Temperaturas extremas: é preciso escolher o caminho certo

Se já não podemos evitar alguns impactos, podemos e devemos trabalhar para que não se tornem catastróficos.

As temperaturas extremas registadas em Portugal esta semana são uma evidência clara das consequências negativas das alterações climáticas. Em Mora, no distrito de Évora, o termómetro chegou aos 46,6ºC, o valor mais alto do ano e um novo recorde para o mês de julho. Beja ultrapassou os 46ºC. No Porto, os 38ºC sentidos já representam um risco sério para a saúde.
Estes números não são abstratos. São a tradução direta de fenómenos que há muito deixaram de ser projeções para um futuro distante e se tornaram uma realidade do tempo em que vivemos. E esta circunstância impõe-nos duas obrigações: continuar a combater as causas das alterações climáticas, mas também investir urgentemente na adaptação às suas consequências, algumas das quais já irreversíveis.
Há poucas semanas, a Agência Internacional de Energia confirmou que, mesmo com todos os compromissos atuais, o mundo falhará o objetivo de limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, como definido no Acordo de Paris. Este é, de facto, um fracasso coletivo. Mas não pode ser uma desculpa para a inação. Se já não podemos evitar alguns impactos, podemos e devemos trabalhar para que não se tornem catastróficos.
É neste contexto que a União Europeia tem de manter a sua ambição. Não apenas como um dever moral, mas como uma escolha estratégica. A liderança climática europeia não pode esmorecer perante a realidade dura das projeções. Pelo contrário, tem de se fortalecer para demonstrar que a transição climática, a aposta em energias e tecnologias limpas, mais do que possível, é desejável. Gera inovação, cria empregos, protege a saúde pública e reforça a segurança energética.
Na COP30, que terá lugar em Belém, no Brasil, dentro de poucos meses, esta liderança europeia será mais necessária do que nunca. Será a primeira COP após o Global Stocktake, onde se confirmará que estamos longe do caminho traçado em Paris. Mas este momento exige que transformemos a frustração em ação, e que insistamos num novo modelo de financiamento climático global, mais justo, mais proporcional e mais eficaz.
Não é aceitável que países que estão entre os maiores emissores globais de dióxido de carbono continuem a recusar contribuir para os fundos climáticos de forma obrigatória. Economias como a China deveriam assumir responsabilidades proporcionais ao seu peso económico e à sua pegada ambiental.
Esta semana, no Parlamento Europeu, demos mais um passo nesse caminho, ao acolhermos vários especialistas na primeira sessão preparatória para a COP30. Foi um momento de diálogo, ambição e visão, que demonstrou, mais uma vez, que a Europa, apesar de todas as dificuldades, continua preparada para liderar.
Portugal enfrenta ondas de calor sucessivas, registando temperaturas históricas neste mês de julho, assim como grande parte da Europa. Mas há uma diferença entre aceitar a tragédia como inevitável ou lutar para que não se torne permanente. Que saibamos escolher o caminho certo.

Eurodeputada PSD