Autárquicas, Presidenciais e um ex-primeiro-ministro…

Cada regime em fim de vida tem a sua brigada do reumático. Esta é a que este regime merece.

Eleições autárquicas. Uma moto com o seu sidecar. Carlos Moedas sentado na mota. PSD e IL lutam por um lugar no sidecar. Este é pequeno, mas as ambições dos pretendentes a quatro anos de boleia são grandes. Ou diminuem as ambições, ou só haverá lugar para um. O CDS, lá sentado, recusa-se a abrir espaço aos recém-chegados. Estes insistem em sentar-se. A peleja está feia. Teme-se o pior. O risco é grande de estalar o verniz aos urbaníssimos centristas e liberais. Enfastiado, envergonhado, o edil lisboeta hesita em meter ordem na coisa ou, simplesmente, desatrelar o sidecar e deixar os dois em terra entregues a si próprios e à sua escassa meia dúzia de votos. Mas, homem prudente, não sabendo se não precisará dos dois para empurrar aquela máquina já gasta nos últimos metros antes da meta, Carlos Moedas encolhe os ombros, tira o capacete e decide esperar mais um pouco. Quanto aos penduras, triste é a sina de quem não conta apenas consigo próprio para vencer os desafios da política. E deviam pensar em fazer-se à vida em vez de tentarem dar, diariamente, lições de moral e de urbanidade ao Chega.

Quanto às Presidenciais, panorama desolador: um almirante que deve a sua imagem de herói nacional a uma mera operação de logística bem sucedida lidera o pelotão. Segue-se o Dr. Marques Mendes, um dos ex-libris deste regime, há dezenas de anos a passar e a perpassar entre os fundos do palco e os bastidores, incansavelmente, sem um minuto de descanso dele e de descanso nosso. Depois, o Dr. Seguro, ainda sangrando da punhalada nas costas dada há uns anos pelo honrado Dr. Costa. Temos todos muita pena dele, mas como curriculum e bilhete de acesso a Belém não se recomenda. Como ponto a favor, o ódio que lhe é votado pelo pior que o PS tem. Mas, mesmo assim, sendo alguma coisa, é pouco. Pelo caminho ficaram o habilidoso Dr. Vitorino, personagem tão pouco recomendável quanto o Dr. Mendes e o Dr. Santos Silva. Sim, o Dr. Santos Silva esse portentoso faz – tudo e sempre-em-pé da política caseira, que tanto gostava de ‘malhar na Direita’ que acabou a voar do ringue da política para aterrar, knock out, na primeira fila da plateia com um murro eleitoral da Direita no círculo do Resto do Mundo. Paz à sua alma (política, claro). Apresentados os atores desta comédia da corrida a Belém, resta uma reflexão: cada regime em fim de vida tem a sua brigada do reumático. Esta é a que este regime merece.

Finalmente esse personagem de lenda, o Eng. Sócrates. Ele e os seus advogados continuam a sua atuação agora na Expo. Aguardo, sorrindo, a próxima história mirabolante a sair da manga dessa espantosa personagem. Já chorámos, comovidos, com a canina amizade do Senhor Santos Silva que fazia aterrar milhões de ‘fotocópias’, ‘páginas de dossiers’ e andares no XVI éme de Paris no regaço de Sua Excelência. Já nos maravilhámos com o famoso cofre da mãe que transformava urânio e notas do Banco de Portugal em notas do Banco Central Europeu. Um Aladino pós-moderno, o Senhor ex-primeiro-ministro do PS. Que mais irá agora sair dali? Espero ansiosamente.

Três apontamentos que dizem muito do país que hoje somos. Uma classe política centrista que detesta o risco, um regime que queima os seus últimos cartuchos e um ex-primeiro-ministro mistificador primário que navega no absurdo com a maestria de um velho marinheiro dobrando o Cabo Horn.

Vice-presidente da Assembleia da República