O mundo atingiu com os corais o primeiro de muitos pontos de inflexão do sistema terrestre, indica um relatório divulgado este domingo, realizado por 160 cientistas de 23 países. O relatório, feito pela Universidade de Exeter, Inglaterra, e parceiros, conclui que os recifes de coral de águas quentes, dos quais dependem quase mil milhões de pessoas e um quarto de toda a vida marinha, estão a ultrapassar o ponto de inflexão.
Os pontos de inflexão são limiares críticos do sistema terrestre que, quando ultrapassados, podem levar a mudanças abruptas e irreversíveis. “O facto de os recifes de coral de águas quentes estarem a ultrapassar o seu ponto de inflexão térmica é uma tragédia para a natureza e para as pessoas que dependem deles para alimentação e rendimento”, alertam os cientistas.
Em comunicado, a universidade diz que o mundo enfrenta agora uma “nova realidade”, após atingir “um dos muitos pontos de inflexão” que causarão danos catastróficos, a menos que a humanidade tome medidas urgentes.
A um mês da próxima cimeira da ONU sobre o clima (COP30), no Brasil, o segundo “Global Tipping Points Report” (Relatório Global de Pontos de Inflexão) diz que, sem essas medidas, os recifes estão perdidos.
O degelo, o colapso das correntes oceânicas e o declínio da floresta amazónica são os próximos pontos sem retorno, com riscos devastadores para pessoas e para o planeta.
“Estamos a aproximar-nos rapidamente de múltiplos pontos de inflexão do sistema terrestre que podem transformar o nosso mundo, com consequências devastadoras para as pessoas e para a natureza”, diz no documento Tim Lenton, da Universidade de Exeter.
Os cientistas concluem que o aumento da temperatura que desencadearia a morte generalizada da Amazónia é menor do que se esperava, com um limite inferior estimado em 1,5°C. Mais de cem milhões de pessoas dependem da Amazónia.
No colapso das correntes oceânicas destaca-se a Circulação meridional do Atlântico (AMOC), que transporta águas quentes do sul para o norte, o que ajuda a regular o clima na Europa.
Se a AMOC entrar em colapso, levará a invernos mais rigorosos na Europa, a perturbações na alternância entre estações seca e chuvosa na África Ocidental e na Índia, e à redução da produtividade agrícola em grande parte do mundo.