Sexta 12
Charles Kirk
As reações ao assassinato de Charles Kirk são lamentáveis. Muitas vozes nas esquerdas, basicamente, estão a construir uma narrativa de diabolização de Kirk que na verdade o querem culpar pela sua morte. Mas agora começa a surgir uma segunda tese. Um tiro com aquela precisão só pode ter vindo de um profissional. É a tese da conspiração. ‘Alguém com poder’ quer usar um assassinato político para iniciar uma onda de violência contra a esquerdas radicais. É ridículo.
A reação de Trump, dizendo que deseja a pena de morte, também foi péssima. Os tribunais decidem as penas, não são os líderes políticos. Como Presidente, deveria ter apelado à reconciliação e à unidade do país. Fez o oposto: apelou à vingança.
Sábado 13
Londres
Manifestação impressionante em Londres em defesa do patriotismo e dos valores britânicos. Os números dos manifestantes são secundários. Os que são a favor exageram, os que são contra diminuem. O ponto central é que muitos na sociedade britânica não querem mais imigrantes (eu sou emigrante no Reino Unido). Acham que houve um exagero, durante governos conservadores e trabalhistas, e para eles o país não aguenta mais imigrantes. Quem olhou com atenção para os participantes na manifestação não viu uma multidão de ‘neo-nazis’, também estavam muitos cidadãos de classe média, pacatos e respeitadores da lei. Até se viam britânicos negros e indianos. O Reform de Farage será o mais beneficiado deste acordar nacionalista.
Domingo 14
André Ventura
André Ventura fez um discurso num Congresso da família política europeia, os Patriotas, organizado pelo Vox. Foi um discurso com um nível de demagogia e irresponsabilidade tremendas. Como pode o ‘líder da oposição’ de uma democracia dizer-se ‘orgulhoso’ da violência das ruas de Múrcia há meses? Mais, como pode um político apelar à prisão do PM espanhol? Não é Ventura que decide se o Pedro Sanchez deve ser preso, são os tribunais espanhóis. Ventura defendeu uma prisão política. Foi péssimo.
Continuando em Espanha, Pedro Sánchez também fez um discurso altamente irresponsável. Defendeu o direito de manifestantes a bloquear um acontecimento desportivo. Ou seja, um PM em Espanha defendeu a violência política nas ruas. Mais, Sánchez tem todo o direito de atacar Israel. Mas defender o Hamas, uma organização terrorista e totalitária, cujo poder viola os direitos fundamentais dos cidadãos palestinianos, é inaceitável. Como pode o PM de uma democracia defender o totalitarismo palestiniano?
Segunda 15
Eleições autárquicas
Debate para as eleições autárquicas em Lisboa entre Carlos Moedas, Alexandra Leitão, Bruno Mascarenhas e João Ferreira. Uma discussão a quatro nunca poderia ser um grande debate. Não houve um verdadeiro confronto político, houve muitas interrupções e muitas conversas cruzadas. Carlos Moedas tinha uma estratégia clara: impedir que o debate se tornasse um confronto entre os dois que podem vencer as eleições, deixar João Ferreira brilhar, e mostrar que a grande divisão era entre ele e o candidato comunista, e os outro dois, Alexandra Leitão e Bruno Mascarenhas: os dois primeiros dominam os assuntos da autarquia, são competentes; os outros dois desconhecem a realidade autárquica e são sobretudo candidatos ideológicos e radicais. Conseguiu alcançar os seus objectivos, o que significa que o debate correu-lhe bem. Moedas esteve francamente bem na discussão sobre o acidente da Glória, o que à partida poderia ser o tema mais complicado.
Alexandra Leitão perdeu uma oportunidade de mostrar que é uma verdadeira alternativa a Moedas. Começou mal, no caso do desastre do elevador da Glória e na discussão sobre a habitação. Percebeu que estava a ser ofuscada por Carlos Moedas e por João Ferreira, e depois começou a interromper, a falar alto e a tratar Carlos Moedas por ‘Senhor Engenheiro’. Foi o que ficou da prestação de Alexandra Leitão. O ponto em que esteve melhor, nas propostas para o tratamento de lixo (as únicas propostas que fez durante todo o debate), acabou por não correr muito bem porque teve que ler a cábula, como os alunos que não estão bem preparados.
João Ferreira esteve bem. Tem muita experiência de debates políticos, tem talento, boa imagem (parece um burguês conservador e não um comunista revolucionário), muito bem preparado e competente. Ofuscou claramente Alexandra Leitão. Se fosse o candidato de uma coligação de esquerda, apoiado pelo PS, teria hipóteses de vencer.
Bruno Mascarenhas é fraco. Tem um discurso muito limitado e repetido, contra o ‘sistema’, contra ‘os estrangeiros’, e com necessidade de evocar a autoridade do líder partidário (foi o único dos quatro que se referiu ao líder do partido). Mostrou que para o eleitorado de direita só o voto em Carlos Moedas para Presidente da Câmara serve para derrotar a frente de esquerda mais radical até hoje, encabeçada por Alexandra Leitão e com o Livre, o Bloco e o PAN. É curioso que a frente de esquerda deixou de fora o mais bem preparado de todos, o candidato do PCP. Nem João Ferreira se quer misturar com os radicais.
Terça 16
Candidato a Belém
André Ventura anunciou que será candidato a Belém. Não tinha alternativa. A candidatura de Cotrim Figueiredo obrigou Ventura a concorrer às eleições presidenciais. Outro candidato do Chega ficaria atrás de Cotrim e Ventura não pode permitir que isso aconteça. Além disso, Ventura também não podia o eleitorado do Chega, pouco mais de um milhão, dispersar-se por candidatos de outros partidos e pelo Almirante Gouveia e Melo.
Finalmente, Ventura viu uma oportunidade. Os principais candidatos estão a falar para o centro, e o espaço da direita está quase vazio. Nenhum dos outros candidatos se assume como sendo de direita. Ora, a direita é neste momento maioritária em Portugal. Marques Mendes e Gouveia e Melo ofereceram uma oportunidade a Ventura. Ele aproveitou. Ventura corre, porém, um risco: se não for à segunda volta, terá uma derrota.
Quarta 17
Almoço em Arroios
Almocei em Arroios com Madalena Natividade, a corajosa presidente da Junta de Freguesia que se recandidata com Carlos Moedas. Chamo-lhe corajosa porque foi dos primeiros políticos a chamar a atenção para as consequências da desastrosa política de imigração dos anos PS. Acabou mesmo com a atribuição de atestados de residência a imigrantes ilegais que realmente não residiam em Arroios, muitas vezes vítimas de redes de tráfico de seres humanos, acabando com o que acontecia com a anterior junta socialista de Margarida Martins. Cuidado que eles querem voltar, numa aliança ‘geringonça’ com a extrema-esquerda, com o apoio de figuras como Louçã e companhia, para tornar Lisboa numa imensa rua do Benformoso.
Ninguém pode acusar Madalena Natividade de racismo. É de origem luso-moçambicana e foi o que se chamou em tempos de ‘retornada’. Conhece as dificuldades da vida, ao contrário das esquerdas radicais com uma vida burguesa nos bons bairros de Lisboa. Boa sorte Madalena.
Quinta 18
Malveira da Serra
Trabalho em Londres, mas esta semana fiquei a trabalhar a partir de casa em Cascais (Malveira da Serra). Cascais é um local maravilhoso para viver. Costumo dizer que é o melhor local da Europa. Por isso, muitos estrangeiros mudam-se para Cascais.
Mas não se pense que Cascais é bom apenas para quem tem dinheiro. As classes médias do Concelho beneficiam de serviços públicos aos quais a maioria dos portugueses não tem acesso. Autocarros gratuitos para todos, escolas públicas que funcionam bem, e saúde pública com qualidade. O hospital de Cascais é uma das poucas PPPs na saúde que presta um bom serviço. Na verdade, os habitantes de Cascais, incluindo as classes médias baixas, são uns privilegiados no contexto de Portugal. Os adversários de Nuno Piteira Lopes não terão vida fácil nas eleições autárquicas.