SÁBADO, 27
Impresa italiana
O ECO (a fazer um excelente trabalho sobre o tema) noticiou que existem negociações entre a família Balsemão e o grupo de comunicação social italiano MFE (fundado por Berlusconi) para a venda de uma posição maioritária do grupo Impresa. Há muito que se sabia das dificuldades financeiras do grupo Impresa, com uma dívida enorme e com
prejuízos anuais.
Antes de mais, é uma boa notícia. Investimento estrangeiro é sempre positivo, e neste caso ainda mais porque estamos a falar de um dos maiores grupos europeus de comunicação social. Além disso, o Expresso e a SIC são marcas históricas portuguesas que merecem ser salvas.
Há, no entanto, um ponto essencial. Quando se compra uma empresa próxima da falência, como a Impresa, é necessário levar a cabo uma restruturação financeira, negociação da dívida, redução de custos, e outras medidas contabilísticas. Mas o restabelecimento da saúde financeira não é suficiente. Também é necessário melhorar o produto, neste caso os serviços, que a empresa vende ao mercado. Caso contrário, a recuperação não será possível, mesmo que numa fase inicial se equilibre as contas públicas.
Ou seja, para recuperar completamente, o grupo Impresa terá que oferecer novos serviços, de maior qualidade, e que aumente os consumidores dos seus serviços. A degradação da qualidade do Expresso e da SIC, sobretudo no tratamento da política, também explica a quase falência do grupo Impresa. Seria um erro considerar que se cometeram apenas erros de gestão. Se o jornalismo vendido pelo Expresso e pela SIC continuar igual, não haverá recuperação possível. O destino continuará o mesmo: perda de leitores e de espectadores.
Uma questão final. Todos os cronistas do Expresso e os ‘opinion makers’ da SIC Notícias que tratavam o Berlusconi como um «fascista» e que tratam a Meloni, uma criação de Berlusconi, também como «fascista» não se sentem problemas em trabalhar para um grupo fundado por um ‘fascista’? Costuma dizer-se que os princípios são sérios quando se está disposto a perder dinheiro para os defender.
Domingo, 28
Trump
Parece que, finalmente, Trump percebeu que a Rússia é a potência agressora e a Ucrânia é o país atacado. Caramba, demorou quase um ano. Mas mais vale tarde do que nunca. O acordo entre Estados Unidos e a Ucrânia para a compra de um pacote militar de 90 mil milhões de dólares, incluindo armas de longo alcance e defesas anti-aéreas, é uma notícia óptima. A Ucrânia tem aqui uma oportunidade para reverter o curso da guerra.
Aliás, o curso da guerra já está a mudar. No último mês, a Rússia tem feito apenas ataques aéreos contra cidades ucranianas, e o avanço das tropas russas no terreno é quase nulo. Os ataques da Ucrânia às refinarias e aos poços de petróleo russos estão a contribuir para enfraquecer a economia russa, atacando o ponto mais vulnerável.
Putin não pode aceitar a paz porque no dia que o fizesse, o erro monumental que cometeu com a invasão da Ucrânia ficaria à vista de toda a gente. A propósito, vale a pena ler o excelente artigo do pensador israelita, Yuval Noah Harari, no Financial Times do fim de semana (Why Ukraine is winning the war). Não iria tão longe. A Ucrânia ainda não está a ganhar, mas a Rússia está a perder.
SEGUNDA, 29
Gaza
O plano de paz para Gaza sofre de um problema original: a ausência de uma das partes do conflito, o Hamas. É uma paz imposta, em que Trump seguiu as condições impostas pelo governo de Israel no início da guerra: rendição total do Hamas, desarmamento, e libertação dos reféns. Concordo em absoluto com as condições. O Hamas é um grupo terrorista e enquanto governar Gaza, não há paz possível. Mas a ausência do Hamas das negociações torna a paz mais improvável.
Os países europeus já apoiaram a proposta de Trump, tal como a maioria dos países árabes e até muçulmanos. O plano passa por um período de transição, com uma força de manutenção da paz composta por países árabes e muçulmanos (boa ideia) e com uma autoridade política de transição (que raio e má ideia colocar Blair como uma espécie de governador colonial; não se podia ter escolhido um político árabe?). De qualquer modo, os habitantes de Gaza só terão a paz e a qualidade de vida que merecem quando o Hamas abandonar o território definitivamente.
TERÇA, 30
Leis dos Estrangeiros
A AD, o Chega e a IL aprovaram a nova versão da Lei dos Estrangeiros, facilitando o reagrupamento familiar (da família nuclear, cônjuges e filhos), em relação à versão inicial (acho que ainda de deveria ter ido mais longe), o que é de uma justiça elementar. O estado não deve ter poder para separar famílias, sejam elas portuguesas ou estrangeiras. O valor da família não depende da nacionalidade.
Esperemos que não haja problemas no Tribunal Constitucional, e que finalmente haja uma lei que limite a imigração, combata e imigração ilegal e integre melhor os imigrantes, quer no plano cultural como nas políticas sociais.
Há um lado positivo na clarificação política, com os partidos de direita a votarem a favor da nova lei, e os partidos de esquerda a votarem contra. Julgo que a direita vai beneficiar no sentido em que a maioria dos portugueses é contra a imigração ilegal e excessiva. As esquerdas continuam a não perceber que estão do lado errado história. Não é a primeira vez e, desconfio, que não será a última.
QUARTA, 1
Cimeira em Copenhaga
O Conselho Europeu informal em Copenhaga pareceu quase uma cimeira da guerra. A anfitriã, a PM dinamarquesa disse que a Rússia iniciou «uma guerra híbrida contra a União Europeia». O PM polaco, Tusk, afirmou o mesmo na véspera. Macron e Merz disseram que existe «um confronto com a Rússia». O PM finlandês defendeu que a União Europeia também deve ser uma aliança de defesa.
A Europa enfrenta a crise mais grave desde 1945. Putin está a testar a defesa europeia e a coesão transatlântica para ver se derrota a União Europeia. A UE é a principal ameaça para a Rússia, não é a NATO. Como jovem oficial da GKB, Putin vivia na antiga Alemanha comunista. Viu que a reunificação aconteceu porque os alemães do ocidente eram ricos e os de leste eram pobres. Por isso, como Presidente da Rússia não pode permitir a entrada da Ucrânia na UE. Uma Ucrânia rica e livre é a maior ameaça ao seu regime na Rússia. A guerra na Ucrânia começou como uma guerra imperialista da Rússia. Entretanto, transformou-se numa guerra de defesa de sobrevivência do regime totalitário de Putin.