Apesar de um cada vez mais ativo e empenhado envolvimento dos líderes nacionais na campanha eleitoral, as eleições deste domingo são eleições autárquicas, ou seja, locais e não nacionais.
Por mais leituras ou extrapolações que possam ser feitas ou retiradas dos resultados que o voto popular vier a ditar, o que está em causa é a escolha entre candidatos, dos partidos ou independentes, aos órgãos executivos e legislativos em cada um dos 308 concelhos do país.
É que estas são mesmo as eleições de maior proximidade entre eleitor e eleito, de maior identificação entre os cidadãos e seus representantes e de uma mais direta interação/responsabilização entre populações e respetivos governantes.
Claro que, feito o escrutínio, não faltarão ilações e conclusões a tirar, nomeadamente pelas principais forças políticas.
Valendo o que valem.
Desde logo, está fora de cogitações uma crise política e a convocação de eleições antecipadas, uma vez que o Presidente da República já se encontra na reta final do seu mandato e, como tal, tolhido do poder de dissolução da Assembleia da República.
Mas, por outro lado, sobretudo porque as dúvidas que se mantêm até ao último momento – confirmadas pelas várias sondagens que entretanto foram sendo divulgadas – permitem antever um dia muitas surpresas.
Ou nem por isso, tantas são as incertezas. E a principal é saber se os astros se alinharão todos para o mesmo lado ou se, no final das contas, acabaremos por ter uma celebração coletiva na noite de domingo, com todos os principais protagonistas da política portuguesa a cantarem vitória, à moda antiga.
Para o PS, só o facto de não vir a verificar-se uma hecatombe com a transferência de autarquias socialistas para o Chega já não será mau depois do resultado das últimas legislativas, que fez até os seus menos céticos temerem por um desaparecimento do partido à francesa. E uma eventual vitória de Manuel Pizarro no Porto, de António Braga em Braga ou de Ana Mendes Godinho em Sintra dariam a José Luís Carneiro um novo alento. Já para não falar numa menos provável vitória de Alexandra Leitão em Lisboa. Seja como for, o cenário mais negro para o PS está, pelo menos para já, afastado.
Quanto ao Chega, André Ventura sabe que não vai reeditar os resultados das legislativas, que lhe dariam mais de meia centena de câmaras, que inclusivamente ficará muito longe das 30 (metade do número de concelhos ganhos nas eleições de maio) assumidas como objetivo inicial, mas também tem a certeza de que o seu partido passará a ter uma implantação autárquica a que nem o Bloco de Esquerda nem a Iniciativa Liberal podem ambicionar e que pede meças ao PCP. Com a diferença substancial de estar em crescendo, enquanto a tendência dos comunistas é diametralmente oposta. Além disso, não foi à toa que André Ventura antecipou o anúncio da sua candidatura às presidenciais de janeiro. Foi, antes, precavendo um resultado eleitoral autárquico do Chega naturalmente abaixo do PS e do PSD.
Para o PCP, depois das perdas significativas de eleição para eleição, desta vez, mesmo com a provável derrota em Setúbal, o mais importante é estancar a sangria, com uma ou outra conquista compensadora. Para pior, já basta assim.
Também a lutar pela sobrevivência, o CDS tenta resistir nas seis câmaras que, concorrendo isoladamente, conseguiu manter em 2021. Mas mesmo cumprido esse objetivo o partido de Nuno Melo está irremediavelmente condenado a conservar-se como mero apêndice do PSD.
Já para o partido do Governo, se Carlos Moedas mantiver Lisboa e a diferença de câmaras para o PS for encurtada relativamente às últimas autárquicas, o balanço será positivo mesmo que possa haver algumas derrotas menos digeríveis.

O problema, mesmo, seria perder Lisboa, Porto e Braga para o PS. Nesse caso, nem conquistar o maior número de câmaras compensaria o azedume.
Em Lisboa, apesar das intenções de voto apontarem para um empate técnico, a verdade é que, invariavelmente, todos os estudos permitem dar Carlos Moedas como favorito, especialmente quando o confronto é feito entre qualidades e defeitos dos dois candidatos. Mas, há quatro anos, também o incumbente levava vantagem e a desmobilização do eleitorado deu no que deu.
Ou seja, vamos lá lembrar o internacional do FCP João Pinto, para quem «prognósticos… só no fim do jogo».