Contra os fundamentalistas

Não tenho qualquer simpatia por fundamentalistas, sejam de extrema-esquerda, de direita, do Hamas ou ortodoxos judeus. 

Cresci a aprender que um dos bens fundamentais da vida é a liberdade, não aquela que alguns gritam para obrigar os outros a fazerem o que não querem. Falo da liberdade de pensamento que me permite discordar, por exemplo, de muitos amigos e colegas sobre questões tão fracturantes como a droga, aborto, eutanásia, co-adopção por casais homossexuais ou a pena de morte. Nos fóruns onde habito, cada um é livre de pensar o que bem entende e ninguém impõe ao outro coisa alguma. Detesto os fundamentalistas e por isso não consigo solidarizar-me com quem defende as barbaridades cometidas por Estaline, Hitler, Mao Tsé-tung ou Polt Pot, entre tantos outros.

Tenho, como é natural, mais simpatia por quem, apesar de tudo, defende a democracia do que por quem defende regimes totalitários, onde as mulheres não podem ir à escola ou são consideradas abaixo de cão, onde alguém que é de outra etnia pode ser morto à pedrada.

Ao fazer um resumo da semana, lembrei-me de vários assuntos: o avião das linhas aéreas da Malásia que foi abatido, a guerra da Palestina e Israel, o avanço do califa no Iraque, a crise no BES ou os exames dos professores contratados em Portugal.

No que diz respeito à guerra entre israelitas e palestinianos, parece óbvio que boa parte do que aparece nos ecrãs e nas páginas de jornais dá para incriminar o povo de Israel. Mas será mesmo assim? Será que os palestinianos não colocam os (seus) civis em perigo para acusarem os judeus perante a comunidade internacional? Será que os israelitas serão tão bárbaros que atacam propositadamente hospitais civis? Não é verdade que existem relatos, fidedignos, que demonstram que os fundamentalistas apostam em escudos humanos? Sejam crianças, jornalistas ou religiosos. Não são esses mesmos líderes que ‘criam’ os homens suicídas? Que Israel não tem as mãos limpas, é óbvio, mas fazer deles os maus da fita e dos outros os coitadinhos pode ser exagerado e perigoso…

P. S. – Quando é que os professores vão descobrir que quem ensina não pode transmitir a imagem de arruaceiros? Que se deve lutar pelo que se acredita, sem obrigar os outros a pensarem da mesma forma. É assim tão difícil entender que quem não quer fazer greve está no seu direito? 

vitor.rainho@sol.pt