Os pilaretes também se abatem

São difíceis de derrubar e não é só porque são de borracha. É que há gente a mais que não vê ou não quer ver que as ruas foram feitas para os carros poderem circular. Haja quem..

Dois dias depois de tomar posse, Luís Filipe Menezes ordenou o início do desmantelamento da ciclovia segregada na Avenida da República, a principal artéria da cidade cuja presidência da Câmara voltou a conquistar.Nos últimos 12 anos, a autarquia que Menezes liderou entre 2001 e 2013 foi governada pelo socialista Eduardo Vítor, que a mandou construir em 2024, já a entrar no último ano do seu terceiro (e por isso também último) mandato.

O desmantelamento da ciclovia da Av. da República foi uma promessa eleitoral do cabeça de lista da coligação PSD-CDS-IL.

Menezes assumiu o compromisso com os eleitores de Gaia de mandar retirar os pilaretes que delimitam a via dedicada a bicicletas, trotinetas e similares e que fez com que uma parte daquela avenida tivesse passado a ter um estrangulamento para uma única via em cada sentido de circulação de trânsito rodoviário.

Consequentemente, a ciclovia segregada (ou exclusiva) provocou um verdadeiro caos no já de si sempre complicado tráfego automóvel em toda aquela zona central da cidade.

Aliás, a exemplo do que aconteceu – e continua a acontecer – na Av. Almirante Reis em Lisboa.

A diferença é que Menezes, ao contrário de Carlos Moedas no seu primeiro mandato como presidente da Câmara de Lisboa, não perdeu tempo a cumprir o que prometeu.

Mesmo sabendo que iria enfrentar contestação, incluindo daqueles que argumentam que a destruição daquela via, que teve financiamento da Europa, é uma contradição com a promessa de construção de mais 25 kms de ciclovias.

Claro que não há contradição alguma.

A existência de ciclovias faz todo o sentido, sobretudo nas zonas planas e onde não condicionem de tal modo o trânsito que se tornem elas próprias fontes de congestionamentos e engarrafamentos que inevitavelmente aumentem as emissões que se pretende combater e deteriorem a qualidade do ar.

Nos casos da Av. da República em Gaia ou da Almirante Reis em Lisboa é precisamente esse o problema.

E, portanto, a incoerência ou contradição não é de Menezes nem de Moedas nem de quem defende o desmantelamento das ciclovias como estas duas em particular.  Antes, sim, é de quem, por mero capricho, ideia feita ou cegueira preconceituosa não vê ou não quer ver as suas evidentes contraindicações.

Incluindo para os próprios utilizadores das ditas bicicletas, cuja atividade física assim mais os expõe à inspiração de todo o tipo de emissões em filas infernais de carros, carrinhas, autocarros, camiões e demais veículos poluidores…

Como na Av. da República em Gaia e na Almirante Reis em Lisboa, há pelo país fora inúmeros outros exemplos de ciclovias que são verdadeiros absurdos ou que, além disso, representam um enorme perigo para a vida dos seus utilizadores ou de quem com eles se cruza.

 A começar por outra Av. da República, esta a da capital. Os lugares de estacionamento da rua lateral no sentido Entrecampos-Saldanha são contíguos à ciclovia, o que quer dizer que as portas dos condutores invadem-na ao serem abertas. E se os condutores ainda têm os retrovisores que podem ajudar a evitar muitos acidentes, as dos passageiros dos bancos traseiros nem isso. E os riscos são óbvios.

Já para não falar das bicicletas sem luzes e sem refletores e da velocidade a que circula toda essa espécie de meios de transporte, seja na estradas ou nos passeios (há tantos exemplos inacreditáveis) em que o para-choques é a testa do condutor e também a dos penduras que é suposto não existirem.

Mas isso e todos os riscos e perigos das trotinetas e quejandos em que andam aos milhares sem seguro nem capacete são contas de outros rosários.

As ciclovias nos centros das cidades dificultando a circulação e constituindo verdadeiras passadeiras para atropelamentos propriamente ditos e à inteligência e ao senso comum são a questão central desta crónica.

Ao menos, haja quem tenha a coragem de desfazer os erros. 

Como Luís Filipe Menezes fez agora em Gaia. Sem hesitações nem demoras com danos irreversíveis.

E, já agora, fica sempre bem a um político cumprir o que prometeu.