Não há dúvidas, nem para a CDU, de que o grande vencedor das eleições autárquicas foi o PSD: conseguiu mais presidências de câmaras, mais juntas de freguesia, e, acima de tudo, Lisboa e Porto.
É certo que o PS também poderá contar vitória pois conseguiu recuperar câmaras como Coimbra, Faro ou Bragança e, lá está, se quiser comparar os resultados das últimas eleições legislativas com as autárquicas terá razões para sorrir.
Como sabemos, as contas eleitorais dão sempre azo a leituras muito próprias, algumas das quais acabam por ser hilariantes. E se por vezes é útil misturar eleições autárquicas com legislativas, outras nem tanto. Digamos que depende do resultado que está em causa, o último.
É óbvio que as misturas valem o que valem, mas parece evidente que os eleitores votam de uma maneira nas Legislativas e de outra nas autárquicas e regionais. Olhemos, por exemplo, para a votação das legislativas de 18 de maio último e concretamente para o Algarve. Nessa noite, o Chega ficou à frente em 11 concelhos e o PSD/CDS em cinco. O PS não contou para esse campeonato. Menos de cinco meses depois, os eleitores foram chamados de novo a votar, agora para as autárquicas, e como votaram? O PS ganhou 11 concelhos, o Chega um, O PSD/CDS dois, a CDU um, e os independentes um também. O que terá mudado em apenas cinco meses? O tipo de eleições e os candidatos representarem verdadeiramente os eleitores locais?
Mas se quisermos comparar autárquicas com autárquicas, já as leituras podem ser bem diferentes. Peguemos outra vez no caso algarvio. Em 2021, o PS ganhou 12 concelhos, agora ‘ficou-se’ pelos 11, e perdeu eleitores, de cerca de 72 mil passou para 69 mil. Já o Chega, que não tinha chegado aos 11.500 votos, agora passou os 37 mil. Como facilmente se vê, as leituras cruzadas dão para tudo. Ah! Outro grande exemplo foi dado nas regionais madeirenses, onde o Juntos Pelo Povo se tivesse repetido a votação nas legislativas teria, seguramente, elegido mais do que um deputado.
Os partidos considerados mais citadinos ou burgueses têm sempre uma grande dificuldade de despirem as roupinhas modernas das cidades e conseguirem ‘falar’ para o Portugal profundo. Estão nesse caso, o BE, a IL, o PAN e o Livre, além do Chega, que é um caso à parte. O PCP, que sempre gozou de uma imagem de seriedade e competência camarária, parece estar a perder esse élan e não pára de perder câmaras, algumas históricas. A guerra na Ucrânia e o anticapitalismo primário continua a ser-lhes fatal. Já o BE caminha alegremente para o abismo, com as flotilhas e afins a contribuírem para esse fim. Praticamente uma não existência, se excluirmos os radicais que infernizam a vida às pessoas com as manifestações inenarráveis.
O Livre mostrou mais uma vez que se mexe muito bem nos salões do poder, mas que na vida real tem mais dificuldade em passar a ‘falsa’ imagem de moderado. A IL é uma espécie de Livre da direita e a mensagem não passa para o povo autárquico. O PAN no mundo rural terá tantas hipóteses como André Ventura na Feira do Relógio.
Nota final para o Chega que conseguiu quase triplicar o número de votos de umas autárquicas para a outra, mas que perdeu quase 800 mil votos das eleições legislativas de 2025.
P. S. O que dizer da reeleição de Pedro Santana Lopes e Isaltino Morais? Os dois dinossauros do poder autárquico estão aí para as curvas e mostram como se faz. E uma das grandes surpresas da noite talvez tenha sido o regresso de Luís Filipe Meneses a Gaia. O homem andou desaparecido, regressou e sentou-se de novo na cadeira do poder.