A banca e a ética

Ser banqueiro em Portugal não é hoje factor de grande prestígio. Têm-se sucedido por cá os prejuízos bancários, ao mesmo tempo que o lucro dos mil maiores bancos mundiais cresceu 23% em 2013.

É certo que os bancos nacionais quase não utilizaram os célebres ‘produtos tóxicos’, a partir dos créditos hipotecários de alto risco (subprime) nos Estados Unidos. Contra o que às vezes se diz, a nossa crise financeira teve pouco a ver com a crise financeira global. A crise portuguesa decorreu de um excesso de despesa pública e privada, realizada com crédito barato e gerando um défice externo de 10% do PIB. No sector bancário nacional houve demasiado crédito concedido sem precaução. Daí o nível actual do crédito malparado. 

Mas os bancos portugueses são prejudicados por terem em carteira mais de 30 mil milhões de euros em dívida soberana do país. A separação entre risco do Estado e risco dos bancos ainda não se concretizou. Se houvesse um perdão parcial da dívida soberana portuguesa, a nossa banca ficaria na falência

Mas os banqueiros portugueses (com excepções, claro) foram afectados na sua credibilidade por um outro tipo de sarilhos – do BPN ao BCP, do BPP ao BES. Problemas que indiciam falhas, se não de ordem legal, pelo menos de ética.
Ora na falta de ética também a banca mundial não tem sido propriamente exemplar, antes e depois da crise de 2008.

Muitos banqueiros americanos e europeus concederam irresponsavelmente crédito a quem não o poderia pagar. Venderam e compraram produtos financeiros altamente sofisticados (que eles próprios provavelmente nem entendiam), produtos que se vieram a revelar ‘tóxicos’. 

E a gestão, muito ligada a partidos políticos, de várias Cajas de Ahorro das autonomias espanholas e de alguns bancos dos Estados da RFA não foi exemplar, o que Berlim procura esconder, afastando esses bancos da supervisão directa pelo BCE.

Depois da crise, pensava-se que os banqueiros ganhariam juízo. Mas não houve uma significativa mudança de atitude. 
Gestores de bancos salvos da falência pelas intervenções dos Estados, com dinheiro dos contribuintes, reclamaram prémios principescos. E grandes bancos americanos (como o Bank of America ou o JP Morgan) e europeus (como o Barclays ou o BNP Paribas) envolveram-se em operações fraudulentas ou irregulares. Parece pouco terem aprendido com a crise desencadeada em 2008.

Os bancos não são empresas como as outras. A partir de uma certa dimensão, os bancos tornam-se grandes demais para falirem (too big to fail), por causa do risco sistémico: a falência de um deles pode levar ao colapso do sistema financeiro, por isso os Estados salvam-nos. É algo a que uma fábrica de produtos químicos ou uma empresa de serviços informáticos não podem aspirar.

A esse privilégio – que a união bancária da zona euro deverá atenuar – esperar-se-ia que os bancos correspondessem com uma conduta irrepreensível. Infelizmente, não é o que se vê. Daí as multas elevadíssimas que alguns grandes bancos mundiais têm pago.

Numa área decisiva houve notável melhoria em Portugal: na supervisão bancária que, sob a liderança de Carlos Costa, o Banco de Portugal tem exercido sobre o sector. Não fora esse progresso, o que se passou no Grupo Espírito Santo e afins (PT, por exemplo) já teria causado danos de monta à economia nacional.