Alto Minho em palco

A comemorar o décimo aniversário, as Comédias do Minho depararam-se com duas opções: preparar uma antologia de espectáculos ou construir novas peças, que representassem o trabalho de uma companhia teatral que circula constantemente pelas aldeias dos municípios de Melgaço, Monção, Valença, Vila Nova de Cerveira e Paredes de Coura.

Ganhou a segunda hipótese e o grupo apresenta-se entre hoje e domingo no Porto (e entre os dias 17 e 20, no São Luiz, em Lisboa), com cinco novas criações.

Chão (um espectáculo musical com mulheres de Paredes de Coura), Triatro (ou Auto da Fortaleza de Valença), Chuva (um espectáculo de teatro-dança nas margens do rio Minho), Uivo (uma viagem em Melgaço à procura do lobo) e Volta (um espectáculo de teatro-dança com mulheres de Monção) compõem o cardápio do primeiro grande ciclo desta estrutura longe do Alto Minho, em que o protagonismo vai ser dado a muitas dezenas de amadores e membros de grupos da região. As Comédias funcionam assim: junto das escolas, bandas de música e casas do povo, levando a descentralização muito a sério. Não basta actuar nas sedes de concelho – a mais pequena aldeia tem direito a ver teatro – e, também por isso, o grupo já ganhou o prémio principal da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, em 2011.

“Quisemos retribuir estes dez anos com criações mais ou menos inspiradas por cada um dos cinco territórios, envolvendo amadores – alguns deles com anos de trabalho connosco – e grupos. A equipa de actores residente assumiu a criação dos espectáculos e tem um gesto político: nós, os profissionais, andámos durante o ano pelos salões de tijoleira das aldeias, mas, agora que temos uma aberta nos grandes palcos, pomos lá os amadores e as pessoas para quem trabalhamos”, explica João Pedro Vaz, cuja carreira leva 20 anos.

Neste ciclo, o director artístico das Comédias encena Chão, que é um bom exemplo do modus operandi do grupo: António Rafael, Miguel Pedro e Adolfo Luxúria Canibal (todos dos Mão Morta) compuseram a música de um espectáculo com 68 protagonistas, que tem na origem um livro de reflexões etnográficas do início do século XX. “A criação artística contemporânea é compatível com uma atmosfera rural. Quem espera um espectáculo do Adolfo, com a música no centro e uma figuração colectiva em volta dele, pode vender o bilhete. As mulheres de Coura são as protagonistas”. Chão abre hoje o ciclo portuense (às 21h30, no Teatro Nacional São João), enquanto os outros espectáculos se dividem pelo Teatro Carlos Alberto e Mosteiro de S. Bento da Vitória.