Web Summit. Dia intenso entre política e inovação

Passo apressado, muitos sorrisos e vários contactos. Gonçalo Matias, ministro da Reforma do Estado passou um dia na Web Summit e até teve tempo para assinar um diploma de última hora. O Nascer do SOL acompanhou-o.

O relógio aponta aproximadamente 11h quando Gonçalo Matias, ministro Adjunto e da Reforma do Estado, entra na Web Summit, 1.º dia. De passo apressado – o dia tem as horas contadas – sorri, cumprimenta. É o one man show do Governo, a principal cara presente no evento tecnológico deste ano, não fosse ele o Ministro da Reforma que promete combater a burocracia e revolucionar o sistema tal como o conhecemos.

Assim que chega, aproveita logo para cumprimentar o colega das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento. Há cumplicidade no aperto de mão e uma breve troca de palavras antes de cada um seguir para o seu lado: o dia promete ser longo e o tempo, escasso – talvez por isso, ao início, o caminho entre pavilhões tenha sido feito por fora, a bordo de uma espécie de tuktuk.

Na Web Summit, onde o inglês se ouve mais do que o português, Gonçalo Matias passa quase despercebido entre muitos participantes. Mas não totalmente – há sempre alguém que o reconhece, o cumprimenta ou lhe pede uma palavra rápida. Ele retribui com simpatia, mas sem abrandar muito o passo. A comitiva que o acompanha vai gerindo os minutos, lembrando-lhe a próxima paragem, o tempo que falta, o caminho mais curto.

A primeira paragem oficial é no stand do Banco de Fomento, que participa pela primeira vez na Web Summit. O ministro não poupa elogios: fala do «trabalho incrível» da instituição e da forma como ajuda as empresas portuguesas a crescer. Ajudará também as estrangeiras, prevê. 

Entre flashes e um barulho de fundo, o ministro continua em inglês: «A minha gratidão em nome do Governo pelo que estão a fazer pelo país», defendendo a importância do avanço tecnológico. O agradecimento estendeu-se não só ao Banco de Fomento como, principalmente, a Gonçalo Regalado, presidente da instituição financeira.

Terminados os agradecimentos e os abraços, é quase hora de almoço. Mas antes, já do lado de fora dos pavilhões, há uma pausa para Gonçalo Matias conhecer Max Klymenko, um criador de conteúdos ucraniano que, em cima de um escadote, consegue adivinhar a profissão do ministro a partir da pista «tomo conta de pessoas». A comitiva do ministro parte então para o almoço, num daqueles momentos que mostram como a Web Summit é também um palco de encontros improváveis.

A tarde foi ainda mais intensa. Regressado do almoço, o ministro recebe a vice-presidente da Comissão Europeia, Henna Virkkunen, para uma visita guiada pela feira tecnológica.

Esperava-se, talvez, um momento mais formal mas foi até bastante simples e descontraído. A comitiva, com os dois à cabeça acompanhados por Artur Pereira, country manager da Web Summit em Portugal e no Brasil e também pelo secretário de Estado para a Digitalização, Bernardo Correia,  seguiu pelos vários pavilhões, parando em alguns pontos.

O primeiro foi o stand da Comissão Europeia. Muitas fotografias, sorrisos e trocas de palavras por aqui. Afinal, Henna Virkkunen estava quase em casa, mesmo estando em Portugal.

A visita continua e a próxima paragem é a By Kids to Kids, uma empresa finlandesa que pretende ser uma ferramenta moderna e envolvente que aprimora a aprendizagem e melhora a retenção do conteúdo.

Depois é a vez da Dyrad Networks, focada em soluções sustentáveis. Trata-se de uma empresa alemã que trabalha com a prevenção de incêndios florestais, tendo o sistema de deteção mais rápido do mundo, identificando focos de incêndio em menos de 10 minutos.

Em ambos os locais, as explicações sobre os projetos foram ouvidas com atenção. Quem sabe se não poderão chegar a Portugal.

Seguiu-se o espaço da Startup Portugal, ponto de encontro inevitável para quem fala de empreendedorismo nacional. O ambiente é de entusiasmo e urgência – e o ritmo também. O tempo é cronometrado ao segundo. Mas ainda há tempo para umas palavras com o Ministro da Educação, Fernando Alexandre.

Tempo para assinar diplomas e reuniões

Entre cumprimentos, flashes e conversas rápidas, há um momento de pausa forçada: o ministro tem de assinar, com caráter de urgência, um diploma oficial. A cena é quase cinematográfica – no meio da azáfama da Web Summit, surge uma assessora com uma pasta e um documento confidencial. A assinatura é feita ali mesmo, com discrição, antes de tudo seguir o seu curso normal. O conteúdo do diploma, confidencial, só se conhecerá quando for publicado em Diário da República.

Diploma assinado, Gonçalo Matias retoma a marcha. Enquanto caminha, concede declarações ao nosso jornal – sempre em movimento mas sem perder o foco – para fazer um balanço do dia até àquele momento.

«Este é um dia importante. Falámos com muitos investidores, vou ter uma reunião com a Qualcomm. Ontem tive uma reunião com o presidente mundial da Microsoft, recebi a vice-presidente Executiva da Comissão Europeia, Henna Virkkunen, vimos muitos stands, falámos com muitos investidores e é muito importante esta montra para Portugal, por aquilo que mostra da nossa capacidade, das nossas empresas, de Portugal como um centro de inovação».

Gonçalo Matias recordou que teve a oportunidade de anunciar vários investimentos importantes na área da inteligência artificial, a aposta que está a ser feita em gigafactories, a capacidade instalada que hoje temos, o interesse que temos atraído de grandes investidores internacionais, de fabricantes de chips, das maiores empresas mundiais. «É uma ambição que é perfeitamente realista Portugal hoje posicionar-se como um país central nesta estratégia, que é uma estratégia de futuro e pela qual o futuro vai certamente passar». E defendeu que Portugal tem uma «posição geoestratégica invejável». Mas há um caminho a fazer. Destaca-nos, ainda, a aposta na digitalização, «aproveitando este interesse que existe no nosso país para também ajudar as nossas empresas».

Cansado, mas com sensação de dever cumprido, Gonçalo Matias confessa: «Estou muito motivado, trabalhamos muito, são muitas horas de trabalho, são muitos encontros, muitas reuniões, mas é muito produtivo».

E fala em realismo. «Temos consciência que Portugal é um país que tem ainda baixas competências digitais, baixa literacia digital, é um país muito envelhecido e, obviamente, Portugal não é a Web Summit, não é este ecossistema, mas nós queremos que aquilo que se passa aqui, que a qualidade e o investimento que  vemos aqui possa contagiar e possa alastrar por todo o país», lembrando o pacto para as competências digitais lançado pelo Governo.

Ao Nascer do SOL, o governante diz ainda que a presença na Web Summit não foi só institucional e que dali saíram conversas produtivas com muitas empresas.

Terminada a conversa e a curta viagem, há, para finalizar o dia, uma reunião à porta fechada com a Qualcomm à espera – a gigante tecnológica que, nesse mesmo dia, anunciou planos de investimento na Europa. Como correu, logo se saberá.

Quando a reunião termina, o ministro despede-se da Web Summit por esse dia. Voltaria depois.

Mas o dia, longe de terminado, ainda reserva mais paragens: primeiro, a tomada de posse de Carlos Moedas na Câmara Municipal de Lisboa; depois, já noite cerrada, uma entrevista nos estúdios da TVI.

Entre um evento e outro, o passo nunca abranda. O relógio marca o ritmo de um dia em que a política, a tecnologia e a cidade se cruzam num mesmo cenário e onde Gonçalo Matias parece mover-se com a mesma energia dos empreendedores que enchem a cimeira.