Como o Rei perdeu os espanhóis

Em Janeiro, o El Mundo já anunciava que 62 por cento dos espanhóis era a favor da ‘queda’ de Juan Carlos, Rei de Espanha há 39 anos. Face ao ano anterior, este valor representava um aumento de 17% de insatisfeitos com o papel do monarca.

Mas o que levou a um decréscimo de popularidade tão acentuado? Os problemas começaram a surgir em Abril de 2012, quando Juan Carlos decidiu fazer uma viagem particular até ao Botsuana. A agenda da visita não foi divulgada e a opinião pública espanhola só teve conhecimento dela quando se soube que o Rei tinha sido operado de urgência após uma queda… durante uma caçada aos elefantes.

Para além da questão ética por detrás da caça a estes animais por puro divertimento, a população ficou escandalizada com as despesas milionárias que resultavam desta viagem, numa altura em que a maior parte do povo espanhol sofria as consequências de uma aguda crise económica. Recorde-se que a família real vive de uma parte dos impostos dos cidadãos que, mesmo com um corte efectuado no ano passado, ascende aos sete milhões de euros.

'Relações impróprias'

Para acrescer, surgiu também um escândalo amoroso. Os jornalistas começaram a investigar e descobriram que o Rei tinha feito esta viagem milionária com a princesa alemã Corinna Zu Sayn-Wittgenstein, uma empresária muito próxima do monarca. Sayn-Wittgenstein afirmou publicamente que não mantinha qualquer tipo de “relação imprópria” com Juan Carlos, mas a verdade é que muito se escreveu sobre o assunto. É certo que o monarca e a sua mulher, a Rainha Sofia, já há muito tempo que não vivem juntos, mas estas férias com a princesa alemã vieram piorar ainda mais a imagem do Rei de Espanha.

Na mesma altura, outro ponto que caiu mal foi o facto de Juan Carlos não ter ido visitar o seu neto mais velho, Felipe, quando este deu um tiro no próprio pé e foi parar ao hospital. Inicialmente, surgiram rumores de que o acidente tinha perturbado o Rei, que, por isso, não tinha aparecido na unidade hospitalar (recorde-se que o irmão de Juan Carlos morreu na sequência de uma brincadeira, na altura em que viviam no Estoril, durante a qual o actual Rei terá acidentalmente disparado sobre o irmão). No entanto, depois de ter sido conhecida a viagem ao país africano, grande parte da população sentiu-se indignada por o Rei ter optado por permanecer no Botsuana e não ter ido ver o seu neto.

O peso do genro

Outro dos maiores escândalos da Casa Real não tem directamente a ver com Juan Carlos, mas afectou a sua imagem e a dos seus. Iñaki Urdangarin, casado com a infanta Cristina, está envolvido num processo sobre um alegado desvio de fundos públicos. O caso surgiu em Dezembro de 2011 e, logo nessa altura, o Rei decidiu afastar o genro de todas as actividades institucionais ligadas à Casa Real pela sua conduta “não exemplar”.

Salvam-se as imagens de Felipe e da Rainha Sofia: Face ao ano de 2012, o futuro Rei de Espanha atinge os 66,4% de popularidade entre os espanhóis e a mulher de Juan Carlos chega aos 67%, tendo ambos aumentado cinco pontos percentuais. Estas estatísticas acabam por 'salvar' a imagem da família real espanhola dos escândalos que tem vivido nos últimos anos. 

 

joana.alves@sol.pt