Os números da criminalidade continuam a provocar mais confusão do que seria suposto, e a cada intervenção da Polícia Judiciária, alguns oficiais da PSP e da GNR ficam com os cabelos em pé. A novela mais recente diz respeito aos festejos dos 80 anos da PJdo Porto, tendo António Pinto, coordenador de contraterrorismo e banditismo da PJ do Porto, aproveitado para dizer que «a criminalidade violenta, em termos de perspetiva histórica, tem diminuído e isso é significativo». Pinto foi ainda mais longe, dizendo que a PJdo Porto registou, nos últimos cinco anos, 3.700 inquéritos relacionados com criminalidade violenta, quando a instituição apenas investiga determinados tipos de crimes violentos.
Já o diretor da PJ do Porto, Pedro Machado, mandou ainda mais gasolina para a fogueira: «Hoje, de uma forma geral, não temos as mesmas proporções, o mesmo nível de violência generalizada e o caráter organizado e o alcance das ações que se verificavam no passado, na sequência do sucessivo desmantelamento de inúmeros grupos criminosos em resultado de investigações levadas a cabo pela Polícia Judiciária».
Não sei por distração ou por falta de visão, António Pinto reconheceu ainda que, nos primeiros oito meses do corrente ano, a criminalidade violenta, no Porto, aumentou 12%, apesar dos títulos noticiosos dizerem que o crime violento está em queda!! A confusão é ainda maior para os menos familiarizados com o fenómeno, pois a PJ só investiga violações, rapto, sequestro e tomada de reféns, homicídio voluntário consumado, roubo a banco ou outro estabelecimento de crédito, roubo a transportes de valores, associação criminosa e roubo a tesouraria ou estação de correios, sendo que alguns destes crimes também são investigados pela PSP. Para se ter uma ideia, nos números da criminalidade violenta que constam no RASI de 2024, os crimes violentos e graves mais participados são o roubo na via pública, exceto por esticão (5.239 casos) e resistência e coação sobre funcionário (1.565), matérias onde a PJ não põe prego nem estopa. Ainda segundo os dados oficiais do RASI, «o número total de participações registadas foi de 14.385, mais 363 casos que em 2023, a que corresponde uma variação de +2,6%». No que diz respeito ao Porto, em 2024, houve um aumento de quase 5% da criminalidade violenta, passando de 2.192 casos para 2.297. Estes são os dados oficiais, mas o que conta, muitas vezes, são os títulos enganosos que, por questões ideológicas ou por burrice, saem na comunicação social.
Não é preciso ser Merlin para perceber que a criminalidade geral e a violenta vão aumentar em 2025, e por uma razão muito simples: a PSP e a GNR estiveram boa parte de 2024 em greve de zelo, significando isso que os crimes de roubo na via pública, exceto por esticão e resistência e coação sobre funcionário, baixaram no ano passado, como consta no RASI. Só esses dois crimes farão os números da criminalidade violenta subirem. Já no que diz respeito à criminalidade geral, a subida também é inevitável, pelas mesmas razões. Com o fim da greve de zelo, nos primeiros três meses do ano, as detenções feitas pela PSP aumentaram de 4.976 em 2024, para 8.100 em 2025. Sendo certo que os números devem ser analisados na totalidade, incluindo todos as forças de segurança e policiais, não deixa de ser óbvio que o crime de condução sob o efeito do álcool deverá disparar, pois em 2024 houve muito poucas operações stop. «A proatividade policial em 2024 esteve virada para os casos graves, daí que seja normal que vários tipos de crime aumentem este ano», dizia-me um superintendente. Se a PJdo Porto já anunciou que na sua ‘área’ a criminalidade grave aumentou 12%, não se augura nada de bom.
Esperemos é que as questões ideológicas não se sobreponham à realidade e que se olhe para o fenómeno de forma séria. A bem do país.
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