De Markl à canoagem, o crowdfunding é cada vez mais popular

Com a medalha de ouro à espera no campeonato do mundo de canoagem de maratonas, mas sem apoios públicos nem da Federação, José Ramalho encontrou no “crowdfunding” a solução para preparar a época desportiva e remar para os Estados Unidos.

Nuno Markl lançou-se também no financiamento coletivo ou ‘crowdfunding’ e apesar de não ter alcançado os 100 mil euros que pretendia para o seu projecto de longa-metragem “Por Ela”, captou em 45 dias o interesse e as contribuições de milhares de fãs.

Com o tema “Com pouco posso fazer muito!”, o canoísta de maratonas português José Ramalho, que desde 2009 já foi campeão da Europa e vice-campeão do Mundo, entre cinco pódios internacionais, conseguiu em apenas 90 dias, concretizar uma das mais recentes campanhas de sucesso de ‘crowdfunding’. Trata-se de uma alternativa ao financiamento tradicional, em que uma multidão pode financiar um projeto com contribuições a partir de um euro através de plataformas ‘online’.

“Inicialmente pedimos 1.500 euros, mas realmente esse montante foi ultrapassado em larga medida. Atingimos 2.300 euros. Isso demonstrou o sucesso da iniciativa”, que terminou a 30 de Maio e foi lançada na plataforma PPL, pioneira e uma das maiores em Portugal, disse em entrevista à agência Lusa José Ramalho.

A ideia surgiu quando a crise lhe bateu diretamente à porta e se tornou óbvio de que precisaria de dinheiro para financiar a época desportiva para poder disputar em Junho os europeus na Eslováquia e os mundiais em Setembro nos Estados Unidos.

Os apoios com que contava desde que começou a ganhar medalhas chegaram ao fim: a federação de canoagem retirou a verba devido aos cortes orçamentais e o contrato-programa com a câmara de Vila do Conde terminou.

“A grande maioria dos apoios foram de anónimos que conheceram a minha história e que decidiram ajudar e apoiar o desporto nacional. Tornaram isto realmente viável. Houve também empresas que se associaram, e, claro, também amigos e familiares”, contou José Ramalho.

As mensagens – “bastantes” e “positivas”- chegaram de vários quadrantes e muitas via página do Facebook criada para o efeito: “Isso deixou-me bastante feliz. Deu para as pessoas conhecerem a minha carreira desportiva”, disse, destacando as “mais-valias das empresas para o país e os atletas não subsídio-dependentes”.

Apesar de ter fracassado a meta dos 100 mil euros, o projecto “Por Ela” de Nuno Markl, com argumento seu e a cantora Ana Bacalhau como protagonista, gerou em seu redor um “espírito comunitário muito engraçado”.

“Pusemos um ‘teaser’ na ‘net’ onde dizíamos que era uma história de amor, morte, canções e cerejas. A questão da morte chamou logo a atenção do pessoal da funerária Clássica, que se chegou logo à frente e disse: ‘Se há morte então é connosco, temos caixões, temos urnas’. Ficámos logo com o contacto deles”, contou Nuno Markl.

E como o filme tem “uma cena envolvente de cerejas”, passada no festival de cerejas do Fundão, explicou, quis falar com o presidente da Câmara.

“Não foi preciso fazê-lo, porque o presidente ouviu falar do projeto, viu-o na ‘net’ e recebo uma mensagem privada no Facebook do próprio a dizer: ‘se calhar vocês querem a nossa ajuda e estamos dispostos a dá-la’ e eu disse: ‘É maravilhoso, porque queria falar consigo’”, contou.

Tal como a maioria dos projetos de ‘crowdfunding’, também este resultou da associação entre a difícil angariação de apoios e subsídios pela via tradicional e o facto de Nuno Markl acreditar neste novo método de financiamento, ainda a dar os primeiros passos em Portugal, e para o qual já contribuiu no passado.

A campanha, também lançada na PPL, chegou ao fim a 18 de Abril e atingiu os 40.563 euros em contribuições, valor que já foi devolvido aos investidores, tal como sucede sempre que um projeto falha a sua meta.

“Não chegámos ao valor que queríamos, mas conseguimos por o projeto no mapa, angariar pequenos apoios, muito importantes para o filme, ganhar o afceto das pessoas, várias instituições juntaram-se, restaurantes chegaram-se à frente. E, de repente, parecia que estávamos ali na aldeia, na festa da vila”, disse.

Lusa / SOL