Mundial das Curtas é em Vila do Conde

Numa cidade onde nem sequer existia uma sala exclusivamente dedicada ao cinema, nasceu, em 1993, um festival dedicado à curta-metragem que ganhou prestígio internacional. Quatro jovens de Vila do Conde – um grupo agora reduzido a três – deram corpo ao Curtas, cuja 22.ª edição arranca este sábado, no Teatro Municipal, com uma programação unanimemente…

Mundial das Curtas é em Vila do Conde

Destacam-se um ciclo dedicado ao futebol (Fora de jogo!), que aproveita o balanço do Mundial do Brasil, quatro filmes-concerto (dois deles em torno do desporto-rei) e uma retrospectiva da cineasta Kelly Reichardt.

“Não queremos que as pessoas pensem que é um festival de cinema sobre futebol, apenas o usamos como pano de fundo”, explica Nuno Rodrigues, que é este ano o director 'em exercício', uma função que vai rodando entre os três fundadores do certame. Num ano em que o clube da cidade, o Rio Ave, obteve acesso às competições europeias, não poderia surgir melhor oportunidade para unir dois universos que nem sequer têm “uma relação muito marcante”. Serão exibidos filmes relacionados com a modalidade de cineastas como Jacques Tati, Corneliu Porumboiu e Miguel Gomes, enquanto o duo Vítor Rua e Chris Cutler e os Sensible Soccers actuam sobre imagens 'futeboleiras' de Edgar Pêra e Pedro Maia, que vai manipular material de arquivo em tempo real.

Fora das quatro linhas, há ainda dois filmes mudos clássicos musicados por Filho da Mãe e Jibóia (In The Land of the Headhunters, de Edward S. Curtis) e pelos bracarenses peixe : avião (Ménilmontant, de Dimitri Kirsanoff). Os filmes-concerto sempre foram um dos formatos mais procurados pelo público, num festival que se afirmou nos primeiros dez anos, cresceu na década seguinte e agora procura “consolidar” o seu modelo. “A cidade adaptou-se, com o novo Teatro Municipal, a galeria Solar e o Centro de Juventude, mas não podemos ter a utopia de crescer sempre, até porque temos a concorrência dos festivais de música. Há uma crise e as pessoas fazem contas antes de ir ao cinema”, justifica Nuno Rodrigues.

O Curtas – cujo orçamento se mantém nos 850 mil euros – prevê ter cerca de 20 mil espectadores e uma das enchentes deverá ocorrer logo na noite de abertura, com a ante-estreia de Night Moves, da convidada de honra Kelly Reichardt, uma das realizadoras independentes americanas do momento. No meio de tanta oferta, até é possível esquecer a matriz de curta-metragem do festival: as competições nacional, internacional, experimental e de vídeos musicais contribuem com a grande fatia dos 224 filmes apresentados até 13 de Julho, dos quais 63 são portugueses.