Negam ter morto empresário mas confessam ocultação de cadáver

Os dois homens acusados do homicídio do empresário da noite Jorge Chaves negaram hoje, no inicio do julgamento, nos Açores, estarem envolvidos na morte da vítima, mas admitiram terem transportado e ocultado o cadáver.

O Tribunal de Ponta Delgada começou hoje a julgar este dois homens, acusados, em co-autoria, de um crime de homicídio qualificado, ao que foi ainda hoje acrescentado o crime de ocultação de cadáver. Um dos arguidos é ainda acusado de detenção de arma proibida.

A vítima foi Jorge Chaves, que em 2012 foi julgado e absolvido pela morte do proprietário do bar "O Avião", localizado em Lisboa.

No início do julgamento, que teve segurança reforçada na sala de audiências, um dos arguidos, natural de Ponta Delgada, que começou a trabalhar para Jorge Chaves em 2002 como 'barman', disse ter ficado à frente do estabelecimento de 'striptease' do empresário, em Ponta Delgada, enquanto ele esteve detido em Lisboa, acrescentando que só soube da sua morte porque o outro arguido "chamou-o" para ir à casa de Jorge Chaves em Ponta Delgada.

Segundo disse, deparou-se com "o corpo deitado no chão da sala" e ficou "sem palavras" e "sem perceber se ele estava morto com tiros", mas confessou que os dois colocaram o cadáver "numa mala" e num carro.

Questionado pelo juiz porque razão tinha obedecido ao outro arguido, respondeu: "Era por uma questão de medo", afirmando ter "a percepção que era para ficar também lá", na zona onde deixaram o corpo.

Já o segundo arguido, de nacionalidade espanhola, negou ter acordado com o outro acusado a morte de Jorge Chaves.

"Nunca foi falado", afirmou, acrescentando não saber se foi o outro arguido o autor do homicídio. Mas disse suspeitar que ele "teve alguma coisa a ver", confirmando ainda ter recebido do outro réu "10 mil euros" para "ajudar a retirar o corpo". Disse ainda que soube que Jorge Chaves estava morto através do outro arguido, mas primeiro pensou "que foi um acidente" e até que "era uma brincadeira", mas admitiu que ambos "limparam a casa" do empresário e que "colocaram o corpo na mala".

"Perguntei ao Sérgio quem matou o Jorge. E ele respondeu: isto não interessa, é melhor não saberes", afirmou.

Jorge Chaves estava desaparecido desde Setembro de 2012 na ilha de São Miguel, para onde foi viver, após o desfecho do processo por que foi julgado em Lisboa, nesse mesmo ano.

Segundo a acusação, o empresário foi atingido na sua residência com cinco tiros de revólver, disparados pelo arguido de nacionalidade espanhola.

A acusação refere que entre o arguido açoriano e Jorge Chaves "passaram a ser frequentes as discussões" depois de o empresário ser libertado, pois Jorge Chaves reclamava "30 mil euros" que o arguido supostamente lhe devia, "ameaçando-o de morte caso não lhe entregasse o dinheiro". Terá também ameaçado matar o outro arguido, que servia de intermediário para contratar bailarinas.

O Ministério Público alega que ambos "procederam à limpeza, com lixívia, do apartamento, que se encontrava ensanguentado". Quanto ao corpo, enrolaram-no "num edredão" e colocaram-no "no porta-bagagens" de um automóvel que "tinha sido emprestado a Jorge Chaves".

De seguida, dirigiram-se até um local que permite a ligação à "lixeira municipal" e "durante o trajecto colocaram o saco contendo o telemóvel do Jorge Chaves, sapatilhas e ainda uma toalha suja de sangue num contentor de lixo", acrescenta a acusação, afirmando que o cadáver foi colocado num "terreno" e "coberto com pedras" e os dois homens "assinalaram o local com um pneu". O corpo foi localizado oito meses depois.

Segundo a acusação, após a morte do empresário, os dois arguidos "reiniciaram, em conjunto", a gerência de um estabelecimento de diversão nocturna em Ponta Delgada e com um cartão de débito que retiraram da casa de Jorge Chaves compraram "diverso material de decoração para mobilar" um outro estabelecimento em Ponta Garça (Vila Franca do Campo).

O julgamento prossegue na quinta-feira.

Lusa/SOL