No domingo da semana anterior, o jornal Público publicou um artigo que descrevia as inúmeras ‘rebeliões’ dos jovens ocorridas em várias partes do mundo.
O que têm de comum e expressam de muitas maneiras é uma insatisfação geral com as dificuldades de vida presente e a falta de expectativas num futuro que as possa superar.
De tanto se rirem dos ‘amanhãs que cantam’, aqueles contra quem as ditas revoltas são, hoje, dirigidas esqueceram-se de que sem perspetivas de futuro lhes é impossível continuarem a justificar o ‘sombrio presente’ a que condenaram as novas gerações que lhes hão-de suceder.
Todos esses jovens começaram, pois, a ver com clareza que o seu futuro será, porventura, ainda pior do que o seu presente.
E perceberam mais: perceberam que, afinal, não é, como dizem, necessário aumentar a produção para que seja possível e razoável exigir uma melhor distribuição da riqueza.
O fosso entre os rendimentos de um trabalhador de base de uma grande empresa e os do CEO da mesma cresce, com efeito, todos os anos independentemente das circunstâncias económicas.
Foi necessário aumentar a produção para que o dito CEO visse os seus rendimentos crescerem?
Não, não foi!
Mais preparados, os jovens começam, por fim, a entender que a ideia de que a desproporção dos rendimentos de uns e outros pouco tem a ver, finalmente, com o maior ou menor crescimento económico.
Mantendo-se a mesma política, a injusta repartição dos rendimentos é independente da maior ou menor riqueza produzida.
É uma opção política e não uma resultante da economia.
Os pais, mesmo com rendimentos modestos, puderam, ainda assim, arrendar ou adquirir uma casa que albergasse a família.
Os jovens nem sequer podem constituir família, pois com o que auferem com o seu trabalho – mais qualificado, aliás – nem uma casa pequena e decente conseguem arrendar ou adquirir.
É, pois, uma vez mais, com o foco nesta injustiça – a injusta distribuição da riqueza – que as novas revoltas referidas no Público se vão sucedendo e alargando.
Por ora, ainda a poderosa máquina de manipulação da opinião pública, alimentada pelos que querem que tudo assim continue, consegue desviar tal revolta em favor dos populistas, que todos os dias e por todas as maneiras promovem.
Estes, assumindo embora demagogicamente tal injustiça como causa de luta, conseguem afastar a reflexão racional sobre a sua razão de ser promovendo reações atávicas e emocionais alheias à política económica seguida nos respetivos países.
Encontram, pois, nos culpados de sempre – os estrangeiros, os imigrantes, os refugiados e qualquer um que seja diferente e mais fraco – a justificação para tal injustiça.
Se conseguirem ocupar ou influenciar o poder – como vamos observando já nos EUA – veremos, depois, as liberdades murchar e os direitos políticos e sociais minguar.
Com mais ou menos rudeza, iremos ter novas ditaduras que se antagonizarão, real ou ficticiamente, para impedir – como já acontece na guerra do leste europeu – que se perceba que o mal está dentro de portas.
Para travar este caminho para a desgraça, é, pois, fundamental que, como referiu Nuno Ramos de Almeida, na Visão da semana passada, os democratas consigam conceber uma ideia outra de sociedade, cujos fundamentos económicos, culturais e sociais sejam radicalmente diferentes de todos os que já experimentámos.