Regiões sem notícias mais suscetíveis a desinformação

Vários estudos apontam que a mitigação da desinformação pode ser eficaz através do fortalecimento dos meios de comunicação locais e do estabelecimento de uma relação de confiança com o público

Os territórios sem cobertura noticiosa tendem a registar maior propensão para fenómenos de desinformação, populismo e crises democráticas associadas a uma elevada abstenção eleitoral. A conclusão é de um estudo da Universidade da Beira Interior (UBI).

“Os desertos de notícias surgem em regiões distantes dos grandes centros, com baixa atividade económica, onde os antigos jornais não conseguem mais sustentar-se e a região não é atrativa para novos empreendimentos no setor”, começa por ler-se no estudo revelado esta segunda-feira. 

Desta forma, “este cenário é particularmente desafiador em tempos de disseminação rápida de desinformação a partir dos media digitais em contexto local”. Os autores do estudo explicam que os meios de comunicação digitais são vistos como a fonte principal de disseminação de desinformação local, devido à falta de verificação sobre o conteúdo que circula nas redes sociais.

Assim, a ausência de cobertura noticiosa local cria condições favoráveis à proliferação de desinformação, “amplificada pelo funcionamento algorítmico das plataformas digitais, que privilegiam popularidade e interação em detrimento da verificação e do rigor”.

“A emergência de desertos de notícias torna-se particularmente preocupante num contexto em que a desinformação se dissemina rapidamente através das redes sociais digitais, frequentemente sem qualquer filtragem jornalística”, afirmam os investigadores, citados pela agência Lusa. 

Neste sentido, “os territórios sem cobertura noticiosa tendem a registar maior propensão para fenómenos de desinformação, populismo e crises democráticas associadas a taxas elevadas de abstenção eleitoral”. “A pressão temporal e a escassez de recursos, identificadas em Portugal e Espanha, conduzem ainda a uma dependência excessiva de fontes oficiais”, o que resulta na erosão da esfera pública local e em “democracias casuais”.

Apesar disso, vários estudos apontam que a mitigação da desinformação pode ser eficaz através do fortalecimento dos meios de comunicação locais e do estabelecimento de uma relação de confiança com o público.

O estudo desenvolvido pelo LabCom – Unidade de Investigação em Ciências da Comunicação da UBI teve como objetivo “aprofundar a análise das suas implicações para a cidadania informativa, a democracia e a coesão social”.