Férias para uns significa mais trabalho para outros, pois é necessário garantir a segurança daqueles que estão em território nacional, sendo, por isso, essencial que a PSP e a GNR reforcem as zonas de veraneio – os agentes e guardas deslocados ou dormem em esquadras ou em quartéis. Por exemplo, todos os polícias destacados para o comando de Faro vão dormir à esquadra de Lagos.
Contudo, a segurança dos veraneantes começa, muitas das vezes, com a preocupação no aluguer de casas, pois as forças policiais recebem muitas queixas de fraudes, aconselhando a população a tomar medidas de prevenção. Se antigamente quem ia de férias, muitas vezes ia uns meses antes ao sítio onde queria alugar uma casa, falando com comerciantes, juntas de freguesia e por aí fora, até conseguir a ‘sua’ casa, hoje muito mudou e o aluguer é feito através de plataformas digitais, havendo, por isso, mais espaço para vigarices.
Curiosamente, a GNR e a PSP têm dados contraditórios, no corrente ano, no que diz respeito às burlas no aluguer de casa de férias. A GNR regista um decréscimo dos números até 23 de junho, contabilizando até então 51 queixas. “A Guarda verificou um decréscimo deste tipo de burlas, fruto na incrementação de alertas e medidas de proteção” adotadas, como disse ao i, por email, o tenente-coronel Carlos Canatário. O total de crimes de burla em aluguer de casas de férias, registados pela GNR, foram 238, em 2022; 214, em 2023; e 178 em 2024.
Já a PSP com uma área urbana muito superior tem outros dados: “Nos últimos três anos, a PSP registou 4.267 crimes de burla por falso arrendamento de bens imóveis. É possível observar uma ligeira subida no número de ocorrências participadas de 2022 para 2023, (+328). Já no ano de 2024, constata-se que o número de ocorrências é superior ao ano de 2022, contudo, ligeiramente inferior ao ano anterior, de 2023, com um total de 1.511 ocorrências participadas (-31)”, disse ao i o subintendente Sérgio Soares. No corrente ano, as contas também não são muito animadoras, já que “ao observar os números do primeiro trimestre de 2025 e comparar os mesmos com o período homólogo de 2024, é possível constatar um aumento de cerca de 25%, o que, em valores absolutos, corresponde a mais 77 denúncias registadas, passando de 313 para 390”, segundo Sérgio Soares.
Copos, droga e roubos
As ocorrências policiais no verão não diferem muito do resto do ano, sendo a condução sob o efeito do álcool o principal ‘crime’ detetado, seguindo-se depois o tráfico de droga e os furtos, roubos e burlas. Se há polícias deslocados para as zonas de veraneio, também outros intervenientes ‘ligados’ ao meio fazem o mesmo percurso: carteiristas, dealers e prostitutas mudam de esquina, e assentam arraiais nos locais onde os outros fazem férias.
Para se adaptar os meios às circunstâncias, PSP e GNR destacam elementos do Corpo de Intervenção e da Unidade de Intervenção, respetivamente, além de equipas ligadas à segurança rodoviária, aos aeroportos e fronteiras, mas também apostam em meios alternativos, sendo que as ciclopatrulhas são uma realidade em ambas as forças. A GNR reforça ainda o patrulhamento a cavalo em algumas das suas áreas de competência. Outra particularidade das férias é que chegam a Portugal muitos estrangeiros, sendo por isso necessário ter nas forças de segurança quem os entenda. Como vão lidar com muitos estrangeiros, as forças de segurança destacam para essas localidades agentes e guardas com conhecimentos de línguas. Hoje em dia, “a segurança não se pode dar ao luxo de se descuidar nos pormenores e de acreditar na nossa_Senhora de Fátima como se fazia muito antigamente. Acreditava-se na carolice dos chefes e dos seus subordinados, mas agora é tudo muito mais complexo e é necessário todos trabalharem em rede, havendo, por exemplo, cada vez mais uma ligação entre a PSP e a GNR”, como diz ao i um oficial que prefere o anonimato.
Cuidar dos velhos e das crianças
A questão da segurança, como muitas outras, depende sempre do ponto de vista de quem é o interveniente e de qual a situação. Se é inegável que ninguém gosta de ser multado por ter deixado o carro mal estacionado, embora não prejudique ninguém – este pensamento é um clássico nacional –, ou de ser apanhado em excesso de velocidade, já para não falar quando se vai jantar e se bebeu dois copos de vinho e se é ‘agarrado’ pelas forças policiais, o ‘olhar muda radicalmente quando se precisa de gritar por Polícia. E há três programas que as forças policiais têm levado a cabo e são um sucesso e um descanso para quem está de férias: vigiar a casa que ficou ‘abandonada’, ajudar crianças e idosos a não se perderem.
Comecemos pelas crianças. A PSP tem um programa dedicado aos mais jovens que vai dos 2 aos 15 anos, permitindo aos encarregados de educação solicitarem uma pulseira na esquadra mais próxima, podem fazê-lo através de uma plataforma eletrónica, para que sempre que exista um azar de a criança ficar perdida, quem a encontrar só tem de ligar para o 112 e dizer o código que está na pulseira. A partir daí, a PSP contacta os encarregados de educação. Sérgio Soares, o porta-voz da Polícia, dá um bom exemplo, acontecido em Albufeira, em 2024. “A Polícia foi alertada por um utente do parque de campismo local para a presença de uma criança que se encontrava a deambular sozinha no interior daquele espaço, durante o período noturno. De imediato, uma patrulha da PSP deslocou-se ao local, tendo localizado o menor. Por via de consulta à ficha do programa “Estou Aqui!”, foi possível proceder ao contacto célere com o progenitor”. Segundo os dados oficiais, este programa foi criado em 2012 e já foram atribuídas 655 mil pulseiras, “com destaque para os anos de 2017 a 2024, nos quais o número médio anual de pulseiras atribuídas rondou as 60 mil”.
Os mais idosos e debilitados também merecem uma atenção especial e ambas as forças têm programas semelhantes. Na PSP, a pulseira do idoso é em tudo idêntica à das crianças e já foram atribuídas mais de 18 mil pulseiras, destacando-se os anos entre 2017 e 2024, “nos quais o número médio anual de pulseiras atribuídas rondou os 3.400”. “Uma chamada para a esquadra da PSP do Porto, já este ano, mudou o rumo de uma história. A bordo de um autocarro, uma mulher idosa seguia sozinha, confusa e desorientada, sem saber ao certo onde estava ou para onde ia. Com um discurso incoerente e visivelmente perdida no tempo e no espaço, a senhora foi acompanhada pelos polícias até à esquadra. Era difícil saber quem ela era, de onde vinha ou quem a esperava — até que um detalhe fez toda a diferença: no pulso, levava uma pulseira do programa “Estou Aqui Adultos!”. Esse pequeno gesto de precaução revelou-se essencial. Com recurso ao código da pulseira, os agentes conseguiram localizar e contactar o marido e o neto da idosa”, conta ao i o oficial da PSP. Diga-se que a ativação da pulseira tem sido maior nos adultos – ambos os programas são válidos para o ano todo.
Por fim, quem vai de férias fica sempre com o coração na boca porque deixou uma casa para trás e agora com a história das ocupações selvagens ainda o temor se agrava. Mas a PSP e a GNR garantem que as casas ‘vigiadas’ – é preciso o proprietário comunicar a sua ausência às forças de segurança – são muito pouco assaltadas. “O programa ‘Residência Segura, consiste no direcionamento de meios humanos e materiais, em regime de exclusividade, com o objetivo de prevenir assaltos a residências, em particular habitadas por idosos situados em locais isolados”, esclarece a GNR.
Como se percebe, muito mudou nos últimos anos.
Conselhos da PSP e GNR para férias seguras antes de alugar a casa
• Desconfiar dos anúncios em que os preços são abaixo do valor de mercado. Para tal, basta comparar com anúncios de imóveis com características semelhantes e situados na mesma área geográfica;
• Pesquisar os dados do imóvel na internet (morada, designação do condomínio, dados e contactos do anunciante, entre outros), pois poderão existir referências a burlas anteriores
• Verificar se o nome que está associado ao IBAN fornecido para o pagamento coincide com o do proprietário/ empresa ou anunciante;
• Solicitar dados adicionais sobre a habitação: fotos do interior, cópia de contratos de fornecimento de eletricidade, luz ou gás, conferindo os dados de identificação e endereço indicado;
• Contactar imediatamente o seu banco se o anunciante informar que não recebeu qualquer valor ou que existem problemas no processamento do pagamento, solicitando nova transação. Caso se verifique a existência de fraude, cancele imediatamente o pagamento já efetuado;
• Guardar todas as trocas de e-mails, fotografias e mensagens, caso o arrendamento não corra como acordado ou tenha sido vítima de burla.
Como ‘defender’ a habitação própria
• Verifique e feche bem todas as portas e janelas antes de se ausentar;
• Instale um alarme de intrusão e informe as forças de segurança com jurisdição na sua área de residência;
• Promova uma cultura de vigilância de vizinhança. Na sua ausência, os vizinhos podem ser os seus olhos e ouvidos, além de ajudarem a dar aparência de atividade à sua residência, esvaziando a caixa de correio ou cortando a relva;
• Evite divulgar que está de férias, sobretudo através da partilha de fotografias e da sua localização nas redes sociais;
• Proteja a sua habitação através da utilização de fechaduras resistentes nas janelas
e portas, luzes interiores com temporizador e luzes exteriores com sensores de movimento;
• Guarde os objetos de valor e dinheiro em locais seguros. Se possível, catalogue-os e anote os respetivos números de série