O meio ‘mea culpa’ de Paulo Bento

O seleccionador nacional de futebol fez este domingo um mea culpa após a saída precoce de Portugal do Mundial do Brasil. Mas ao mesmo tempo afirmou que pouco ou nada teria feito de forma diferente.

Em entrevista à TVI24, Paulo Bento voltou a defender a escolha da temperada Campinas para quartel-geral da selecção nacional no Brasil, uma decisão apontada pelos críticos como tendo contribuído para o choque climático na deslocação às tórridas Manaus, Brasília e Salvador.

“Toda a gente fala hoje em dia da questão do clima. Mas quantas pessoas falaram antes do Portugal-Alemanha em Salvador de que não devíamos ter estado em São Paulo?”, questionou.

“Está mais que provado que as dificuldades foram grandes, mas não foi por isso que perdemos 4-0”, afirmou Paulo Bento, que elegeu a pesada derrota no jogo inicial contra a Alemanha como o principal factor para a má prestação de Portugal.

“O jogo com a Alemanha deixou-nos de tal maneira uma marca negativa que não nos permitiu ter uma reacção consentânea com o nosso valor”, afirmou.

“Faltou-nos a todos uma explicação e um entendimento de como perdemos 4-0 com a Alemanha”, disse, lembrando contudo que a equipa das quinas jogou “uma quantidade enorme de tempo com dez jogadores”.

No entanto, assumiu falhas “técnico-tácticas”: “Não conseguimos ser competentes o suficiente para fazer face às circunstâncias do jogo”.

Bento explicou que a goleada inibiu a capacidade de reacção dos portugueses nos jogos seguintes, mas defendeu a qualidade de exibição frente aos EUA, no segundo encontro: “Fizemos um jogo equilibrado. Não me parece que fosse uma exibição negativa”.

“Se tivesse que haver um vencedor teria de ser Portugal. Não acho de forma alguma que os EUA tivessem sido superiores”, disse.

Em relação à reacção após o golo do empate apontado por Varela, Bento explicou o rosto cerrado e a decisão de não o celebrar: “Era um treinador consciente. Não nos punha fora do Mundial, mas [o apuramento] era uma possibilidade remota”.

Apesar de dizer “aceitar” todos os “erros” que lhe foram “imputados”, Paulo Bento disse ter tomado “em consciência” todas as decisões antes e durante a competição. Incluindo a convocação de jogadores sob “índices de suspeição lesional”, como constava de um relatório do médico Henrique Jones que o próprio clínico da selecção referiu no Brasil. Bento revelou mesmo quais os jogadores em dúvida mesmo antes do primeiro dia: “Vierinha, Éder, Postiga e Ronaldo”.

Sobre Postiga, Bento defendeu que se tratava de “um jogador de uma maturidade e de uma experiência tremenda, influente” no modelo de jogo da selecção. E sobre Éder, o técnico explicou que considerava o jogador potencialmente “útil no jogo aéreo e na transição ofensiva”. Sobre Ronaldo, negou que tivesse havido "pressão para acelerar a recuperação", e defendeu a decisão de o utilizar como extremo – "nunca o pensei como ponta-de-lança".

Questionado sobre se contará com Postiga em Setembro, no início de um “novo ciclo” para a selecção, Bento disse que a idade não será um factor determinante na escolha dos jogadores.

“A renovação implicará a saída de alguns”, avisou. “Veremos quantos e como”.

Sobre a sua situação contratual, Bento disse que não chegou a colocar o seu lugar à disposição após ter falhado o objectivo estabelecido para este Mundial – passar a fase de grupos.

“Sinto-me com capacidade para fazer a transição e lutar pelo objectivo de estar no Euro2016”, afirmou.

E do Brasil, tirou alguma lição? Esta: "Quando se perde está tudo mal".