Gouveia e Melo diz que lhe ofereceram cargo para desistir das presidenciais

O almirante que chefiou a Armada e foi responsável pelo processo de vacinação da covid-19 não poupa nas palavras para justificar a recusa da sugestão que lhe terá sido feita

Henrique Gouveia e Melo revela que lhe foi dada a oportunidade de atingir o topo da carreira militar, no final do seu mandato como chefe do Estado-Maior da Armada. O objetivo seria travar a sua candidatura a Presidente da República.

Esta convicção é manifestada no livro “Henrique Gouveia e Melo – Um Retrato Biográfico”, da autoria do jornalista e diretor do Polígrafo, Gustavo Sampaio. O livro editado pela “Manuscrito” (Editorial Presença) irá para as livrarias na quarta-feira.

Segundo o relato do autor, além da recondução como chefe do Estado-Maior da Armada, foi também proposto ao almirante o cargo de chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, sempre com o objetivo de travar a sua candidatura a Belém.

“Acha que o pretendiam colocar nesse posto para o afastar da corrida ao Palácio de Belém?”, pergunta Gustavo Sampaio, ao que Gouveia e Melo responde: “Tenho quase a certeza absoluta disso. Por isso é que eu achei que as razões não eram as melhores e, portanto, abandonei logo essa ideia”.

O almirante que chefiou a Armada e foi responsável pelo processo de vacinação da covid-19 não poupa nas palavras para justificar a recusa da sugestão que lhe terá sido feita.

“Quem me conhece sabe que, quando me empurram, eu me torno mais rijo […] É uma característica da minha personalidade”, afirma. “Portanto, quanto mais me queriam empurrar para um determinado sítio – e por motivos errados – de uma luta intestina política e não porque quisessem verdadeiramente que eu mudasse as Forças Armadas ou as ajudasse a progredir -, isso incentivou-me ainda mais a tomar outra decisão”, esclarece.

Sem indicar a quem se está referir, Gouveia e Melo acrescenta que, agora, pretende contribuir para “a melhoria e reforço do sistema político” porque “este sistema político tem coisas apodrecidas”.

No livro, Gouveia e Melo aborda a sua atividade na Marinha, a responsabilidade que teve durante a pandemia com o processo de vacinação, a relação com a família ou o caso de insubordinação com 13 militares do navio Mondego que se recusaram a cumprir uma missão de acompanhamento de um barco russo.

O candidato à presidência da República fala também sobre a sua educação religiosa: 

“Eu acredito em Deus e tenho fé, mas fui-me afastando da prática religiosa, não sou um beato da igreja”. 

Gouveia e Melo diz que sempre achou que a Igreja “devia ser mais dinâmica” e que se tornou “muito ritual”, acrescentando: “Fui-me desiludindo com a Igreja enquanto instituição, não enquanto pessoas”.