Carlos Zorrinho: “Não sei se Isaltino registou a patente de promover restaurantes”

De Bruxelas para Évora. O antigo eurodeputado, que jogou futebol federado, acredita que irá colocar a cidade no mapa do turismo de qualidade, e diz preferir sopa de cação a ensopado de borrego.

Em maio de 2024 não se via a concorrer à Câmara de Évora. Pensava no regresso ao ensino superior ou em ações humanitárias pelo mundo. O que o fez mudar de ideias?             
Foi o desânimo que encontrei na minha cidade. A falta de ambição e de estratégia. A aceitação passiva de um futuro baseado no passado e acomodado no presente. Évora conjuga uma enorme riqueza patrimonial, a segunda mais antiga Universidade Portuguesa, um centro histórico património mundial da humanidade, centros de conhecimento e empresas de ponta, freguesias rurais com enorme diversidade e identidade, apostas com sucesso em áreas tecnológicas emergentes e um tecido associativo muito rico em todos os setores. Foi escolhida para ser a Capital Europeia da Cultura em 2027. É reconhecida pela sua gastronomia de excelência e acolherá em breve o novo Hospital Central do Alentejo. Tem um posicionamento geográfico muito favorável no triângulo Lisboa, Madrid, Sines.

Senti o apelo para concorrer, acompanhado por uma grande equipa, à presidência da Câmara Municipal de Évora e impulsionar uma vaga coletiva capaz de retirar Évora da letargia, resolver as emergências e transformar o concelho.

Évora tem uma população muito envelhecida, como pensa ‘levar cegonhas’ para o concelho?
Criando condições para que as “cegonhas” encontrem ninhos acessíveis, adequados a uma vida digna, através da recuperação de fogos devolutos ou degradados e da criação de um espaço de habitação que junte empreendedores, promotores, financiadores e decisores, para seja possível colocar no mercado nos próximos anos a habitação de diferentes tipologias, que o concelho necessita.

Vamos ver por Évora vários ex-colegas do Parlamento Europeu? Pensa que a cidade pode aumentar muito o turismo?
Vai aumentar a qualidade do turismo e da experiência de quem nos visita. Os meus ex-colegas do Parlamento Europeu que me visitam acham sempre pouco o tempo que estão em Évora e prometem voltar com mais tempo. Vamos criar condições para aumentar a estadia média dos turistas em Évora aproveitando e dinamizando todos os setores que com ele estão interligados.

Que lojas históricas não deixará passar para lojas de souvenirs?
Quero animar de forma sustentável o centro histórico e os espaços de referência dos bairros e das vilas e aldeias do concelho. O apoio à modernização das lojas históricas é o melhor antídoto à dinâmica da profusão excessiva de lojas de souvenirs, que também são necessárias e que devem ser incentivadas a apostar nos produtos e no artesanato local.

Da gastronomia de Bruxelas para Évora é natural que consuma mais calorias. Vai aumentar o seu tempo de corrida diária?
Terei que conciliar uma função que sei que é exigente em tempo, com as minhas corridas quase diárias, que me dão equilíbrio, bem-estar e folga calórica para usufruir da gastronomia alentejana. Acredito que vou encontrar uma fórmula, nem que seja a de “trabalhar” em corrida, porque ter que “correr” no trabalho é mais do que certo!

Ensopado de borrego ou sopa de cação? E qual a sobremesa que não pode faltar no fim de uma refeição?
Sopa de Cação. Como sobremesa adoro pão de rala, acompanhado por um bom café expresso.

Imagina-se a promover na rede X os restaurantes e os produtos de Évora?
Não sei se Isaltino Morais registou a patente! Mas imagino, não apenas na rede X, mas em todas as redes, não apenas sociais, e com um modelo criativo que me salve da acusação de plágio!

Jogou futebol no Giesteira e no Escouralense, entre outros clubes.  Acredita que algum clube de Évora poderá voltar à primeira divisão nos próximos tempos ou pensa que é impossível?
Joguei nesses e em alguns mais. Foi a jogar à bola que primeiro conheci muitas zonas do país. Como adepto de futebol choca-me que não haja nenhum clube na primeira divisão a sul do Tejo e gostaria que Évora pudesse ajudar a contrariar essa distorção geográfica no nosso Futebol Profissional.

Qual a lenda que mais aprecia da cidade?
Imagino por vezes quão bela e apaixonada seria a moura que abriu as portas do Castelo de Évora a Geraldo sem Pavor!

O que pensa das anedotas sobre alentejanos e da sua suposta vagareza?
O vagar do Alentejo vive-se e desfruta-se e até puxa pela criatividade, pela caricatura e pelo riso. É perfeito.

Alguma vez sofreu de ‘bullyng’  por ser ‘alentejano’?
Não. Só senti “inveja” de quem gostava de ter nascido numa vila tão maravilhosa como Óbidos e ter sido adotado por numa cidade tão excecional como Évora.

Nasceu em Óbidos mas andou por Maputo, Luanda até se radicar em Évora. O que pensa ‘aplicar’ dessas e de outras experiências que teve pelo mundo?
Aprendi que quando os contextos são voláteis se deve apostar em trabalhar sobre as soluções e não sobre os problemas. É isso que tentarei fazer em Évora para acelerar as respostas que todos anseiam.