‘Corrida do porco preto’ dá polémica em Braga

O regresso da ‘corrida do porco preto’, prática de origens medievais que estava suspensa há quase 100 anos e que agora está marcada para o próximo dia 20 de Junho, integrada nas festas do S. João de Braga, está a causar polémica. Quarta-feira realiza-se a primeira de várias manifestações de protesto.

O Movimento Voz Animal manifesta-se à porta da Câmara Municipal de Braga. A Comissão de Festas do S. João garante, porém, que “não será exercido qualquer tipo de violência sobre o animal, o que faz cair por terra as previsões de que se trata de uma matança, acto de crueldade ou outra indignidade para com o animal”. O presidente da Câmara, Ricardo Rio, afirmando “não pretender alimentar polémicas”, subscreve na íntegra a posição da comissão, cujo presidente, um assessor da vereadora da Cultura, foi designado pelo próprio autarca social-democrata.

Um grupo de bracarenses reuniu-se ontem à tarde em Braga numa “assembleia popular” que decidiu a convocatória da manifestação para amanhã de manhã: “Estamos contra esta nódoa negra nas festas de S. João. O que nos move é a protecção dos animais e a vontade de termos uma cidade que não seja conhecida por um local onde os animais são maltratados para entretenimento e embrutecimento humano”.

O grupo “apela a todos os cidadãos bracarenses que se sentem envergonhados e ofendidos pela inclusão deste evento nas festas que compareçam e mostrem o seu repúdio pela decisão camarária”.

Petição online

Numa petição online – que nos primeiros dias recolheu cerca de três mil assinaturas – os promotores dizem que “as Festas de São João não podem ser palco de crueldade e a Corrida do Porco Preto é um acto medieval, não compatível com uma cidade que se quer moderna e civilizada”.

“Braga é uma cidade do século XXI não do século XII. A violência contra os animais, sob qualquer aspecto, é sempre um acto bárbaro e cruel e, ao tentar-se mascarar este evento inqualificável como sendo uma ‘corrida’, pretende-se no fundo mascarar o maltrato de um animal e enganar a população sobre a realidade do evento. Assim o é nas ‘corridas’ de touros e assim o é na ‘corrida’ do porco preto” – diz o texto da petição online.

“Durante um ano engorda-se um porco para depois o libertar para ser caçado da forma mais violenta e desumana, sendo esta a essência da violência e da crueldade que se quer implementar na cidade de Braga”, concluem os autores da petição, solicitando ao presidente da Câmara que “reconsidere esta verdadeira afronta que se quer fazer à cidade e aos seus cidadãos em nome de tradições que há muito estão bem enterradas”.

Comissão divulga regras

A comissão de festas assegura que “a reconstituição da corrida do porco preto não será nos mesmos moldes do passado” e que “o objectivo é recuperar o desfile medieval que incorporava a corrida e onde constavam também elementos como a serpe, o rei imperador, entre outros”.

A largada do porco preto, anuncia-se, “consistirá numa corrida num percurso de 500 metros e no qual haverá uma bifurcação [com alunos da Associação Académica da Universidade do Minho] e que motivará a vitória de uma das duas equipas, havendo a impossibilidade de tocar no animal, tal como sublinham as regras”. “O porco preto efectuará a descida desde o largo Paulo Orósio até à rua dos Bombeiros Voluntários junto ao Parque Radical sozinho sem que seja perseguido por nenhuma multidão”, acrescentam os organizadores.

O animal “é um porco selvagem proveniente de uma propriedade agrícola do concelho de Vila Verde, estando acostumado a circular livremente e que estará no seu habitat até perto da hora do desfile e ao qual regressará logo após”, salienta a mesma comissão.

joaquim.gomes@sol.pt