Era uma vez 2 amigos, o Miguel e o António, que na década de 80, movidos pela vontade de reforçar o pilar da segurança na jovem democracia portuguesa decidiram concorrer às Forças de Segurança, mas seguindo instituições diferentes.
O Miguel sonhava vestir a farda da PSP e patrulhar as ruas das grandes cidades, enquanto o António, por sua vez, preferia o policiamento nos meios menos urbanos e alistou-se na GNR, pensando que as suas carreiras caminhariam paralelas.
Os anos passaram, e o Miguel, na PSP, cedo descobriu o peso da distância, os custos das viagens regulares e do alojamento, vivendo assim, quase 15 anos. Pelo contrário, o António ficou quase sempre perto da sua terra natal e quando a carreira o levou para fora, a própria GNR tratou de lhe garantir alojamento. As diferenças iam-se acumulando, mas a amizade era cada vez mais forte por estarem a seguir os seus sonhos.
Quando chegou a fase final da vida ativa, os contrastes tornaram-se ainda mais evidentes. O António, da GNR, passou à reserva aos 55 anos, ainda com tempo e saúde para gozar a família, os netos e o campo, enquanto o Miguel, da PSP, teve de trabalhar mais 5 anos. Frustrantemente, enquanto António já descansava, Miguel continuava em turnos noturnos, a lidar com o desgaste físico e emocional da profissão.
Se estes 5 anos demoraram mais de 10 anos a passar, o desfecho nas contas da aposentação tinha ainda um cenário mais negro. O António levava para casa cerca de €2300, enquanto o Miguel recebia menos de €2000. Dois amigos, duas carreiras semelhantes em dedicação e risco, mas com destinos marcados por desigualdades profundas.
E assim a vida mostrou que, apesar do mesmo juramento de servir, nem todos são tratados por igual. Miguel e António continuaram amigos, mas a história deles ecoava como uma lição amarga sobre justiça, reconhecimento e o valor de quem protege.
Naturalmente que isto apenas podia ser estória…