Argentina. A liberdade continua a avançar

Milei venceu as intercalares de forma clara e tem a porta aberta para ‘implementar as suas reformas estruturais’, diz Telmo Azevedo Fernandes.

O La Libertad Avanza (LLA) venceu as eleições intercalares argentinas do passado domingo. Os eleitores foram às urnas depositar um voto de confiança no partido liderado pelo atual Presidente do país, Javier Milei, respaldando assim uma administração que tem sido, desde o primeiro dia, controversa.

Os resultados, ao contrário de várias previsões e sondagens, acabaram por revelar uma vitória categórica do LLA, que conquistou 41% dos votos contra 33% da oposição. Esta percentagem transforma-se em 101 deputados (tinha 37 antes das eleições) e 20 senadores para o partido do governo, que, ao vencer 15 das 24 províncias da Argentina, conseguiu pintar o mapa de roxo (cor do partido). Além disto, a iniciativa de Javier Milei conseguiu vencer na capital, Buenos Aires, um dos grandes bastiões da oposição peronista (descendentes políticos do ex-líder Juan Domingo Perón). O poder do LLA fica, assim, claramente fortalecido.

O objetivo a que Milei se propôs, o de conseguir pelo menos um terço do Parlamento, foi cumprido, permitindo-lhe assim utilizar o poder do veto presidencial contra iniciativas legislativas da oposição. Ainda que a maioria absoluta não tenha sido atingida, há esperanças de que se possa vir a formar com outros partidos de menor dimensão, como é o caso do Pro, partido do ex-presidente Mauricio Macri.

Milei, visivelmente satisfeito com o resultado eleitoral, agradeceu aos argentinos pelo «enorme ato cívico» e «a todos aqueles que continuaram a abraçar e apoiar as ideias de liberdade para tornar a Argentina grande novamente». Depois dos agradecimentos, reforçou a ideia de que o resultado destas eleições marca um ponto de inflexão no cenário político do país: «O povo argentino decidiu deixar para trás cem anos de decadência e persistir no caminho da liberdade, do progresso e do crescimento. Hoje ultrapassamos o ponto de inflexão; hoje começa a construção da grande Argentina».

Destaque internacional

Estas eleições intercalares foram, naturalmente, alvo de destaque internacional, tanto pela importância quanto pelo mediatismo que Milei tem angariado nos últimos dois anos. E a reação mais mediática foi a de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos e um aliado de Milei, que, ao seu estilo habitual, tentou tirar alguns louros da vitória do LLA. «Uau!», disse Trump aos repórteres a bordo do Air Force One, «foi uma grande vitória! Na Argentina, quero felicitar o vencedor. Ele foi um GRANDE vencedor, teve muita ajuda da nossa parte!». «Foi inesperado!», acrescentou. A ajuda a que Trump se refere é certamente o apoio que a sua administração recentemente prestou à Argentina, avaliado em cerca de 40 mil milhões de dólares.

Também nos jornais de referência, particularmente o Financial Times e o Wall Street Journal, a revista The Economist. Nos primeiros dois, Milei foi destaque de capa. No FT de 28 de outubro, junto a uma fotografia do líder argentino, pode ler-se: «Títulos argentinos e peso valorizam-se após vitória de Milei nas eleições intercalares ter resgatado as reformas». O WSJ sublinhou que «o resultado, mais forte do que a maioria das sondagens havia previsto, dá a Milei um novo impulso político após meses de agitação devido aos profundos cortes nos gastos e à recessão severa do ano passado. Também reforça a sua posição junto a Washington e ao Fundo Monetário Internacional, que condicionaram o apoio financeiro futuro à sobrevivência da sua experiência de austeridade». A The Economist foi mais longe: «O sucesso de Javier Milei nas eleições intercalares da Argentina demonstra o poder das mensagens económicas duras, mas coerentes, proclamadas com clareza e convicção». «Há lições a aprender para o resto do mundo», conclui.

Mas Telmo Azevedo Fernandes, presidente da Oficina da Liberdade, em declarações ao Nascer do SOL, não esquece outro tipo de cobertura mediática, a quem tece duras críticas: «Os resultados eleitorais surpreenderam sobretudo os órgãos de comunicação social, não o povo que vota e acredita na liberdade!». «De Lisboa a Bruxelas», continua, «as redações dos jornais e das televisões esperavam ansiosas pelo fracasso das reformas argentinas. Daí a perplexidade de muitos jornalistas face aos resultados. Pavoneiam-se como guardiões da razão, mas nem depois de difamar Milei e veicular mentiras e narrativas capciosas, são capazes de esquecer a sua condição de ativistas ideológicos da esquerda progressista para relatar factos e informar com o mínimo de isenção sobre o voto popular».

O significado

Esta vitória pode ser o ponto de viragem que Milei procurava para alavancar o seu projeto de reformas estruturais, uma vez que o peronismo fica mais enfraquecido que nunca.

Telmo Azevedo Fernandes sublinha que estas eleições intercalares eram «cruciais» para o Presidente argentino. «O governo estava fragilizado após a recente derrota na província de Buenos Aires», disse, «e a oposição salivava pela oportunidade de bloquear e até desalojar Milei do poder». «Em termos de consequências políticas, apesar de continuar sem maioria absoluta em ambas as câmaras, Milei evita qualquer risco de destituição e garante poder de veto presidencial efetivo para bloquear eventuais leis populistas de aumento da despesa pública». «O resultado», continua , «obriga a oposição moderada a dialogar com o governo e Milei ganha margem e poder negocial em futuras alianças com forças não peronistas», abrindo assim espaço para «dois anos com um mandato político claro para implementar as suas reformas estruturais e entregar mais resultados aos argentinos na melhoria da sua qualidade de vida e para a estabilização do país».

Quanto ao futuro do liberalismo enquanto doutrina estabelecida nas mais altas esferas da política, o presidente da Oficina da Liberdade, que recentemente editou o livro Javier Milei: A Causa da Liberdade de Philipp Bagus, diz que, «no prefácio que o próprio escreveu para o livro que lançámos, Javier Milei constata que Portugal tem um povo extraordinário que merece ser livre. E refere que este trabalho da Oficina da Liberdade é um contributo para a guerra cultural pela liberdade que se globalizou». «O fundamental para a causa da liberdade», acrescenta Telmo Azevedo Fernandes, «é que cada um de nós a exerça. Através do voto, certamente, mas em muitos mais aspetos da nossa vida quotidiana. A causa da liberdade é, no fundo, uma causa cultural. Uma transformação de valores. É uma causa que nunca termina. A vitória na Argentina é um farol de esperança. É um exemplo de superação do medo, de coragem cívica. A lição argentina é clara: a liberdade custa; exige enorme responsabilidade individual».