‘Mistérios pervertidos’ de César Monteiro no MoMA

César Monteiro – aliás, o seu alter ego João de Deus – no inesquecível Recordações da Casa Amarela (1989)

O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) apresenta até 6 de novembro a retrospetiva João César Monteiro: Symphonies of a Libertine, na qual serão projetadas quase todas as obras do influente e provocador realizador português.

Entre os filmes exibidos contam-se marcos como Silvestre (1981), Recordações da Casa Amarela (1989), A Comédia de Deus (1995) e Branca de Neve (2000), a sua última obra, uma experiência quase integralmente sonora, uma vez que o ecrã se apresenta completamente preto durante quase todo o filme. «Dizem que não sei filmar…», comentou César Monteiro na antestreia, no Cinema Monumental.

«Monteiro inspirou-se no Marquês de Sade e nos movimentos literários simbolistas e surrealistas para trazer um espírito anarquista e anticlerical aos seus filmes», refere o comunicado do museu norte-americano. «Um verdadeiro libertino, Monteiro subverteu tendências e definições numa obra que, na linha de Erich von Stroheim, se centra nos mistérios pervertidos do prazer, da decadência e da tradução poética do sublime para a arte — seja no cinema, na música ou na literatura —, ao mesmo tempo que atacava um status quo sociopolítico corrupto que identificava com o fascismo nas suas múltiplas formas. Estas tendências materializam-se no seu alter ego, João de Deus (em homenagem a um santo padroeiro português dos pobres, dos doentes mentais e das trabalhadoras do sexo)». Em Recordações da Casa Amarela, por exemplo, o próprio cineasta representava o papel de um homem obcecado por pelos púbicos femininos…

A retrospetiva é organizado por Francisco Valente, crítico de cinema, programador, realizador e assistente curatorial do Departamento de Cinema do MoMA, e ainda autor de Espelho Mágico – Uma História do Cinema (ed. Orfeu Negro).