A semana (11 a 16 de outubro)

O Chega também precisa de aprender mais três lições. André Ventura não é suficiente para ganhar muitas câmaras. O partido precisa de mais figuras credíveis. O voto de protesto é muito mais fraco localmente do que no plano nacional. E a ideologia conta também muito menos.

Sábado, 11. Acordo de paz em Gaza

Foi anunciado o acordo de paz em Gaza. A primeira boa notícia tem a ver com a libertação dos reféns presos pelo Hamas. Entretanto, já foram libertados. 

Há, no entanto, pontos importantes por clarificar. Em primeiro lugar, qual será a natureza da força de paz? Idealmente, será composta por países árabes e muçulmanos. Seria um erro enviar tropas de países europeus. A Turquia, como antiga potência colonial, também não deveria enviar tropas. Quanto tempo ficará a força de imposição da paz em Gaza? Em princípio, três anos, mas será suficiente? E quando sair,
que forças de segurança a irão
substituir?

Há também muitas dúvidas sobre a autoridade política em Gaza. Aparentemente, Trump propôs Blair para chefiar a autoridade política de transição. Seria um disparate. Gaza não precisa de uma espécie de “governador colonialista”.

O maior desafio será o desarmamento do Hamas. Os seus membros irão resistir e não será possível desarmá-los sem violência. Como se vê, as tropas israelitas saíram de Gaza, e o Hamas já anda a matar pessoas em Gaza, sem julgamentos. São execuções sumárias, próprias de um grupo revolucionário e terrorista. Gostava de ouvir os membros da flotilha sobre as execuções sumárias
do Hamas. 

Domingo, 12. Grande vitória do PSD e da AD

A noite das eleições autárquicas foi extraordinária em muitos aspetos. Os ‘empates técnicos’ permitiram muitos disparates. A SIC Notícias, a RTP Notícias e a CNN estiveram muito alinhadas. Sem saberem os resultados finais, construíram uma narrativa assente em três pontos: bom resultado do PS, grande derrota do Chega, e vitória muito pequena de Moedas em Lisboa.

Nada disto se confirmou (como veremos mais em baixo). Vejamos o caso de Lisboa, Moedas ganhou com 8% de avanço em relação a Alexandra Leitão, ficou perto da maioria absoluta e conquistou trinta mil votos em relação há quatro anos. Gostava que me explicassem como este resultado é uma vitória curta.  

Além da capital do país, o PSD e a AD ganharam em todas as frentes. Ganharam o maior número de câmaras, venceram no voto popular, conquistaram os concelhos mais populosos, e vão governar o maior número de capitais de distrito (10 contra 9 para o PS). Muitos quiseram fazer uma leitura nacional dos resultados das eleições autárquicas. Há uma leitura clara. Os portugueses deram um voto de confiança ao Governo liderado por Montenegro.

Segunda, 13. A grande derrota do PS

Os dirigentes celebraram a vitória do PS sobre o Chega. Vou repetir: o PS celebrou a vitória sobre o Chega. Ou seja, um dos dois grandes partidos do regime democrático nos últimos 50 anos, um partido que tinha ganho as últimas quatro eleições autárquicas ficou satisfeito porque derrotou um partido com seis anos de existência que nunca havia conquistado uma câmara. Não me lembro de uma confissão de fraqueza tão grande por parte dos socialistas.

O PS tem muitas razões de preocupação. Como mostraram as últimas eleições legislativas, perderam os votos de todos os escalões etários entre os 18 e os 65 anos. Só ganharam entre os reformados. Mas mesmo entre os pensionistas, estão a perder votos. Pior, estas eleições autárquicas mostraram que também estão a perder as classes médias urbanas. Foram derrotados nos conselhos mais populosos e das cidadãs mais importantes, apenas ganharam em Coimbra. Houve mesmo um momento patético da noite eleitoral. Quiseram convencer os espectadores que Bragança, Viseu Évora e Faro eram os distritos mais importantes do país.

Loures foi o conselho mais populoso onde o PS venceu. É verdade, o maior vencedor socialista das eleições autárquicas foi Ricardo Leão. O autarca desprezado pelas elites socialistas bem-pensantes e que foi alvo de um artigo assinado por vários dirigentes do PS, incluindo António Costa a partir de Bruxelas. Leão deu uma lição ao seu partido. Um PS realista, centrista e que ouve os cidadãos pode ganhar eleições. Um PS esquerdista, ideológico, que ignora os eleitores perderá sempre eleições. Dito de outro modo, o OS anti Bloco ganha. O PS aliado do bloco perde. Desconfio que a derrota de Alexandre Leitão irá marcar o fim do esquerdismo no PS.

Terça, 14. O crescimento e as lições para o Chega

Os votos no Chega cresceram cerca de 500% em relação a 2021. Um resultado destes é uma vitória em qualquer parte do mundo. Mas o partido ficou muito aquém das ambições do seu líder, que falou em conquistar 30 câmaras. Ganharam apenas 3. Assim, os 500% transformaram-se em 10% dos objetivos. A gestão das expectativas é fundamental em política.

Mas o Chega também precisa de aprender mais três lições. André Ventura não é suficiente para ganhar muitas câmaras. O partido precisa de mais figuras credíveis. O voto de protesto é muito mais fraco localmente do que no plano nacional. E a ideologia conta também muito menos.

Quarta, 15. A presidência de Macron acabou

Macron abdicou da sua reforma mais importante, o aumento da idade de reforma de 62 para 64 anos, para evitar eleições antecipadas. Toda a gente em França e fora do país percebeu que Macron não marca eleições antecipadas porque sabe que os partidos que o apoiam seriam derrotados. Em democracia, quando um político tem medo de eleições, acabou. Nunca terá o respeito dos eleitores.

Até abril de 2027, Macron será um Presidente sem poder. Será terrível num país com um sistema presidencial, radicalizado e polarizado. Num país sem Presidente, as coisas vão acabar muito mal.

Quinta, 16. As divisões no PS

José Luís Carneiro disse ao país que o Chega foi o grande derrotado das eleições autárquicas. Pedro Nuno Santos disse que o Chegou não perdeu e teve um bom resultado. Tem razão, e sobretudo teve que se defender porque quiseram fazer dele o grande responsável pelo crescimento do Chega. PNS fez muitas asneiras, mas não o culpem por tantos portugueses votaram no Chega.

José Luís Carneiro disse que o PS teve um bom resultado e que recuperou o seu estatuto de grande partido político. Duarte Cordeiro considera que o PS sofreu uma grande derrota.

José Luís Carneiro vai forçar o PS a abster-se na votação do orçamento. Fernando Medina discorda. E Mário Centeno ainda não falou.

Finalmente, o PS vai declarar o apoio a António José Seguro nas eleições presidenciais, depois de ter andado a tentar encontrar outro candidato durante meses. Um candidato que foi humilhado pelo partido quando António Costa conquistou a liderança dos socialistas, e que metade do PS continua a detestar.