A saída limpa-suja perigosa

A saída do programa de resgate foi como se imaginava e se tinha dito há muito: sem programa cautelar. Chamam-lhe saída limpa. Mas não é. Sujíssima. Primeiro, permanecem todas as limitações externamente impostas, menos o compromisso concreto dos parceiros europeus acorrerem com um novo empréstimo, em caso de necessidade.

Depois, a não existência do programa cautelar deve-se mais à recusa dos países europeus, sobretudo os nórdicos (Alemanha, Finlândia, Holanda, etc.), em aceitarem um programa cautelar para Portugal (que não se sabe realmente como seria, porque ainda não foi negociado com nenhum país), do que a uma opção do nosso Governo (como enviesadamente tem sido anunciado).

Mas a mentira interessa a todos, para dar uma ideia de que os ditames da troika tiveram sucesso. E por isso é por todos partilhada: Lisboa, Bruxelas, Berlim, etc. Não tiveram sucesso. O sucesso, como em qualquer empresa, mede-se pelos objectivos definidos e atingidos. Neste caso, os objectivos definidos, no que diz respeito a desemprego e a dívida pública, andam longíssimo da realidade. Qualquer empresa consideraria o programa um fracasso. Não o considerar é enganarmo-nos. E estender este engano é perigosíssimo, porque pode afundar mais os problemas do desemprego e da dívida.