A semana (24 a 30 de outubro)

E as esquerdas vão atrás das armadilhas de Ventura. É impressionante, caem sempre. Ao mesmo tempo, revelam uma grande fraqueza e uma incapacidade total em responder politicamente a Ventura. Passado mais de meio século do 25 de Abril, ainda estão nas lutas ‘anti-fascistas’. Caramba, não aprenderam mais nada em mais de 50 anos?

SEXTA, 24 DE OUTUBRO

Ventura e os ‘três Salazares’

A provocação ‘Salazarista’ de André Ventura foi muito infeliz e imatura. Um candidato a Presidente da República não deveria fazer uma afirmação dessas. Mas Ventura não resiste a provocações que chocam o sistema e que colocam todos a falar dele. É o que procura. 

E as esquerdas vão atrás das armadilhas de Ventura. É impressionante, caem sempre. Ao mesmo tempo, revelam uma grande fraqueza e uma incapacidade total em responder politicamente a Ventura. Passado mais de meio século do 25 de Abril, ainda estão nas lutas ‘anti-fascistas’. Caramba, não aprenderam mais nada em mais de 50 anos? Além disso, o termo ‘fascista’ nas bocas de muitos nas esquerdas nada significa. Assim de repente, que me lembre, já chamaram ‘fascista’ a Cavaco Silva, a Durão Barroso, a Passos Coelho, a Paulo Portas e até ‘nazi’ a Ângela Merkel. Alguém os pode levar
a sério?

SÁBADO, 25 DE OUTUBRO

A agonia do Bloco

Mariana Mortágua anunciou o abandono da liderança do Bloco de Esquerda. O seu fracasso foi sempre previsível. Não tinha experiência política. Foi fabricada por Francisco Louçã (o fracasso de Mariana Mortágua é o fracasso de Louçã) e pela comunicação social.

Nos últimos anos, o Bloco foi o partido querido dos media. Amigos dos jornalistas, frequentavam os mesmos restaurantes, bares, estúdios de televisões e redações de jornais. As televisões e os jornais querem evitar o destino do Bloco?

DOMINGO, 26 DE OUTUBRO

Trump e Lula

Trump e Lula encontraram-se e decidiram iniciar negociações comerciais. Lula quer um acordo com os Estados Unidos. Trump quer enfraquecer a influência da China no Brasil e quer um acordo para explorar terras raras no Brazil. E Lula quer investimento norte-americano.

Mas Lula também pode ajudar Trump a tirar Maduro do poder na Venezuela. Lula detesta Maduro, e sabe muito bem que perdeu as últimas eleições, mas usurpou o poder. Trump quer afastar Maduro sem recorrer à força militar e Lula poder ser o interlocutor com os militares venezuelanos. E os dois querem ajudar uma vencedora do prémio Nobel da Paz a chegar a Presidente da República na Venezuela, e que foi a vencedora das últimas eleições. 

SEGUNDA, 27 DE OUTUBRO

A vitória de Milei

Milei conseguiu uma vitória impressionante nas eleições argentinas, ultrapassando em muito as sondagens. Os peronistas perderam a maioria na Câmara e no Senado, e atravessam uma crise profunda. Se Milei conseguir fazer entendimentos com os partidos de centro-direita, terá maioria absoluta nas duas Casas parlamentares. Com uma maioria parlamentar, terá mais hipóteses de fazer as reformas laborais e fiscais, centrais para o seu sucesso.

Não será fácil e Milei terá que mostrar coragem e resiliência. Como acontece em todo o lado, as esquerdas quando perdem eleições passam a oposição do parlamento para as ruas. Haverá muitos protestos nas ruas de Buenos Aires nos próximos dois anos. Espero que Milei resista e tenha sucesso. Seria muito importante para a América do Sul, e talvez até para muitos países europeus. 

TERÇA, 28 DE OUTUBRO

A nova lei da nacionalidade  

Como é óbvio, a AD teria que aprovar a nova lei da nacionalidade com o Chega e com a IL. Mais, apesar de dizer o contrário, a AD não a queria aprovar com o PS. É muito fácil de entender. Para a maioria dos portugueses, os governos de António Costa foram os responsáveis pela entrada descontrolada de novos imigrantes em Portugal. O Chega foi o primeiro partido a colocar o problema da imigração no centro da agenda política.

Dito de um modo simples, para a maioria dos portugueses, na questão da imigração, o PS está do lado errado, e o Chega está do lado certo. Com quem iria a AD aliar-se no parlamento?

QUARTA, 29 DE OUTUBRO

As divisões do PS não acabam 

Algumas figuras maiores do PS, como Ferro Rodrigues, Vieira da Silva e Augusto Santos Silva, não apoiam a candidatura de António José Seguro a Belém. São figuras que trabalharam de um modo muito próximo com José Sócrates e com António Costa, os dois maiores inimigos de Seguro dentro do PS.

As figuras centrais do ‘costismo’ não apoiam Seguro (com a excepção de Fernando Medina), mas também não apoiarão Catarina Martins. Desconfio que António Costa e os seus votarão maioritariamente no almirante Gouveia e Melo. Afinal de contas, o almirante tornou-se uma figura pública durante um dos governos de António Costa.

QUINTA, 30 DE OUTUBRO

O julgamento de Sócrates

Por estes dias, o julgamento de José Sócrates também marca a atualidade do nosso país. Bem sei que o PS decidiu que nada tem a ver com Sócrates, como se os sete anos de liderança do partido e os seis anos de PM não tivessem existido. Quando Sócrates deu poder aos socialistas, era um herói para o partido. Agora que se transformou num embaraço, deixou de existir.

Mas o problema para o PS é que Sócrates não deixou de existir, e os portugueses sabem muito bem onde ele esteve entre 2005 e 2011: era líder do PS e PM, quatro desses anos com maioria absoluta. Os portugueses também sabem muito bem que António Costa foi o número dois de Sócrates, e que a maioria dos ministros dos governos de Costa também trabalhou nos governos de Sócrates. E cada vez há menos portugueses a acreditar que os dirigentes do PS não soubessem nada sobre o modo como Sócrates exercia o poder e beneficiava dele.

O PS nunca lidou com as consequências de ter tido um líder e um PM que se comportou como José Sócrates. Nunca pediu desculpa aos portugueses. Mas a maioria dos portugueses não esquece. Os socialistas ficam muito chocados com as evocações que Ventura faz de Salazar. Mas deviam pensar do seguinte modo. Os portugueses que têm hoje 70 anos tinham 19 anos quando foi o 25 de Abril e 14 anos quando Salazar morreu. Ou seja, para a maioria dos portugueses, Salazar é uma figura da história portuguesa, não é um ‘ditador fascista’. Bem sei que custa muito a militantes do PS e de outros partidos das esquerdas, que foram educados com o ‘Salazar fascista’, entender isto. Mas está é a verdade. No entanto, para os portugueses, Sócrates não é uma figura da história. Sócrates é o PM que enriqueceu enquanto o país ia para a bancarrota. E a maioria dos portugueses sofreu com essa bancarrota. Será que os dirigentes do PS acreditaram mesmo que o partido nunca pagaria um preço pelos anos de governação de Sócrates? Para a maioria dos portugueses, os anos de Sócrates como PM são muito mais presentes e importantes do que ‘três’, quatro, cinco ou dez ‘Salazares’.