Démodé é como está a Esquerda

Até o próprio termo francês caiu em desuso e, por isso mesmo, é mais certeiro. A esquerda woke e flotilheira já não tem tração. Caiu de podre. Ou de ridículo

As eleições locais de domingo, feitas as contas e apurados os resultados, deram uma vitória clara ao PSD e ao seu parceiro de Governo, o CDS, que conseguiu manter as seis câmaras a que concorreu sem a asa protetora da AD. E todas as demais forças políticas saíram penalizadas, quer por comparação com as eleições locais de há quatro anos (toda a Esquerda, do PS ao PCP– os dois partidos que perderam mais câmaras – ao Livre, BE e PAN, que por mais anos que passem não conseguem ter expressão nas autarquias), quer pelas expectativas que alimentaram e objetivos que inflacionaram após as legislativas de maio último (como foi o caso do Chega).

Para o partido de André Ventura, a conquista de três câmaras e mais de uma centena de mandatos, votações acima ou a rondar os 20% em concelhos de grande dimensão populacional como Sintra ou Loures, sendo notáveis para um partido com seis anos de existência, acabam por saber a pouco para quem elevou demasiado a fasquia e sonhou em roubar ao PSlargas dezenas de autarquias. Um erro de avaliação – aliás, raro – de André Ventura.

Se o partido já não é de um homem só, a verdade é que tem ainda muito poucos quadros que acrescentem valor político e eleitoral (veja-se, também, a composição do ‘governo sombra’). Éum facto que o próprio líder reconhece quando se vê na necessidade ou contingência de ter de aparecer ao lado de todos e cada um dos candidatos do partido nos cartazes espalhados país fora.

Já para o PSe partidos à sua esquerda, diga-se o que se disser, se não se reeditou a ‘hecatombe’ (qualificação de José Luís Carneiro) das legislativas, estas eleições traduziram-se numa derrota clara.

Não apenas porque, pela primeira vez em 50 anos, um só partido consegue o feito de juntar a maioria das Câmaras e das Juntas de Freguesia (e as presidências das respetivas Associações Nacionais) ao poder nas duas Regiões Autónomas (Açores e Madeira), ao Governo da Nação e, ainda, à Presidência da República.

Além disso, Lisboa, Sintra, Gaia, Porto e Cascais – os cinco maiores concelhos em população – ficaram todos na mão do PSD.

Ou seja, a Esquerda levou uma varridela total. Limpinho, limpinho, na linguagem futebolística de Jorge Jesus.

O fenómeno ultrapassa fronteiras e a tendência é europeia e mundial. Mas a Esquerda nacional continua a não querer perceber a realidade – que já nem é nova: o que estas eleições locais provaram não foi que o bipartidarismo voltou, foi, sim, que a Esquerda está fora de moda.

Lisboa é um exemplo paradigmático: o empate técnico que as sondagens davam entre a coligação de Direita e a frente de Esquerda (sem PCP) terminou com o eleitorado a dar uma vitória clara ao incumbente e uma pazada de todo o tamanho a quem já se anunciava como a ‘Mãe das Esquerdas renascidas’.

A ligação do PSao BE, ao Livre e ao PANfoi um fracasso total. Um puro engano. Com muito mais lisboetas a votar do que em 2021, a coligação liderada pelo PSsomou menos votos do que os quatro partidos tiveram há quatro anos. Enquanto a coligação de Direita, mesmo confrontada com um crescimento exponencial da votação no Chega, cresceu em número de votos e de mandatos.

E a diferença final foi tal que – ao contrário do que argumentam aqueles que acusam o PCP e João Ferreira de serem os responsáveis pela continuidade de Carlos Moedas à frente da Câmara da capital – não é nada líquido que se os comunistas tivessem alinhado no frentismo o novo presidente fosse outro.

Tudo visto e somado, não só Alexandra Leitão pode enfiar a viola no saco, como aqueles que afinam pelo seu diapasão podem rasgar a partitura. A começar por Pedro Nuno Santos.

E o PS, se quer, de facto, poder ‘voltar’, tem de saber retirar a lição.

Neste novo ciclo, em que o PCP agoniza rumo ao desaparecimento, em que o BE não vale mais do que o flop da flotilha, em que o PAN já só cansa e o Livre não passa de um fogacho, o PStem de ser pragmático e deixar de insistir numa ilusão programática ultrapassada, até ridícula.

O que o povo quer é quem enfrente e lhe resolva os problemas. 

E a Esquerda ou não está a querer ver quais são os verdadeiros problemas ou não tem soluções para eles.