O regresso da Gaiola Pombalina

Resgatar a técnica da gaiola pombalina e adaptá-la à construção actual é um projecto de João Carlos Afonso Alves, da Eco Sistema Construção Sustentável. Licenciado em estudos superiores de arquitectura, João Alves decidiu estudar a técnica da Gaiola Pombalina para uma casa inovadora.

Tudo começou com o projecto de uma casa em timber frame, implantada no terraço de um prédio na rua Joaquim António de Aguiar, em Lisboa. Na capital, reviveu a curiosidade sobre o sistema. “Sentimos por toda a Baixa a presença da 'gaiola', quase como a aura ou alma dos edifícios. Desde então empreendi uma investigação profunda para reutilizar esse sistema na construção de casas ecológicas. Homenagem a quem, na altura, foi um visionário. Um sistema com mais de 250 anos é com certeza uma referência de durabilidade e de eficiência”, refere João Alves.

Desta forma, a construção da gaiola pombalina insere-se num contexto e conceito de sustentabilidade. Para o especialista trata-se de um resgate e homenagem a uma técnica que se pensa obsoleta, demonstrar que é capaz de dar resposta às premissas dos tempos actuais: durabilidade, mobilidade, ecologia e sustentabilidade.

O investigador procura a evolução natural do sistema. Interpreta a construção vernácula e actua em conformidade com técnicas que noutros países, como a Finlândia, Alemanha ou a região Norte de Itália sofrem uma evolução natural. “Esta evolução, fruto dos trabalhos de investigação e desenvolvimentos científicos, permitem a concepção de produtos hi-tech em madeira. Assumem actualmente uma importância crescente na arquitectura e na engenharia moderna”, explica o responsável.

Esta evolução deu-se em diversos campos: na própria assemblagem da madeira (madeira lamelada 'Glulam', CLT, OSB, KERTO); tratamentos (modificação química, impregnação, térmica); fixações; telas (impermeabilizantes, transpiráveis); isolantes térmicos; ou controlo biológico (tratamentos mais ecológicos, à base de águas e óleos naturais). “Isso permite conjugar essa sabedoria científica à sabedoria ancestral. Resgatar a gaiola pombalina para os nossos tempos de mobilidade, do modular, da microcasa high-tech, da ecologia, da sustentabilidade”, esclarece João Alves.

Gaiola para casas modulares

A Gravalima, uma empresa de extracção e produção de pedras que já concebeu o projecto da Granihouse, lança agora uma proposta para a construção de uma micromoradia com a técnica da gaiola pombalina. Este sistema permite a utilização do cascalho de granito de Ponte de Lima da própria pedreira. Ao ficar visível o sistema tridimensional em madeira, a gaiola, funciona como uma exoestrutura – solução dos animais invertebrados, o exoesqueleto protege dos perigos e do clima.

Optou-se por uma cobertura ajardinada, com plantas que, no seu ciclo natural, sombreiam no Verão e promovem a exposição solar no Inverno, e tela PVC com chapa de zinco. “A gaiola pombalina pode assim, com eficácia e conforto, sofrer as vicissitudes do clima, das oscilações do transporte, do tempo. Renascendo para mais 250 anos”.

A gaiola pombalina surgiu após o terramoto de 1755, em Lisboa. Dada a enorme destruição do edificado e as perdas humanas, foram levantadas as questões da segurança para a reconstrução. Como resposta surgiu a alvenaria mista com uma estrutura tridimensional de madeira no interior (a gaiola), embebida nas paredes de alvenaria de pedra. Esta técnica está relacionada com a experiência da construção naval, na época exclusivamente de madeira.

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