A qualidade de Portugal

Os fenómenos de moda são um verdadeiro pau de dois bicos. Para quem está na crista da onda, tudo funciona bem, mas quem está fora do que é considerado fashion fica com a vida tramada. Não estou a falar propriamente de roupa e afins, falo de tendências que podem valorizar ou destruir outras indústrias que…

Comecemos pelo mundo das conserveiras, onde só em Matosinhos chegaram a existir 60 fábricas. Depois da crise profunda em que mergulhou a indústria das conservas, nos últimos tempos, parece ter recebido um balão de oxigénio. E porquê? Por duas principais razões, entre outras. A crise, que obrigou os consumidores a voltarem a consumir mais latas de sardinha, atum, cavalas e quejandos, e a moda dos chefs internacionais e portugueses que descobriram as qualidades dos produtos que são enlatados em caixas de alumínio e depois cobertas por sugestivas embalagens de papel.

Estes dois factores revolucionaram a indústria conserveira, não sendo também de estranhar a abertura de lojas especializadas, além de restaurantes que funcionam quase só à base de latas de conservas, acrescentando-lhes, é certo, saladas e outros ingredientes que ‘casam na perfeição’, segundo os tão afamados chefs. Será que as sardinhas, cavalas, bacalhau, atum, polvo, entre outros, são agora melhores do que eram há uns anos? Claro que não, até porque a maioria das fábricas que sobreviveram aposta na tradição e na qualidade dos produtos, como sempre o fez. Só que hoje em dia, mais do que nunca, uma boa ideia ou um bom produto não terão qualquer hipótese se não existir uma brilhante campanha de marketing. 

Durante anos tentou vender-se uma imagem de Portugal que não cativava muito os turistas, mas quando se passou para as verdadeiras riquezas do país – locais deslumbrantes, gastronomia e tradição – a economia começou a reagir positivamente. Veja-se, por exemplo, o sucesso das lojas de Catarina Portas, onde as loiças de Rafael Bordallo Pinheiro saem em grande estilo. Parece-me que Portugal começou a ser sinónimo de qualidade em áreas como a gastronomia, com os seus produtos e não com cópias estrangeiras, serviços, vinhos e comida, além do vestuário e outras indústrias. E nada como estar na moda… É preciso é aproveitar. 
vitor.rainho@sol.pt