são sólidas e simples: gosta da América e da paz. Tudo o resto é circunstancial. Em face de qualquer situação , faz apenas uma pergunta: o que é que tenho a perder e a ganhar? E que se tramem os princípios e a coerência! Por vezes engana-se e falha, mas marimba-se e safa-se com uma pirueta.
Como é o homem mais poderoso dos Estados Unidos e do mundo, o seu método impõe-se necessariamente a todos. Israel e o Irão acabam de ter essa experiência com o fim da ‘guerra dos doze dias’, tal como os europeus a viveram na cimeira da NATO. E vêm aí mais sucessos. O que os políticos precisam é, talvez, de seguirem o seu exemplo. Muito simplesmente.
A distância entre os universos de Trump e de Xi Jinping é incomensurável, mas o pragmatismo de ambos, o interesse na paz e o horror à guerra que partilham, farão com que se entendam. Ver-se-á.
O mundo e a política ‘descomplexados’ de Donald Trump
Num universo habituado a uma linguagem quase sempre abstrusa e, Trump é e gosta de ser como o elefante numa loja de porcelanas.