Envelhecimento penaliza ainda mais a falta de mão-de-obra

Até 2060, a população em idade ativa deverá cair 8% na OCDE e os gastos públicos anuais com pensões e saúde deverão aumentar na ordem dos 3% do PIB, alerta relatório. Para já, entidades patronais têm recorrido à imigração.

O envelhecimento da população está a contribuir para agravar ainda mais o problema da mão-de-obra. A somar há que contar com as taxas de empregabilidade que têm atingido níveis recorde. O alerta é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no relatório Employment Outlook 2025.

E os números falam por si: Até 2060, a população em idade ativa deverá cair 8% na OCDE e os gastos públicos anuais com pensões e saúde deverão aumentar na ordem dos  3% do Produto Interno Bruto (PIB). «É necessário um conjunto ambicioso de políticas para melhorar as oportunidades de emprego para trabalhadores mais velhos, aproveitar o potencial inexplorado das mulheres e dos jovens no mercado de trabalho e impulsionar o crescimento da produtividade, inclusive garantindo que os trabalhadores tenham as competências adequadas para tirar partido das novas ferramentas de Inteligência Artificial», revela o secretário-geral do organismo, Mathias Cormann.

De acordo com o documento, o emprego total na OCDE atingiu 668 milhões em maio de 2025, um aumento de cerca de 26% desde 2001 e deverá crescer cerca de 1,1% este ano e 0,7% em 2026. Já a taxa de desemprego situou-se em 4,9% em maio e a perspetiva é que se mantenha perto deste nível até 2026. «Os mercados de trabalho da OCDE continuam resilientes: as taxas de emprego aumentaram ainda mais no ano passado para 72,1% na média dos países da OCDE, o nível mais elevado desde pelo menos 2005», disse Mathias Cormann.

Mas apesar de continuar existir disparidades de género no emprego e na participação na força de trabalho já estão a diminuir em muitos países. Entre o primeiro trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2025, em média, nos países da OCDE, a taxa de emprego das mulheres aumentou cerca de 0,2 pontos percentuais a mais do que a dos homens. A diferença de género na taxa de participação diminuiu 0,3 pontos percentuais no mesmo período, impulsionada sobretudo pelo maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho.

Sem solução PIB sairá penalizado

De acordo com o relatório, sem ação política decisiva, o crescimento do PIB per capita poderá desacelerar cerca de 40% na área da OCDE – passando de 1% ao ano entre 2006-2019 para 0,6% ao ano entre 2024-2060, em média. No entanto, ao reduzir a taxa de saída dos trabalhadores mais velhos do mercado de trabalho para o nível observado nos 10% dos países da OCDE com as menores taxas de saída, o relatório mostra que os países poderiam reduzir significativamente a perda projetada no crescimento do PIB per capita causada pelo envelhecimento demográfico.

Mas isso implicará promover a mobilidade de carreira para trabalhadores de meia-idade e mais velhos, além de incentivar a aprendizagem ao longo da vida para garantir que esses trabalhadores possuam competências relevantes e se possam adaptar às novas exigências e oportunidades do mercado de trabalho.

Para já, para combater esta falta de mão-de-obra, as entidades patronais têm vindo a recorrer à imigração. Ao Nascer do SOL, as várias associações e confederações têm pedido ao Governo uma maior agilização no que diz respeito à atribuição de vistos.

Recorde-se que o acordo assinado entre patrões e Executivo prevê que a emissão de vistos seja feita em 20 dias, após a submissão do pedido e da documentação e da entrevista ao candidato a visto. Para a agilizar o processo, o Governo prometeu contratar 50 pessoas para os serviços consulares.

Na assinatura do protocolo, Luís Montenegro referiu que o Governo continua a encarar a política da imigração «de forma holística», para que se adapte, «a cada momento, às necessidades do país» e dos seus compromissos na União Europeia. «Não vamos fechar a porta a ninguém, mas também não vamos vender ilusões. E lá onde houver condutas irregulares, lá onde as pessoas ultrapassarem as regras, tem de haver consequências», disse.

Salários também sobem

Para combater esta falta de mão-de-obra as empresas têm vindo a ser ‘obrigadas’ a subir os ordenados. E, de acordo com o mesmo relatório, os salários estão a crescer na maioria dos países da OCDE, mas continuam abaixo dos níveis observados no início de 2021, pouco antes da aceleração da inflação pós-pandemia, em cerca de metade dos países.

 A maior subida foi registada na Turquia (69,3%), seguindo-se a Hungria (13,5%) e a Costa Rica (12,6%). Portugal registou um crescimento de 1,8% do salário médio real, entre o primeiro trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2025. No entanto, a subida foi inferior à média da OCDE (2,4%).

A OCDE chama ainda a atenção para as incertezas geopolíticas e para o agravamento das tarifas alfandegárias que, de acordo com o organismo, poderão enfraquecer de modo significativo os mercados de trabalho e contribuir para novas subidas das taxas de inflação, «dificultando a recuperação dos salários».