A discussão sobre o prazo de validade do «não é não» ao Chega, está instalada no interior do PSD. Os primeiros dias da nova legislatura têm mostrado um clima muito mais distendido entre Governo e partidos da maioria e o Chega.
Segundo vários deputados sociais-democratas ouvidos pelo Nascer do SOL, o clima mudou radicalmente no Parlamento depois das últimas eleições e o principal sinal, são as relações «muito cordiais» que o líder da bancada, Hugo Soares, tem mantido com André Ventura. « Para fora podem dizer que nada mudou, mas cá dentro vemos que está tudo muito diferente», ouvimos da boca de um deputado que se mostra satisfeito. «O não é não, ou o sim é sim, não fazem sentido nenhum, isto é uma questão de matemática», comenta a nossa fonte.
O tema das linhas vermelhas continua no entanto a não ser consensual dentro do partido e até, dizem-nos, dentro do Governo. Oficialmente, o que o partido assume é que face às novas circunstâncias o Executivo deve negociar sem parceiros preferenciais, mas na prática «percebe-se que há um cuidado especial para não melindrar o Chega e o André Ventura». Para exemplificar o ambiente, um deputado relata-nos que, durante as jornadas parlamentares, algumas intervenções, incluindo a do encerramento, a cargo de Luís Montenegro, terão sido o motivo para uma chamada, alegadamente de André Ventura ao primeiro-ministro, facto que o levou a desmarcar em cima da hora um almoço distendido com os deputados. «Depois do telefonema saíram os dois e já não almoçaram» , conta-nos um dos deputados, referindo-se à saída abrupta e imprevista de Luís Montenegro e Hugo Soares.
Segundo as nossas fontes, o tema da manutenção ou não das linhas vermelhas ao Chega está longe de estar consensualizado e até já se apontam os nomes dos que são mais favoráveis a acordos preferenciais com o partido de André Ventura e quem defenda um posicionamento neutro do Governo, com negociações à direita e à esquerda, conforme os temas.
Rangel, Leitão Amaro e Hugo Soares
São três nomes do núcleo duro da governação que, ao que nos contam vários membros da bancada do PSD, têm posições diferentes quanto à estratégia a adotar no futuro. Fiel a si próprio, ninguém consegue adivinhar para que lado pende Luís Montenegro, o primeiro-ministro que tem a última palavra sobre o posicionamento do governo.
Apesar de não fazer parte do Governo, Hugo Soares é incontestavelmente o homem de confiança do primeiro-ministro. À frente da bancada do PSD, Soares tem mostrado uma preferência e até um muito maior à vontade nas conversações e acertos com o Chega. As nossas fontes parlamentares asseguram que para o braço direito de Montenegro, o «não é não» é passado. «Se está ou não concertado com o PM? Não sei, mas eles são o alter-ego um do outro», dizem-nos.
Leitão Amaro, o ministro da presidência com a tutela da imigração, é apontado por todos estes parlamentares, como o ministro mais favorável a entendimentos com o Chega. Não só por causa das áreas que tutela, mas também porque, de acordo com o que nos foi dito, «como as coisas estão o pior que pode acontecer é aproximarmo-nos da ideia de um bloco central».
Quem, segundo as nossas fontes, se opõe radicalmente a cedências ao Chega, é o número dois do Governo, Paulo Rangel. O ministro dos Negócios Estrangeiros considerará um erro acabar com as linhas vermelhas, mesmo que isso só signifique entendimentos dossier a dossier com o partido de André Ventura. Rangel defende a tese de que o PSD deve manter-se como partido charneira.