No imaginário coletivo dos assaltos a bancos, os ladrões sossegam os anónimos clientes de bruços no chão das agências garantindo-lhes que nada perderão porque a companhia de seguros cobrirá o prejuízo. No Novo Banco, o assalto fez-se ao contrário: o prejuízo foi coberto pelos anónimos contribuintes. Pelo Estado. O Estado que pagou para vender um ‘banco bom’ em que um terço do balanço era ‘mau’, o Estado que fez assistencialismo ao fundo Lone Star que agora se repimpa de lucros, o Estado que tem a expectativa de receber dois mil milhões de euros depois de ter injetado 3,4 mil milhões nas coberturas de prejuízos em cima de 4,9 mil milhões aquando da criação do Novo Banco.
Pelo caminho, venderam-se ativos entre o barato e o desbarato, porque o modelo desenhado pelo Estado não só permitia como implicava tal pressa. Até que, num golpe entre o sentido de justiça e o sentido de humor, a Polícia Judiciária desmanchou alguns prazeres e, no mesmíssimo dia para o qual o governo marcara a assinatura pública da venda do Novo Banco, uma centena de investigadores da Judiciária fez buscas em casas e gabinetes por suspeitas de crimes de corrupção e de burla em negócios obscuros, incluindo os feitos em alegado benefício do então responsável da área de imobiliário, em aparente situação de conflito de interesses.
Em bom português: vender abaixo do preço real.
Negócios como este foram sendo noticiados sobretudo por uma jornalista do jornal Público, Cristina Ferreira, o que foi gerando grande irritação no Novo Banco. Incluindo o negócio em que o Novo Banco vendeu por uma bagatela uma quinta à mulher do responsável da área de imobiliário. Coisa fina.
Esta história, que acaba com prémios de mais de mil milhões de euros para distribuir entre acionistas e gestores de topo do banco, termina com várias lições e poucas são boas. A pior de todas, no entanto, é a cupidez desenfreada da Lone Star ante a estupidez que presumiram das autoridades portuguesas. O Novo Banco salvou-se como descendente do desonrado BES e isso foi um grande feito mas não foi milagre, foi mérito da gestão, sim, e sobretudo dos trabalhadores que contactam todos os dias com os clientes. E esses acabaram como os anónimos nas agências do banco, com uma palmadinha nas costas e zero vírgula zero de prémio ou recompensa, perante a indiferença do Estado-seguradora que quis festejar o negócio num salão nobre afinal pobre de dignidade.
É uma vergonha.
Trabalho
O crescimento económico e as receitas fiscais em Portugal resultam sobretudo de haver muita gente a trabalhar, e portanto a descontar para a segurança social, a pagar impostos e a consumir. É um castelo frágil, sujeito a oscilações abruptas. Para já, tudo vai bem: trabalham hoje em Portugal 5,624 milhões de pessoas, o valor mais alto desde 1998. Para o ano logo se vê: este é o maior risco que enfrentamos, uma quebra do emprego.
Orçamento
O imposto sobre os combustíveis vai subir quanto? Não sabemos. O IVA descerá para toda a construção? Não sabemos. Todos os senhorios vão passar a pagar IRS mais baixo ou apenas os que coloquem novas casas no mercado de arrendamento? Não sabemos. Mas acaba de ser aprovado um Orçamento do Estado com estimativas de receitas de todas estas medidas que nós não sabemos.
Bruxelas
A União Europeia é o álibi perfeito para as decisões impopulares. No aumento do ISP, assim será de novo: temos de subir impostos porque Bruxelas obriga. Uma maçada.