Com a saída de muitos presidentes de Câmara por terem atingido o limite de mandatos estamos assistir a uma renovação de autarcas e de candidatos que até podem mudar as cores políticas dos municípios. A CDU, por exemplo, a perder influência na chamada Margem Sul, fez rodar presidentes de Câmara que atingiram o limite de madantos nos seus bastiões pelos concelhos ao lado, concentrando esforços no eixo de desenvolvimento do litoral alentejano (Sines, Grândola e Santiago do Cacém, que tem não só despertado a atenção de grandes investidores estrangeiros. Por outro lado, há concelhos em que o Chega pode surpreender ao conseguir mesmo mandatos como tanto anseia.
A caminho do terceiro e último mandato
Inês de Medeiros deverá conquistar o terceiro mandato à frente de Almada. A socialista foi o rosto responsável pela enorme surpresa, em 2017, de tirar os comunistas da liderança da Câmara após 41 anos. Durante sete anos, a autarca conseguiu manter uma ligação ao PSD com vista a garantir a estabilidade governativa, mas este ano houve uma rutura, ao retirar-lhe pelouros depois de os sociais-democratas terem votado contra o orçamento na Assembleia Municipal. O PSD aposta em Hélder Sousa e Silva – ex-presidente da Câmara de Mafra (2013 a 2024, altura em que renunciou ao mandato para assumir o cargo de eurodeputado) e a CDU promete não baixar os braços, querendo voltar a recuperar o antigo bastião comunista. Um desafio que, ainda assim, não desmoraliza a socialista. «Neste momento em que me apresento como candidata a um terceiro mandato da presidência da Câmara Municipal de Almada, tenho plena consciência que seremos avaliados, não apenas pelo que prometemos, mas sobretudo pelo que cumprimos ao longo destes oito anos», disse a candidata elogiando o trabalho dos autarcas de todo o país, independentemente da forças politicas que representam, por nos últimos oito anos terem sido«confrontados com desafios que não esperavam, entre os quais a pandemia, a instabilidade política e a transferência de competências», disse na apresentação da candidatura.
Regresso à base
Quem está de regresso a Vila Nova de Gaia, 12 anos depois, é Luís Filipe Menezes. As últimas sondagens que têm vindo a ser publicadas dão o candidato do PSD a liderar as intenções de voto, surgindo com clara vantagemsobre os restantes candidatos, com destaque para o socialista José Paulo Correia, ex-secretário de Estado. Desde a sua saída que a Câmara está nas mãos dos socialistas (Eduardo Vítor).
Menezes já tinha tentado voltar a ser presidente, em 2013, então na Câmara do Porto, mas perdeu a batalha eleitoral para o atual presidente portuense, o independente Rui Moreira. A aposta de agora foi explicada numa entrevista ao Nascer do SOL: «Fui presidente do PSD Porto e conduzi o partido de três a 11 lideranças municipais. Mais tarde regressei e voltei a levar o PSD a um recorde: 14 lideranças no distrito e liderança da Área Metropolitana do Porto. Ora esse dictate é só isso, sem qualquer valor. Fui feliz em Gaia, mudei radicalmente uma cidade, trazendo-a para a primeira linha de desenvolvimento. Assim acontecerá de novo. Fui feliz porque o povo o reconheceu com quatro maiorias absolutas. Felicidade? Não. Paraíso de que fiquei grato».
Continuidade apesar de fim de mandatos
Apesar de Carlos Carreiras ter chegado ao fim de mandatos, tudo aponta para que a autarquia continue nas mãos do PSD. Nuno Piteira Lopes, o candidato apoiado pelo partido, é o atual vice-presidente da Câmara e durante o anúncio da sua candidatura prometeu um virar de página na Câmara. «Esta é uma candidatura que não pretende rasgar com aquilo que é o passado, um passado que nos honra a todos, mas que está muito longe de ser apenas mais do mesmo. Mantemos os valores, mantemos o compromisso que nos caracterizam, mas temos uma visão renovada, uma nova ambição, uma nova geração e é por isso que o nosso programa vai surpreender tudo e todos», afirmou Nuno Piteira Lopes.
Já o ainda o autarca em funções, numa entrevista ao nosso jornal, não hesitou em garantir que o seu vice-presidente é o candidato mais preparado. «Tem um conhecimento profundo do território, das pessoas que estão nesse território, dos problemas que têm de ser ultrapassados e das oportunidades que podem ser exploradas. E isso está-se a refletir na aceitação da sua candidatura», salientou.
Com o PS em queda no concelho, segundo todas as sondagens, Nuno Piteira Lopes está muito à frente do candidato do Chega, de novo Rodrigues dos Santos, e de João Maria Jonet, que abandonou o PSD e conta com o apoio do ex-autarca social-democrata António Capucho. Desde que anunciou a sua candidatura tem tecido duras críticas às políticas seguidas pelo PSD, que tem liderado o município, nas últimas décadas.
Tudo em aberto
Uma das maiores dúvidas deste ato eleitoral é Sintra. Os três candidatos – Marco Almeida (PSD/IL/PAN), Ana Mendes Godinho (PS/Livre) e Rita Matias (Chega) têm aparecido taco-a-taco nas sondagens. Mas se o candidato social-democrata tem apresentado sempre ligeira vantagem em relação às suas adversárias, rets saber que impacto poderá ter nas intenções de voto o episódio que veio a público nos últimos dias e que dá conta do seu envolvimento numa agressão (à cabeçada) a um popular que o interpelou, originando ainda ferimentos num terceira pessoa, um idoso para cima do qual caiu o agredido.
Vitórias esmagadoras
Apesar das polémicas, o autarca de Loures continua a caminhar a passos largos para um reforço da maioria absoluta nas eleições autárquicas, de acordo com várias fontes ouvidas pelo Nascer do SOL. Ricardo Leão conquistou a presidência da Câmara de Loures, no distrito de Lisboa, em 2021, sem maioria absoluta, após oito anos de gestão CDU (PCP/PEV).
O último episódio disse respeito à demolição de 64 habitações precárias, afetando 161 pessoas, no bairro Talude Militar, com o presidente da Câmara a prometer não baixar os braços, defendo que as «construções ilegais são inaceitáveis», acenando que quer continuar o trabalho «sem dó nem piedade», apesar do mal estar interno que criou junto dos socialistas.
É certo que, apesar das críticas, Ricardo Leão, no momento em que apresentou a sua recandidatura, contou com o apoio do PS e fez questão de referir esse apoio. «Está aqui o PS. Está aqui o PS unido à volta da candidatura à Câmara Municipal de Loures. Está aqui a resposta», disse, na altura. O candidato apresenta-se à corrida juntamente com mais sete candidaturas, sendo que uma delas é de Nélson Batista, do PSD, com quem Ricardo Leão há quatro anos estabeleceu um acordo para garantir a estabilidade governativa no concelho.
Também sem surpresas será a vitória de Isaltino Morais em Oeiras, onde é rei e senhor também nas redes sociais, como o Instagram e o TikTok, tanto a recomendar restaurantes, como a mostrar trabalho feito ou até mesmo a responder a quem o critica, como aconteceu recentemente com André Ventura. Aliás, a força da sua imagem é de tal forma reconhecida que o recandidato apostou em simples cartazes verdes a dizer apenas ‘Isaltino’. Será o seu último mandato, após o regresso em 2017.
Onde o Chega pode surpreender
Apesar de concorrer a todos os municípios, o Chega poderá ter resultados surpreendentes em algumas autarquias. Um cenário que já foi admitido por André Ventura, numa entrevista ao Nascer do SOL, «Tenho a expectativa de eleger em algumas câmaras destes concelhos. Temos números que apontam para alguns valores muito elevados. É o caso da Moita, Alcochete, Sesimbra e mesmo Seixal, onde também ganhámos as eleições legislativas. Isto não quer dizer que os resultados vão ser transferidos das legislativas para as autárquicas. O Chega ganhou 60 concelhos nas autárquicas. Não creio que vamos ganhar 60 câmaras municipais, mas podemos ganhar um número elevado», referiu.
Albufeira é uma das apostas do Chega, qua avança com Rui Cristina, candidato à Câmara de Loulé em 2021. Veremos se se confirma o favoristismo.
Montijo (com Nuno Valente) e Odemira (Rui Campos da Silva) são outros concelhos em que o Chega acredita na vitória, tal como o Seixal – autarquia que o PCP lidera desde 1976 – com a candidata Marta Silva, vice-presidente e deputada do partido.
Comunistas apostam no ‘eixo de desenvolvimento’
O PCP aposta sobretudo em ganhar o chamado ‘eixo de desenvolvimento’ constituído por três concelhos do litoral alentejano : Sines, Grândola e Santiago do Cacém. Álvaro Beijinha, presidente da Câmara de Santiago do Cacém desde 2013, transita para Sines. «Esta candidatura assume-se como alternativa à desastrosa gestão do PS, sendo portadora de um projeto que está ao serviço das populações e do desenvolvimento do concelho».
Já em Santiago do Cacém concorre Vítor Proença, 11 anos após ter sido eleito pela CDU para a presidência da Câmara de Alcácer do Sal, à qual não se pode recandidatar devido à lei de limitação de mandatos. Recorde-se que Vítor Proença foi presidente da Câmara de Santiago do Cacém entre 2001 e 2013. Os comunistas salientam que esta candidatura «assume-se na continuidade do trabalho e intervenção à frente dos destinos do concelho desde a revolução do 25 de Abril, sempre ao serviço das suas populações».
Em Grândola (concelho que conta com as turísticas Comporta e tróia), a presidente da União de Freguesias de Grândola e Santa Margarida da Serra, Fátima Luzia, é a candidata da CDU à autarquia, que já é liderada pelos comunistas, referindo que o objetivo é dar «continuidade ao projeto, à visão e às propostas» dos comunistas. O município era liderado por António Figueira Mendes, que não se pode recandidatar devido à lei da limitação de mandatos.
Incertezas
Em Loulé – concelho central do Algarve e também o mais rico da região, uma vez que é lá que situam os empreendimentos de luxo de Vilamoura, Quinta do Lago e Vale do Lobo – o PSD aposta no histórico Hélder Martins, antigo vice-presidente da autarquia e atual presidente da AHETA, para tentar ‘roubar’ a Câmara aos socialistas, aproveitando a saída de Vítor Aleixo, devido à limitação de mandatos. O PS apresenta-se com o candidato Telmo Pinto, presidente da Junta de Quarteira.
Também em Matosinhos, o PSD, pelas mãos de Bruno Pereira, quer conquistar a Câmara que tem estado nas mãos de socialistas. Durante 29 anos, o município esteve sobre a liderança de Narciso Miranda e mais recentemente de Luísa Salgueiro, presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) desde dezembro de 2021, e que agora se recandidata ao último mandato.
Na Maia, os sociais-democratas voltaram a apostar na recandidatura do atual presidente, António Silva Tiago, para um novo mandato, mas os socialistas querem conquistar este terreno, investindo em Manuel Pereira Ribeiro, atual presidente da Câmara de Valongo.
Também incerto é o que poderá acontecer em Gondomar, um concelho que deu vitória a Valentim Loureiro durante cinco mandatos consecutivos (1993 a 2013), três pelo PSD e dois como independente, após Marques Mendes lhe retirar a confiança política por causa do processo ‘Apito Dourado’. A liderança acabou por cair nas mãos do PS, que também não tem tido uma vida calma. O socialista Marco Martins tem vindo a pedir a renovação da suspensão do mandato por ter sido indicado para liderar a empresa Transportes Metropolitanos do Porto, cargo que ocupa desde fevereiro. O autarca assumiu a Câmara em 2013, não podendo recandidatar-se, e pediu por três vezes a suspensão do mandato, assumindo funções o vice-presidente Luís Filipe Araújo, que entra agora na corrida e que tem pela frente a concorrência do social-democrata e antigo secretário de Estado do Desporto Emídio Guerreiro (2013 a 2015) – que vai em coligação com a Iniciativa Liberal – e já convocou a estrela de futsal Ricardinho para número dois na lista e para vereador do pelouro do Desporto. O PSD pode recuperar a autarquia.