Autarca encontrado morto sem exéquias fúnebres

O funeral do antigo presidente da Câmara de Torre de Moncorvo Aires Ferreira, encontrado morto em sua casa na segunda-feira, não vai envolver qualquer tipo de cerimónia religiosa ou exéquias fúnebres, disse hoje à Lusa fonte da sua família.

Ao longo de quase três décadas à frente do município de Torre de Moncorvo, o socialista Aires Ferreira destacou-se pela persistência em causas como a barragem do Baixo Sabor e surpreendeu opositores, decisores e munícipes com o estilo adotado.

Em 1999, cedeu aos contestatários da demolição de um edifício centenário para a construção de um parque de estacionamento e surgiu, na cerimónia de anúncio da decisão, com uma camisola da Amnistia Internacional em que ostentava a frase: "Posso não estar de acordo com o que dizes, mas luto para que o possas dizer".

O mesmo autarca que convidou os munícipes a tomar café para lhes apresentar obras que pretendia realizar na vila, encabeçou uma comitiva, em 2001, que recebeu o então primeiro ministro socialista António Guterres com uma invulgar manifestação, ao estilo dos protestos de rua, para reivindicar e agradecer obras há anos prometidas e ainda por fazer.

Dois anos mais tarde "deu vivas e aplaudiu o primeiro-ministro social-democrata Durão Barroso por fazer avançar o projecto do ambicionado acesso de Torre de Moncorvo ao IP2.

Criticou a decisão do Ministro do Ambiente socialista José Sócrates de suspender e mandar reformular o projecto da Barragem do Baixo Sabor.

Em 2009, fez a festa com Sócrates que, já na qualidade de primeiro-ministro, fez avançar a obra daquela a que chamou "a mãe de todas as barragens".

A guerra com os ambientalistas durou uma década com queixas e processos em Bruxelas, embora tenha chegado a convidar os opositores para juntos encontrarem a melhor solução.

Em 2004, surpreendeu, no Dia das Mentiras, com a publicação nos principais diários nacionais de um sarcástico anúncio a "ridicularizar os argumentos contra a barragem do Baixo Sabor".

"Falha da Vilariça a património mundial" era o título do anúncio, "uma ideia tão ridícula", como explicou na altura, como "os argumentos das associações ambientalistas contra a construção da barragem".

Antes de abandonar a autarquia por ter atingido o limite de mandatos, Aires Ferreira conseguiu juntar os 12 presidentes de Câmara do Distrito de Bragança numa causa comum e avançaram em conjunto com uma providência cautelar que impediu, até hoje, a saída do helicóptero do INEM de Macedo de Cavaleiros.

Quando se recandidatou, nas autárquicas de 2001, tomou à letra o apelido que ganhou pela longevidade autárquica e decidiu surpreender os apoiantes com a imagem de um dinossauro no material de campanha.

Em comunicado, a federação distrital do PS/ Bragança enumera alguns dos cargos ocupados por Aires Ferreira, que dedicou a vida "à causa pública", iniciando desde cedo um percurso com "marca nacional", mas com particular "ênfase "no distrito de Bragança e no concelho de Torre de Moncorvo.

Com 29 anos conquistou a câmara de Torre de Moncorvo, da qual saiu em 2013, nas últimas eleições autárquicas, por ter ultrapassado o número de mandatos permitidos.

Pelo meio, foi deputado, chefe de gabinete do secretário de Estado do Ambiente, Presidente da Associação de Municípios do Douro Superior, presidente da Associação de Municípios de Trás-os-Montes e Alto Douro, Presidente da Associação de Municípios do Baixo Sabor, entre outros cargos políticos.

Lusa/SOL