A seleção nacional está muito perto de garantir, pela sétima vez consecutiva, o apuramento para a fase final de um campeonato do mundo. Muita coisa mudou no futebol português nas duas últimas décadas. Às desilusões de ver o Mundial sem Portugal, seguiram-se os apuramentos sofridos e, agora, qualificações quase perfeitas. A calculadora e a angústia da última jornada passaram à história.
O Estádio José Alvalade vai ser palco de dois jogos fundamentais, o que dá natural conforto à equipa das Quinas. Hoje, defronta a República da Irlanda (19h45) e, dia 14, joga com a Hungria (19h45). Estas eram, em teoria, as equipas mais fortes do grupo F, mas a Arménia tem vindo a surpreender e ocupa o segundo lugar, só que vai defrontar os mesmos adversários de Portugal, mas na situação de visitante.
A seleção tem pressa em garantir o primeiro lugar e o apuramento direto, como se percebe pelas palavras de Palhinha: «Queremos a qualificação o mais depressa possível. Se pudermos garanti-la já e festejar com os adeptos seria ideal». Esta atitude mostra a forma como a equipa de Roberto Martínez está comprometida com o objetivo de estar presente no torneio que se realiza nos EUA, Canadá e México, entre 11 de junho e 19 de julho do próximo ano. Vai ser o primeiro campeonato da história com 48 equipas, o que significa que o próximo campeão do mundo vai disputar oito jogos, mais um do que acontecia anteriormente.
Determinada a vencer
Depois do convincente triunfo na Liga das Nações, a seleção mostra-se unida e com fome de títulos. Portugal atravessa um excelente momento, tem 12 vitórias consecutivas – algo que nunca tinha acontecido –, e há o compromisso de lutar para continuar a vencer. O grupo tem enorme qualidade e falta integrar jovens talentosos como Rodrigo Mora, Mateus Fernandes e Quenda. O palco deles é, para já, os Sub-21, mas a qualquer momento podem dar o salto para a equipa principal.
O selecionador da República da Irlanda, Heimir Hallgrímsson, reconheceu isso mesmo: «Na seleção portuguesa quase todos jogam na Liga dos Campeões. Nós não temos jogadores suficientes a atuar ao mais alto nível, apenas quatro jogam regularmente pelos seus clubes na Premier League, por isso estamos num patamar diferente. Ainda assim, podemos ter um bom desempenho coletivo, mostrar profissionalismo e reconquistar a confiança dos adeptos. Acredito que esta equipa tem qualidade suficiente para se qualificar», concluiu. O site desportivo Transfermarkt confirma isso mesmo: Portugal está avaliado em 954 milhões de euros, ao passo que a República da Irlanda vale ‘apenas’ 212,7 milhões de euros e a Hungria fica-se pelos 178,9 milhões de euros.
Esta é a fase de apuramento mais rápida de sempre para Portugal (de setembro a novembro) e o histórico frente à República da Irlanda e Hungria é bastante simpático. Em 16 jogos contra os irlandeses, Portugal venceu nove, empatou três e perdeu quatro. Esta supremacia revela-se, igualmente, no goal-average, com 25 golos marcados e 11 sofridos. Exceto países com menor expressão futebolística, como o Liechtenstein ou Andorra, a Hungria é das poucas seleções contra quem Portugal nunca perdeu. Em 15 jogos realizados, a seleção nacional somou 11 vitórias e quatro empates, marcou 36 golos e sofreu apenas 12.
Se vencer os próximos dois jogos, Portugal iguala o recorde de quatro vitórias consecutivas no apuramento para o Mundial de 1966, com a equipa dos ‘Magriços’ de Eusébio, Coluna e Simões, entre outros. Fica também mais perto de repetir uma qualificação só com vitórias, como aconteceu no caminho para o Euro2024. A seguir, joga na República de Irlanda (13 de novembro) e recebe a Arménia, no Estádio do Dragão (16 de novembro). Cristiano Ronaldo pode também tornar-se o melhor marcador em fases de qualificação para campeonatos do mundo se fizer o ‘gosto ao pé’. Neste momento, está empatado com o internacional da Guatemala, Carlos Ruiz, com 39 golos. Mais uma vez, são os recordes que perseguem CR7…
Mentalidade ganhadora
No lançamento desta dupla jornada, o selecionador mostrou-se focado no imediato: «Esperamos uma Irlanda difícil e conhecemos a Hungria, que é muito forte. Não vou cometer o erro de olhar para a frente. Continuamos passo a passo com o foco no apuramento para o Mundial 2026», afirmou. Roberto Martínez fez uma declaração curiosa sobre o momento atual da seleção: «Percebemos que tínhamos de melhorar a resiliência e olhar para todas as seleções de olhos nos olhos. Estamos a fazê-lo e a melhorar a nossa competitividade». E até deu um exemplo: «Sofrer dois golos na Hungria normalmente não daria para ganhar».
A vasta experiência como selecionador levou-o ainda a acrescentar: «Há muitas seleções candidatas a ganhar o Mundial porque já o fizeram no passado, têm essa vantagem psicológica. Temos de trabalhar para chegar ao mesmo nível de confiança». Depois desta declaração, não escondeu o desejo de vencer o Mundial de 2026. «Soa-me muito bem», começou por dizer. «Ainda não garantimos a qualificação, mas sentimos que trabalhamos em prol de um objetivo e eu acredito em números. Os jogadores não escondem que o objetivo é vencer o Campeonato do Mundo. Todos merecem, o povo português merece». E apresentou as razões para esse sentimento de confiança: «O grupo tem três jogadores para cada posição. Temos diferentes estilos de jogo: podemos atacar rápido, defender baixo e marcar muitos golos em jogo aberto. Estamos a tornar-nos mais fortes».
O selecionador fez depois uma curiosa analogia: «A melhor prestação de Portugal num Mundial foi em 1966 [com o terceiro lugar] e Eusébio ganhou a Bola de Ouro. Em 2016, Portugal ganhou o Europeu. Portanto, 2026 soa-me muito bem para o Mundial», disse Roberto Martínez durante o Portugal Football Summit, que termina amanhã, na Cidade do Futebol, em Oeiras.
Esta visão histórica não anda longe do que pensa Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, que marcou presença no mesmo evento. «Portugal tem um espírito muito competitivo, uma grande escola de futebol e jogadores muito talentosos. Não consigo escolher o meu jogador favorito desta geração, porque têm uma equipa assustadora. Há sempre portugueses nas finais da Liga dos Campeões. Países com 50, 60 e 80 milhões de habitantes não estão perto do vosso nível. É fascinante. São, de certeza, um dos favoritos no Mundial do próximo ano», afirmou.
Numa observação ao que se passou até ao momento na fase de apuramento, as vitórias na Arménia (5-0) e na Hungria (3-2) colocaram Portugal no top 5 do ranking FIFA. Desde maio de 2021 que que a equipa das Quinas não estava tão bem posicionada. A seleção nacional é a segunda melhor na eficácia de passe com 92,5%, a Inglaterra é ligeiramente superior com 92,8%. No que diz respeito à posse de bola, Portugal tem um registo de 66%, atrás da Inglaterra (70%) e Alemanha (67,5%). A Noruega é a seleção mais concretizadora da fase europeia de qualificação com 24 golos em cinco jogos e o seu avançado Erling Haaland o melhor marcador com nove golos.