Prova termina com professores a sentirem-se humilhados e pressionados

A Prova de Avaliação de Capacidades e Conhecimentos foi realizada com serenidade na Escola Básica 2.3 Quinta de Marrocos, em Lisboa, mas no final alguns professores disseram sentir-se humilhados, pressionados e tristes com um exame que consideram injusto.

Prova termina com professores a sentirem-se humilhados e pressionados

Muitos dos professores convocados para vigiar a realização da prova na escola optou por participar no plenário que estava a decorrer no ginásio da escola desde as 09h00, promovido pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), mas a sua ausência não foi suficiente para adiar a realização do exame.

"Poucos colegas foram fazer vigilância, mas também eram precisos muito poucos, apenas oito", disse Manuel Grilo, dirigente da Fenprof que liderou a reunião sindical.

Cerca de 50 professores realizaram a prova nesta escola, em Benfica, onde "todas as salas funcionaram", disse o sindicalista.

Durante a prova, alguns elementos gritavam palavras de ordem como "não à prova", acompanhadas de algumas buzinadelas e mostravam-se indignados pelo facto de os enunciados das provas já estarem a ser divulgados na internet enquanto decorria o exame.

À saída da prova, às 12h30, reinava o silêncio entre os professores, que iam saindo lentamente pelos portões da escola sob o olhar de alguns polícias que estiveram toda a manhã à porta do estabelecimento de ensino.

Professora de Ciências da Natureza desde 2007, Patrícia Gomes confessou aos jornalistas que se sentiu "pressionada a fazer a prova". 

"Senti-me à vontade, mas não me senti satisfeita de estar a fazê-la. Penso que é injusto, porque, sendo uma prova de avaliação de conhecimentos e competências, devia ser para todos", adiantou a professora.

Para Patrícia Gomes e para outros professores que fizeram o exame, esta prova não é uma garantia de trabalho. 

"Não é uma garantia de arranjar trabalho mas, se não a fizesse, possivelmente ficaria impedida de concorrer", explicou a docente.

Margarida Roque, também professora, partilha a mesma opinião: "Apesar de já ter os cinco anos de ensino, fiz a prova (…) mas sei que não é uma garantia de trabalho".

Para Margarida Roque, a prova não devia ter sido feita nos moldes em que decorreu, defendendo que o "mais correcto" seria anulá-la, "independentemente das notas, do passar ou não passar". 

"Já somos sujeitos a avaliações, não temos de estar nesta humilhação de fazer mais provas", comentou a docente, explicando que o problema "não é o exame em si, mas o valor que ele tem".

Sublinhou ainda que "a qualidade é nos professores que se vê" e não nas provas: "O Governo não está a pensar no futuro das crianças, mas ao futuro a que nos vai levar".

Outro professor disse que fez "contrariado" a prova, que considerou "uma imbecilidade à altura do ministro da Educação". 

Para o dirigente sindical da Fenprof, os professores deram uma "lição de ética profissional" ao Ministério da Educação, "que não foi capaz de perceber que não pode ter atitudes ignominiosas como teve com a prova de avaliação de conhecimentos".

Manuel Grilo lembrou que os professores estão sempre a ser avaliados e que "não podem ser vítimas", nem "enxovalhados com esta prova de avaliação" 

"Esta prova destinou-se a humilhar os professores", frisou, comentando: "Professor humilhado perante o país, perante as famílias perde a autoridade". 

"É isto que o senhor ministro está a fazer, retirar a autoridade aos professores", sustentou o sindicalista. 

Lusa/SOL