Somos todos ‘cristianos’

Todos os portugueses, quer sejam ou não pessoas de fé e que professam uma religião, incorporam, em menor ou maior grau, a marca judaica e cristã da nossa civilização, matriz que faz de nós um povo crente de ‘cristianos’.

Um dos nossos, um dos que tem, em todo o mundo e reconhecidamente por todos, maior apetência e maiores capacidades para praticar futebol, chama-se Cristiano e é, por estas suas qualidades, um dos nossos maiores orgulhos.

É já aquele que, considerando todo o nosso histórico futebolístico, mais golos marcou ao serviço da selecção portuguesa de futebol, sendo por isso uma das pessoas que mais mobilizam outras pessoas, simplesmente para o verem jogar ou como exemplo a imitar.

Esta identificação reforça a nossa condição de ‘cristianos’, neste mês de Campeonato do Mundo de Futebol no Brasil 2014, um palco privilegiado não apenas para as selecções e respectivos atletas que aí disputam o título maior da modalidade, mas também para os países que representam.

O nosso destino enquanto Estado, enquanto povo que tem um território onde vive e fala a mesma língua, não depende da classificação que Portugal venha a obter no Campeonato do Mundo de Futebol a decorrer no Brasil, embora uma boa prestação possa ajudar muito e em todas as áreas.

Se formos vistos entre aqueles que são capazes de enfrentar e dar a volta a um mau resultado, ou entre os que escorregam no relvado mas encontram forças para se levantarem e continuar a jogar e a acreditar na vitória, então merecemos ouvir aquele incentivo emocionante de um ‘Força Portugal’ gritado a uma só voz. Principalmente quando julgamos que não há ninguém disponível para nos incentivar.

Claro que, sem acções correspondentes, as palavras de incentivo, por muito certas e oportunas que sejam, não bastam, embora ajudem a que consigamos alcançar os nossos objectivos, especialmente quando proferidas com real empenho. No futebol, no relançamento da nossa economia, na promoção das nossas cidades e na afirmação das nossas tradições e cultura.

Na confiança colectiva que consolidamos nesses momentos, uma confiança que não se limita à que depositamos na equipa de todos nós como, até à exaustão, costumamos dizer quando as coisas correm de feição.

Confesso, a propósito, que é sempre muito agradável ouvir, no final de um jogo, um dos jogadores que mais tenha contribuído para a vitória, em regra por ter sido o autor do golo decisivo, dizer que ficou satisfeito por ter marcado, mas que o que realmente importa é o colectivo e ter contribuído para os objectivos desse mesmo colectivo.

Para alguns de nós serão apenas declarações que traduzem uma desejável e politicamente correcta manifestação pública da entrega individual, por parte de quem tem o privilégio de integrar um colectivo que, queiramos ou não, nos representa a todos e transporta muitos dos nossos sonhos e desejos, incluindo daqueles que não ligam nada ao futebol. Mesmo que seja assim, é bom ouvir este bater sincronizado.

Por tudo isto, sinto-me hoje, como noutras épocas, um empenhado ‘Cristiano’ que também não desiste de gritar, para que todo o mundo nos ouça, um Força Portugal.

*Presidente da APEMIP, assina esta coluna semanalmente