A história do Patriarcado de Lisboa remonta ao século XVIII, sob o reinado de D. João V e do pontificado de Clemente XI, durante o contexto geopolítico dominado pela ameaça otomana no Mediterrâneo. Foi nesse cenário que a Batalha Naval do Cabo Matapão se tornou palco da projeção portuguesa na arena internacional.
Com o Império Otomano a expandir-se perigosamente, o Papa apelou ao auxílio das nações cristãs da Europa. Portugal respondeu afirmativamente, não apenas por dever religioso, mas também como demonstração da sua força e prestígio. Assim, em 15 de julho de 1716, uma esquadra comandada por Lopo Furtado de Mendonça, Conde do Rio Grande, partiu de Lisboa rumo ao Mediterrâneo.
Face a esta tão prestável ajuda, o Papa Clemente XI concedeu ao então arcebispo de Lisboa o título de Patriarca, como reconhecimento da fidelidade do rei D. João V e da importância política e religiosa de Portugal. Esta decisão foi também influenciada pelo forte apoio do rei à Santa Sé durante um período de tensões entre potências europeias.
Dois anos mais tarde, em 1719, a Santa Sé criou oficialmente o Patriarcado de Lisboa, elevando a cidade a uma posição de prestígio comparável à de cidades como Veneza ou Jerusalém, que também tinham Patriarcas. Em 1737, a Basílica de Santa Maria Maior foi elevada a Sé Patriarcal.
Na estrutura da Igreja Católica, a maioria das dioceses são lideradas por bispos ou arcebispos. Um patriarca, porém, é um título mais elevado, tradicionalmente reservado a sedes muito antigas ou de grande importância. Os patriarcas têm funções semelhantes às dos arcebispos, mas o título é sobretudo honorífico, refletindo prestígio e tradição.
Lisboa é a única cidade do mundo ocidental com um Patriarcado fora das tradicionais sedes do Oriente e sem ser sede apostólica (como Roma). Esta distinção torna o Patriarca de Lisboa uma figura de particular relevância no contexto eclesiástico e nacional português.
O Patriarcado de Lisboa desempenha um papel central na vida religiosa do país. Além de liderar a Arquidiocese de Lisboa, o Patriarca participa frequentemente em cerimónias de Estado e possui um lugar de destaque no Colégio dos Cardeais, sendo muitas vezes nomeado cardeal pelo Papa.
José Manuel Maia
Docente da UP do Instituto Universitário Militar