O tema da habitação continua a ser uma das maiores preocupações dos portugueses. Os preços das casas estão completamente desalinhados com os salários médios, e isso tem colocado gerações inteiras numa situação de grande vulnerabilidade.
Nos últimos anos, construímos muito menos do que a procura exige: se em 2000 chegámos às 160 mil casas por ano, em 2012 esse número caiu para apenas 7 mil. Hoje, mesmo com alguma recuperação, continuamos a produzir apenas uma fração do necessário. Não há solução para a crise sem aumentar a oferta. Para isso, é fundamental acelerar os processos de licenciamento, que ainda podem demorar mais de dois anos. As autarquias têm aqui um papel decisivo: simplificar, digitalizar e dar previsibilidade. O setor privado tem capacidade e vontade de construir, mas não pode continuar preso numa teia burocrática.
Do lado do custo, a construção enfrenta inflação, falta de mão de obra especializada e impostos elevados. É positivo que o Governo tenha avançado com a redução do IVA da construção para 6%, mas essa medida tem de ser acompanhada de incentivos claros à habitação de classe média. Só assim se criam condições para novos projetos acessíveis. A construção modular, de qualidade e rápida, deve também ser encarada como parte da resposta: casas erguidas em meses, tecnologicamente avançadas e com custos controlados.
Por fim, é preciso repensar a mobilidade. Não faz sentido que Lisboa e Porto concentrem a pressão imobiliária quando as periferias podem oferecer qualidade de vida a preços mais justos. Com transportes públicos rápidos e modernos, morar fora do centro deixaria de ser um sacrifício e passaria a ser uma opção atrativa.
A crise habitacional tem soluções conhecidas. Falta coordenação para as implementar em escala. Só com ação concertada, entre o Governo, autarquias e setor privado, é que será possível devolver às famílias o direito a uma habitação digna.
CEO do Everybody Wins Group