Impresa. A queda de  um império

O grupo de media tem atravessado vários problemas financeiros. Em 2024 apresentou as maiores perdas de sempre e este ano os prejuízos repetiram-se. Tentativas de salvação sucedem-se e venda ao grupo italiano MFE pode ser a única saída

Os últimos anos não têm sido fáceis para o grupo Impresa, dona do Expresso e da SIC. As grandes perdas foram registadas em 2024, quando apresentou um resultado líquido negativo de 66,2 milhões de euros, o pior resultado de sempre. Já nos primeiros seis meses deste ano apresentou prejuízos de 5,1 milhões de euros. É preciso recuar a 2017 e a 2023 para voltar a encontrar valores negativos: 21,6 milhões e 2 milhões de euros, respetivamente. 

Em 2024, a dívida remunerada líquida registada no final desse ano foi de 130,9 milhões, o que levou a empresa a explicar que, «não obstante os esforços de controlo e redução do endividamento da Impresa desde 2008, este indicador registou um acréscimo de 13,3% relativamente ao final de 2023». Números que levaram o grupo a anunciar a implementação de um plano para redefinir e reduzir a base de custos em 10% e a avançar com a hipótese de vender a sede do grupo.

Uma operação que não conseguiu ver a luz do dia. Este ano, o negócio com o BPI Imofomento para a venda do edifício-sede por 37 milhões de euros borregou, depois de as duas partes não terem chegado a um acordo final quanto às condições da transação. Não era a primeira vez que a Impresa tentava uma operação deste género. Em 2018, vendeu o edifício-sede ao novobanco e encaixou 24,2 milhões de euros, mas recomprou-o quatro anos mais tarde. 

Para contornar este fracasso, o grupo foi obrigado a arrendar uma parte significativa das instalações situadas em Laveiras, num total que ultrapassa os 1.500 metros quadrados distribuídos por três pisos e a pôr em marcha o plano de venda do grupo que foi oficializado no final de setembro.

Ao Nascer do SOL, o analista da XTB Vítor Madeira admite que a «empresa atravessa dificuldades há vários anos», as receitas «têm mostrado estagnação desde, pelo menos, 2021», o EBITDA «revela uma tendência de enfraquecimento, com quedas em seis, dos últimos oito semestres, face aos períodos homólogos» e também as margens operacionais têm «vindo a deteriorar-se».

E acena com os resultados do final do último exercício ao apresentar perdas recorde, «resultantes essencialmente da desvalorização dos seus ativos», em que o  capital próprio caiu cerca de 50% nos últimos 12 meses e a dívida líquida já ultrapassa quase duas vezes o capital próprio:«Um sinal claro de pressão financeira e risco de solvabilidade», resume, acrescentando que, além disso, «uma parte relevante do balanço corresponde a goodwill – um ativo intangível cujo valor é, neste momento, questionável, e poderá vir a ser sujeito a imparidade adicional». Fatores que, para o analista, «explicam a passagem de uma situação lucrativa para uma posição de prejuízo estrutural, elevando significativamente o risco de insustentabilidade financeira».

Grupo de Berlusconi é a ‘salvação’

O principal interessado na compra da Impresa é o grupo italiano da família Berlusconi, MediaForEurope (MFE). O negócio envolveria a possível compra de uma participação maioritária da Impresa pela MFE – 75% do capital da Impreger (holding que controla a Impresa) –, o que obrigaria a lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA). 

 A Impresa já esclareceu que a MFE poderá adquirir uma participação relevante, mas o Nascer do SOL sabe que uma das contrapartidas pedidas por Francisco Pinto Balsemão é que o filho Francisco Pedro permanecesse na gestão do grupo. O seu desaparecimento, entretanto, poderá acelerar o desfecho do negócio.

Em cima da mesa esteve ainda a possibilidade da venda à família Soares dos Santos, detentora do grupo Jerónimo Martins. No entanto, o negócio acabou por cair por terra porque os donos do Pingo Doce queriam o controlo total do grupo de media e Balsemão nunca o aceitou.

Questionado sobre se a venda é a única salvação para o grupo Impresa, Vítor Madeira defende existirem outras alternativas. «A empresa pode também recorrer a aumentos de capital, reestruturação operacional, redução de custos, alienação de ativos não estratégicos, ou ainda investimentos em inovação e tecnologia para recuperar competitividade». No entanto, diz que tudo vai depender «da capacidade de execução e do interesse de potenciais investidores em suportar um processo de recuperação que, claramente, exigirá tempo e capital».

Ações mexem

Desde que as negociações da venda do grupo foram anunciadas, as ações da Impresa atingiram um valor em bolsa que não conseguiam há quatro anos. Por essa altura, o Banco Carregosa falava numa valorização superior a 21 milhões, admitindo, no entanto, «que a subida repentina beneficia do habitualmente baixo volume de transações dos títulos, que promove um clima de maior volatilidade perante algo fora do comum, como é o caso». 

Vítor Madeira adianta ainda que «o comportamento das ações reflete a trajetória financeira da empresa», lembrando que, desde 2014, «os títulos têm vindo a seguir uma tendência descendente sustentada, estabilizando apenas num movimento lateral entre 2018 e 2022». E recorda que o valor disparou devido às notícias sobre uma possível aquisição do grupo, o que, no entender do analista, «introduziu um movimento especulativo de curto prazo», não permitindo a ‘salvação’ da Impresa. «Do ponto de vista fundamental, a empresa continua a apresentar problemas sérios de solvabilidade e liquidez. Sem uma mudança estrutural no modelo de negócio, ou sem entrada de capital externo, é difícil justificar uma valorização sustentável no longo prazo».