Presidente do Egipto diz que medidas de austeridade têm de ser ‘digeridas’

O presidente Abdel Fatah Al-Sisi pediu hoje aos egípcios para suportarem o “remédio amargo” da redução das subvenções do Estado sobre os combustíveis e que implicou um forte aumento dos preços, e ajudarem à recuperação de uma economia em ruínas. 

Presidente do Egipto diz que medidas de austeridade têm de ser ‘digeridas’

Através de um decreto ministerial publicado na noite de sábado, o preço do litro da gasolina com 92 octanas subiu de 1,85 libras egípcias (0,19 euros) para 2,6 libras (0,27 euros), e com o gasóleo a aumentar de 1,1 para 1,8 libras por litro, referiu a agência oficial Mena. 

Durante o dia, a polícia disparou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar motoristas de táxis em cólera, que bloquearam diversas ruas em Ismailiya, na região do canal do Suez. 

Os sinais de rejeição popular às medidas de austeridades motivaram hoje uma justificação de Al-Sisi durante uma intervenção pela televisão. 

"Quando me pediram que concorresse às presidenciais, o contrato que estabelecemos foi que iriam suportar comigo" as medidas de austeridade, prosseguiu. 

Eleito com 97% dos votos em Maio e com uma taxa de participação de 47,5%, cerca de 11 meses após ter destituído o islamita Mohamed Morsi, o ex-chefe das Forças Armadas egípcias defendeu a necessidade de políticas de austeridade num país onde cerca de 40% da população — cerca de 34 milhões de pessoas — vivem na pobreza ou no limiar da pobreza, com cerca de 1,4 euros por dia, segundo dados oficiais. 

Para além dos combustíveis, o preço do tabaco e álcool também foi muito agravado, para além de uma subida dos impostos e agravamento do preço da electricidade durante os próximos cinco anos, medidas justificadas pelo governo para atenuar o importante défice estrutural.

Num país em turbulência desde 2011, com graves reflexos na economia devido à acentuada quebra nas receitas do turismo e nos investimentos externos, o Estado canaliza 30% do seu orçamento para subsidiar o preço dos combustíveis, dos mais baixos em todo o mundo, e os produtos alimentares. 

"Há anos que deveriam ter sido efectuados" os cortes nestes subsídios, argumentou Al-Sisi, que censurou "todos os [anteriores] governos que receavam" adoptar esta decisão "sempre adiada". 

A economia egípcia tem sobrevivido actualmente devido à elevada ajuda financeira, em particular proveniente da Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. 

A oposição islamita pró-Morsi poderá agora beneficiar da revolta social que se perspectiva para engrossar as suas fileiras, apesar da contínua repressão das manifestações. 

Desde a destituição forçada de Morsi em 3 de Julho de 2013, mais de 1.400 manifestantes foram mortos e 15.000 detidos, para além das centenas de condenações à morte ou a prisão perpétua em processos sumários. 

As autoridades são ainda acusadas de utilizar a justiça como uma ferramenta da repressão, em particular dirigida contra a Irmandade Muçulmana mas que também tem atingido outras correntes politicas que se opõe ao autoritarismo dos actuais dirigentes.  

No sábado, um tribunal condenou Mohamed Badie, Guia supremo da confraria, e outros 36 islamitas a prisão perpétua por "manifestação violenta" organizada em 2013, e confirmou a pena capital de dez outros co-acusados, na maioria julgados à revelia. 

Badie, na prisão e indiciado em dezenas de outros processos, à semelhança da quase totalidade da direcção do seu movimento, já foi condenado à morte em dois outros julgamentos. 

Lusa/SOL