Rui Machete: ‘Fui alvo de uma tentativa de assassinato político’

A entrevista teve lugar numa salinha de dimensões relativamente modestas do Palácio das Necessidades, transformada em gabinete, com vista para o Tejo. O ministro ficou sentado num dos maples e, ao contrário de outros entrevistados, que se remexem no assento ou cruzam e descruzam as pernas, manteve-se na mesma posição, quase sempre estático e imperturbável,…

Porque decidiu repetir, 30 anos depois, a experiência de ser ministro?

Primeiro foi a fase do PREC, depois participei no VI Governo Provisório, fui secretário de Estado da Emigração e depois ministro dos Assuntos Sociais. No Bloco Central, fui primeiro ministro da Justiça e depois vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa Nacional. Agora passaram 30 anos e as razões para o regresso foram várias, embora algumas ainda permaneçam no subconsciente. A primeira é que o país atravessa uma época particularmente dramática e, uma vez instado – porque não procurei –, achei que não deveria recusar. Consultei a minha mulher e os meus filhos que me disseram: ‘Do ponto de vista profissional já alcançou muitas das coisas que são desejáveis; portanto, se acha que pode dar uma contribuição, é bom que a dê’. Há uma ideia de serviço na minha aceitação do convite. Por outro lado, quis combater a ideia de que as pessoas, a partir de determinada idade, são postas de parte ou recebem apenas – e agora recebem menos – a caixa geral de aposentações. Esta não é uma ideia que me agrade. Qualquer que seja a fase da vida em que estejam, as pessoas devem sentir necessidade de corresponder aos desafios que lhes são postos e mostrar que estão vivas e são úteis.

Nos primeiros meses do seu mandato esteve envolto em polémicas. Pensou em demitir-se? Pôs essa questão ao primeiro-ministro?

Essa questão está sempre posta. Mas nunca senti que houvesse esse sentimento da parte do primeiro-ministro. E por mim, embora aquilo me maçasse, me aborrecesse e até me enfadasse, achei que devia resistir, demonstrando que se se tratava de um absurdo. Aquilo era uma perseguição política, uma tentativa de assassinato político, como aliás disse na Assembleia da República. Nunca fui um contabilista da minha vida pessoal e portanto nunca liguei muito a ter os papeizinhos todos juntos. Mas ali revelou-se que era muito útil ter os papéis ou ter um contabilista para saber a que preço se vendiam as acções… Depois houve coisas completamente absurdas: pensar que exercer um cargo num órgão consultivo – que era uma consequência das minhas funções de presidente da FLAD – era uma coisa importante no currículo. Fui presidente da assembleia geral do BES, do BPI… e nunca incluí esses cargos no meu currículo. Não porque me envergonhasse deles, mas porque não tinham o significado de outros. Um currículo não tem o historial todo de uma pessoa. 

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